Acordei com um nó no coração e a... Joaquim Silva

Acordei com um nó no coração e a chorar. Como é que se chora ainda a dormir? Não sei mas sei que assim me aconteceu. Lembro cada fragmento, cada imagem do que vi no meu sonho. E ainda me dói agora. Não consigo limpar essa imagem. Tu eras a personagem principal como em todos os meus sonhos ultimamente. Mas neste sonho acabaste com tudo. Com toda a minha alma. E fizeste dela cinza. Arrancaste o meu coração e deste aos cães. Pisaste sem medo sobre os meus sentimentos. Rasgaste, cortaste, amassaste e fizeste lixo de todas as palavras que te tenha dito.
E não consigo apagar o sonho.

Sei que o amor não são palavras. Posso dizer qualquer coisa que o demonstre mas será sempre indiferente para ti.
Quando disse que te queria abraçar falava sério. Mesmo já sabendo que nunca estarias disponível para tal.
Disseste-me um dia que era das melhores pessoas que alguma vez conheceste. Quem me dera não o ser. E assim ter a certeza de te ter ao meu lado neste momento. Aqui e agora. E te poder dar a mão. E sentir o teu perfume. E escutar cada palavra que digas. E ser teu e apenas teu. E assim curar o meu aperto.

Tento fazer desaparecer dentro de mim, este nó que sinto quando vou de encontro à escrita. Mesmo sabendo que apenas me leva de volta ao amor, mas que também me afasta dele. Perdi já a conta as folhas de papel que deitei fora por não terem qualquer sentido, por não serem claras, porque nem tudo o que se escreve tem por vezes as palavras certas, porque por vezes estas palavras são mal utilizadas. Mas em todas elas, em todas essas folhas existe um ponto em comum. Uma pergunta simples, de resposta impossível. “Pergunto, onde está o amor?”

Não sei. Não sei se alguma vez soube. Acredito que por ora não quero saber, e muito menos desejo saber quem sou, nem sei onde me encontrar, nem se quero saber onde me encontrar. Palavras, por muitas que as use serei um idiota, por vezes, por outras talvez um conhecedor da verdade. Custa-me ter razão, e não ter certezas para mim. Custa-me a forma negligenciadora e fútil como os dias passam por mim, olham para a minha vida, e seguem sem terem feito nada por ela.Mas tudo são lições. E com os erros do hoje, vou perceber que o amanhã só pode ser diferente e sempre melhor. Não me martirizo pelos erros, sei que os cometi. Mas aceito-os e olho para eles como meras limitações. Olho para eles com a pretensão de quem deseja um bem maior. O amor…. O amor? O amor existe? Se existe onde esta? Vem de onde? É feito de quê?

Sempre ouvi dizer, sempre li, que o amor existe e esta em tudo, ate no desabrochar de uma rosa, que se abre pela manha de orvalho, libertando o seu nobre perfume. Amor é o nascer do sol em tons de purpura de todas as manhãs. Amor é o esvoaçar majestoso daquela gaivota pesqueira junto ao mar. Mas que sei eu sobre isto?

Quando apareceste, tudo era belo e perfeito. As minhas mãos pousaram calmamente no peito macio, com o dia amanhecer no ritmo certo das conversas, abraços, carinhos embalados por uma música qualquer. Ainda fecho as minhas mãos e ainda sento o toque, mesmo naqueles dias de chuva em que se calam as vozes de quem supostamente sentiu o amor. Ponho de lado as palavras, na esperança que inspiração venha algum dia em minha direcção, não ergo muralhas contra este inimigo, apenas me sento na esperança de me recordar de como noutros tempos me esqueci de outras almas que julguei amar.


De onde vem este sentimento? De onde vem este nó? Que fogo é este que me consome lentamente? Que vontade é esta de correr naquela direcção? Não faço ideia, mas tenho de aceitar. Tenho de viver com todos estes sentimentos e rir e chorar deles. E por fim viver. Mas nunca esquecer. E isso, esquecer, é impossível. Porque a felicidade é momentânea mas o amor, esse é eterno! Mas que posso eu argumentar sobre algo que julgo apenas saber?...