A lama... Ao sentir e perceber a chuva... Laécio Malta

A lama...
Ao sentir e perceber a chuva cair solitária e silenciosa sobre o chão inerte e firme, me coloquei a pensar o que seria a lama a se formar a partir da maravilhosa e harmoniosa união de três elementos: a terra, o ar e a água. Percebi que a
Terra é passividade, é acolhimento feminino, ternura e encanto, é a fertilidade e a reprodução da vida, de experiências, subjetividades, amores e emoções. É o calor materno que nos aquece, e que quando distantes de nós, nos faz verter lágrimas por toda a face imortal humana, por nos sentirmos desamparados, desprotegidos na imensidão do mundo, obscuro, mundo este, ainda por nós não totalmente desvendado e conhecido. É também a sepultura de nossas vivências, mas também permanência e lembrança eterna.
Ar é sopro, vento que leva o vivido e já experimentado, mas também, traz as reminiscências amargas do passado, e as doçuras presentes apenas em vagas e alegres marcas na profundidade da imaginação, o lugar invisível aos olhos carnais, que visita o tempo ido e não mais vivido, a fim de buscar inspiração para prosseguir em direção ao futuro.

Água é fragilidade a percorrer a vida humana, intensidade a nos envolver em sua limpidez. Água, onde nada em sua superfície se esconde, entretanto, sua profundidade guarda os mais insondáveis mistérios. Seu leve e constante movimento, a nos mostrar a efemeridade da vida, dos sentimentos, das ideias, dos amores, dos encantos, percorridos por todo o sempre do nada a se construir no agora, somando-se no presente e constituindo-se no tudo. Sua brancura e brilho a lavar as manchas humanas e suas imperfeições, renovam os espíritos presos em matérias mortalmente adiadas.
A lama é a união desses amantes, preciosa, e muitas vezes não observada, despercebida, mas presente, fruto da relação e do amor da terra, do ar e da água, que se unem por um instante, e que ao se separarem desejam logo em breve se encontrar e se envolverem na magia da natureza.