Inexorável Há algum tempo não tenho... Benicio Targas

Inexorável

Há algum tempo não tenho inspiração. Ultimamente o frio tem sido gentil, os ventos uivam sobre mim. O outono e o inverno são meus habitats naturais. Nesta época é quando me sinto mais vivo. O frescor da manhã tem me acariciado, proporcionando novos fluídos em minhas veias. Penso muito no que virá amanhã e não me atento a nada que construiria hoje a realidade dos meus pensamentos futuros. Do que me adianta a diferença do óbvio se me traz à tona o quanto gostaria de ser enraizado da mesmice, a felicidade na ignorância.
Olho pra minha mãe e a invejo. Quanta simplicidade, apesar da vida ter sido dura em sua juventude, vejo em seus olhos uma forma nobre de enxergar a vida. Gostaria de ter herdado seus olhos. No meu coração pulsa a ambição paterna deixada como legado de realizar meus sonhos simplistas que exigem o sacrifício de muitos que amo, por uma questão de moralidade que infesta minha sanidade e cria barreiras impedindo de tomar alguma atitude. Isso eu herdei da minha querida mãe.
Gosto de me agasalhar e ter que cobrir todo o meu corpo quando o sono vem à tona. Sinto palavras emergirem da escuridão violeta no meu quarto, é como se eu ainda enxergasse algo naquele vazio. Minhas pernas tremem ansiando levantarem antes do amanhecer para registrar os absurdos do meu cérebro. Minha paciência está esgotada. Sou o próprio carrasco da alma. Aprisionado em meu próprio circulo.
Sobrevivendo, tentando manter a forma e a respiração no tempo certo. Nunca vi um cego gordo, isso explicaria muita coisa.
Dizem que é o carma. Há muito sobre minhas costas, não acredito em misticismo, mas acho tocante e tenho apreço quando encontro outros que vivem e disseminam suas crenças. Inconscientemente sou responsável pelo veredito de três pobres almas, não basta apenas me infectar, a reação tinha que ser em cadeia?
Qual é a pergunta da sua vida? Mesmo algo simples eu creio que não sou apto pra responder, minhas sílabas são ácidas. Realmente nunca vi um cego gordo, talvez alguém um dia me apresente e isso explicaria muita coisa.
Eu gosto do outono, mas amo o mesmo o inverno, eu me identifico com sua frieza de atingir a todos, mesmo sem ser convidado.