“Eu espero por novos sorrisos. E quem... Amanda Seguezzi

“Eu espero por novos sorrisos. E quem não espera? Por novas cores, novos hábitos. Eu espero um “bom dia” de quem eu não conheço, um “dorme bem”, mesmo que eu desconheça a sensação disto também. Eu espero que a semana acabe rápido, mas que as horas felizes sejam eternas. Eu espero um dia cinza, um livro bom. Eu espero uma amnésia boa. Eu espero por não saber o que fazer. Eu espero ser a espera de alguém. Eu espero que o café não siga o meu exemplo e não esfrie também. Eu espero não tremer com um nome, que as pernas não se arrepiem com uma presença. Eu espero uma risada alta quase que o tempo todo. Eu espero me perder para me encontrar, me encontrar para me desfazer. Eu espero por dias melhores. E quem não espera? Por obras do acaso, por novos acasos. Eu espero que o meu cabelo cresça mais rápido do que as minhas paranoias e que eu mantenha a promessa de deixar as unhas crescerem assim como as minhas certezas, as quais também espero. Eu espero ganhar na loteria, viajar o mundo sozinha, aprender mandarim. Eu espero por um dia de chuva, um céu escarlate. Eu espero por nuvens tão carregadas de tristeza quanto eu só para não me sentir sozinha. Eu espero que os minutos não gritem até o tempo ensurdecer, que o tempo não se cale como a minha voz, que não se intimide com o meu silêncio e siga a diante como tem que ser. Eu espero por uma primavera cheia de flores para me lembrar que mesmo no meu desalento mais profundo, o mundo é tão exato, tão bonito. Eu espero pelo outono para me reestruturar assim como as árvores dos parques. Eu espero alguém que não me abandone por não me entender, que não me entenda e mesmo assim não consiga se desfazer de mim. Eu espero por uma adrenalina que sinto mesmo parada admirando de longe um clandestino que me faz mal. Eu espero sentir de novo a vontade chorar como a chuva , do afeto de um raio de sol. Eu espero que as guerras do meu mundo cessem. Eu espero esquecer um perfume, esquecer uma valsa e qualquer outro vestígio que impeça a liberdade do pensamento. Eu espero voar como um pássaro. E quem não espera? Por uma chance de descobrir o que ninguém nunca pensou em procurar. De curar doenças, de ouvir histórias de amor e dizer que plural é sempre bom, mesmo que isso vá contra os meus novos princípios. Eu espero um mundo bordado de pontes sólidas e olhares sinceros. Eu espero um mar que não cante os versos que eu quero esquecer. Espero novas notas nas ondas, que a areia misturada ao vento não machuque as minhas lembranças, mas que também as carregue junto da brisa contrária. Espero o verão para aliviar o pânico e me mostrar que até o tempo tem a chance de ganhar uma hora a mais, que o tempo não faz diferença pra quem não tem nada a perder. Eu espero uma madrugada tão agradável quanto um abraço inesperado. Eu espero um abraço que eu nunca senti. Eu espero que o passado não me corrompa a cada meio segundo. Espero um antídoto para a minha arritmia e para as faltas de ar. Eu só espero que o frio permaneça, mas que o gelo passe para que eu possa sentir de novo. O que, por enquanto, não me importa mais.”