A verdade que eu sempre evitei. Dizem... Amanda Seguezzi

A verdade que eu sempre evitei.

Dizem que para tudo que olhamos ao nosso redor associamos a algo que a gente ame muito. Eu vejo palavras, um colorido de metáforas tão rápidas quanto um sonho bom. Admiro um mundo encantado no mesmo ritmo em que o bordo com as mais belas estrofes de tristeza bonita. Percebi então que até o céu ficava triste, e quando ele chorava, eu chorava junto, Quando as nuvens se esbarravam num trovão eu os descrevia na tenacidade de uma lágrima também. Chovia em minhas folhas rabiscadas de incertezas um bocado de palavras sem sentido, tempestade tenaz, sublime. Sentia amor nisso também. Então talvez, só talvez, o amor seja cego, inescrupuloso, cruel, ou quem sabe, amor seja algo grandioso, sem significado algum mesmo, algo que não podemos tocar e que nos encanta justamente pelo impossível. Talvez, por uma fração de segundos, esse impossível fosse logo ali, na segunda rua à direita. E aproveitando o embalo das impossibilidades, dos males que habitam o intocável, aproveitando a deixa dos gritos que transpiram em mim feito poema, ouso até a dizer que amor é quando eu escrevo uma poesia no céu e ela dispersa nas nuvens. Sorrio para o impossível, e também para o horizonte acompanhado dos mais belos versos que alegram os meus dias. Isso é amor, amor de poeta, doença curada com doses e mais doses de contos de fadas. Quem sabe o amor esteja nos olhos de quem vê. Quem sabe o amor que eu sinto por tudo que me remete à escrita tenha lhe moldado perfeitamente para mim assim como um perfeito dueto. E eu via amor, nas palavras, nos prédios, nas ruas. Nos muros pichados, nas árvores secas. Eu via amor em tudo o que eu podia eternizar em poesia, em tudo o que eu não podia conter. Acho que você sempre se encaixou nessa categoria, b’shert. E foi ali, no meio do fogo cruzado sem guerra que eu preparava o meu antídoto com o teu veneno. Numa puxada de ar consegui sugar todas as palavras que sempre quis te dizer, mas nunca tive coragem. Enquanto as desembaralhava e as encaixava tentando, ao menos, montar um quebra-cabeça sem sentido, questionava há quanto tempo minhas vontades estavam escritas na palma da tua mão. E eu, que sempre fui ímpar, vê via perdida nos cálculos que fariam o teu caminho cruzar com o meu. Seria tão mais fácil encontrar alguém com o teu nome, com o teu cheiro, tuas verdades. Ilusório vício de querer ser o teu vício. Seria tão mais fácil eu te encontrar, sussurrar o teu nome, apreciar o teu cheiro e ser a tua verdade. Não conta pra ninguém, mas você ainda é a minha. Tinha medo de quê outra pessoa decorasse as tuas monomanias assim como eu fiz. Tinha medo de quê você gostasse tanto desta pessoa que esquecesse as minhas também. Teu orgulho é tenaz, granada de indiferença prestes a explodir.
E eu nem ligo.
Suas asas prateadas lhe impulsionaram ao longe de onde não estou, se é que o céu é o seu lugar.
E eu nem ligo também.
Por que sei que nós vamos repetir os mesmos erros tendo em vista que os novos erros ainda estão lá prontos para serem cometidos. Vamos sumir de vista, mas nunca do coração de quem amamos. Vamos pegar o ônibus errado, rir na hora errada, acordar na cama errada, mas teremos a audácia de tentar consertar as coisas e atribuir um colorido nesta rotina tão cinza. Vamos tentar amar o que nos convém e não apenas usar o que pensamos ser o amor. E descobri-lo, sabe, re-descobri-lo e descobrir de novo. Mudar o rumo num segundo, aproveitar as horas, aproveitar as oportunidades. Vamos assumir os nossos enganos, aceitar o peso da bagagem que por obrigação ou descontentamento carregamos nas costas. Vamos sorrir com a boca mesmo quando o sentimento não dominar o espelho da alma também. Porque, uma vez eu ouvi dizer que somos reféns das nossas próprias vontades, somos linhas desconexas de impulsividade o tempo todo. Decepções são inevitáveis, mas a tristeza é opcional.

Devagar com a solidão, menino, ninguém é feliz sozinho.