DESEJOS Ouso pedir uma varanda que, do... Sueli de Souza Pinto

DESEJOS
Ouso pedir uma varanda que,
do alto da montanha generosa
descortine milhares de faceiras nuvens.
Ao cair da tarde quero o verde e o vento,
e uma árvore cúspide de frutos
que se adensem amarelos no chão.
Sei que sou efêmera e ignorante,
mais sábia é a lagarta que, de si,
se encobre em beleza e casulo.
A ciência do voo ignoro e invejo,
ser pássaro é pretensão para o futuro,
rasgar o céu em asas cortantes,
banhar-me na água friinha
que brota da pedra sob os pés.
Ah, sossego como te desejo,
plantar canteiros, ler, ouvir música,
bordar, costurar, escrever, cozinhar, ler,
tirar o pó dos móveis, ter um gato
sobre o sofá ronronando calmo,,
e eu passando, como os dias passam,
deslizando pela vida diária de afazeres,
perdendo as formas para ganhar doçura.
Sutis pretensões que se adelgaçam
nos brancos fios de meus cabelos,
que sob a tinta ocultam meu tempo que passa.
O que ardia em mim está silente
por sob a capa madura para colheita e dentes
e há em mim uma eterna semente que suspira
no afã de expor-se ao Sol feliz da vida
os galhos abertos em cruz para o céu
à espera da chuva de verão deliciosa
que já se apronta para descer!
(suelidesouzapinto)