A vida por si só ultimamente já... Leone

A vida por si só ultimamente já parecia bem ruim de novo. Menina mimada, só queria saber da vida quando lhe sorriam, eu pelo menos, não a culpo. Eu jamais a culparia. Enfim, o caso é que eles não estão mais juntos. Ou estão? Eles não sabem dizer. O caso é também que os monstros dela a assustam demais, a assustam às três, quatro da manhã, a derrubam da cama. Amor é coisa tão complicada... Talvez a pior parte de ter um coração partido, é não se lembrar como você se sentia antes disso. E era exatamente assim que ela se sentia. “Ele já havia dado o que tinha que dar”, pensava ela. Ele sempre ia longe demais. Ele sempre a magoava demais. E o fato dela o perdoar sempre tava deixando ela maluca. Não, maluca, mas sim, maluca. Ela queria ir embora, de verdade, mas esse amor meio doente que ela tinha não deixava. Ele é simplesmente o ar da vida dela. Mas não está bem. Eu vejo isso nela, vejo isso no que ela fala, no que ela diz sentir. E morro de pena, morro de pena de ser tão jovem e ser tão assim... Tão marcada. Ela só queria uma vida normal, sabe? Ter filhos, construir um futuro bacana... Mas parecia que tudo conspirava contra isso, era basicamente impossível isso pra ela, e ela lutava contra essa pré-destinação, ela queria provar a algo ou a alguém que ela era capaz de ser feliz, mas sempre algo a travava. Era como viver presa na marcha ré. Ela sentia raiva porque ele sabia que ele poderia ir embora, pra onde quer que fosse, que ela ainda sim estaria ali, e isso a deixava mais com ódio que nunca, porque ela QUERIA ir embora, mas ela não conseguia. Enquanto ele poderia ir embora a hora que quisesse. Mas será? Será que ele conseguiria ir assim, tão bem?
Melhor um contar um breve resumo da história deles só pra você não ficar totalmente perdido. Ele traiu. De novo. Ela perdoou. De novo. Ele acusou ela de não amá-lo mais, sendo que um dia anterior ele tinha a traído. E traído de novo. E escrevendo isso eu me sinto um lixo, porque eu de certa forma sinto o que ela sentiu. E ainda sente. Ele, de alguma forma, destruiu tudo de bom que havia dentro dela, que já não era muita coisa. Infelizmente, isso mudou muita coisa dentro dela, porque ela sente que todo dia se deita numa teia de aranha, fina e prestes a arrancá-la pra um buraco fundo e negro. Dramático, né? Mas é exatamente como ela se sente. Ela vive com medo de que ele cometa mais algum erro, porque eu acho que ela simplesmente não iria aguentar mais. Ela já se sente mal o suficiente por ter perdoado ele, mas sabia que tinha que perdoar, sabia que ela precisava dele. Porque ela o amava tanto. Mas por outro lado, ela tinha todas essas coisas dentro dela que ela jamais diria a ele porque morre de medo de magoá-lo, em contra-partida que muitas vezes ela pensa que ele não tem esse medo. Quando ela se lembra de tudo, de tudo, ela vai ficando pequena, ela vai implodindo de novo... Bem devagarzinho. Ela vai vendo a vida correndo diante dos olhos dela, sem conseguir reagir. É tanta coisa nessa cabeça dela, que eu nem me atrevo a dividir com você. Porque você não entenderia, você nunca entende.
Ela está tão apaixonada que não aguenta deixá-lo ir, e ele ainda diz que ela apenas é uma obsessão. Ele diz que não, não é amor. É apenas sede de uma coisa que ela não tem. Imagina, ouvir isso da pessoa que você ama? Nada estava contribuindo mais. Ela tava cheia demais disso tudo. Ela precisava gritar umas verdades na cara dele sem que ele fosse embora. Ou sem que ele ficasse com raiva demais e a traísse de novo. Era como viver pisando em ovos. Ela, se possível, não se importaria em tê-lo pra sempre, em dividir sua vidinha com ele, do jeitinho que ele quisesse. Lavaria a roupa do jeito que ele gosta, faria a comida que ele gosta, ia até fazer as vontades esquisitas dele, se assim o deixasse feliz. Desde que ele a valorizasse, desde que ele não a magoasse mais, porque ela simplesmente tava acabada. Ela fingia que tava tudo bem, mas ela via pelos pesadelos que ela tava se enganando, e enganando a ele ao dizer que ela estava bem. Mentira. Ela não tava. Mas ela queria estar, porque não queria irritá-lo com tudo isso. Ele já tinha stress demais na vida dele, e ela não queria ser mais um, até porque todo mundo apenas quer se livrar dos estresses diários, e ela não queria que ele se livrasse dela. Ela não queria ser um problema pra ninguém, ela queria ser um ponto de paz, pra ele; assim como ele, de certa forma, era o dela. Ficava tudo bem quando eles estavam juntos, ela conversava, ria, ela fugia de uma realidade que ela anseava por mudar. Mas aí quando ela tava sozinha, às 3h, 4h da manhã, hora que ele pensa que ela tá dormindo, e na verdade ela tá sentada no banheiro chorando, ela vê que ela precisa fazer alguma coisa. Ela vê que não tá bem. Ela vê que ela precisa de ajuda. Ela precisa de algo que a salve de novo. E ela precisa que seja ele. Ela precisa que ele tenha paciência, ela precisa que ele não vá embora. Mesmo que ela mande ele ir, mesmo que ele queira ir, ela não queria que ele fosse, ela não quer ficar sozinha. E isso é tão triste, sabe? Porque um dia ele sabe que ele vai acabar se cansando dela. Ela sabe que, um dia, Belchior não vai tocar mais nele. Sabe que, um dia, fumar vai ser um hábito normal, não uma coisa meio deles. Ela sabe que, um dia, ela vai cair no esquecimento dele, sei lá... São tantas as coisas que acontecem às 4h da manhã, segundo ela.
Mas apesar de tudo, ele era o amor da vida dela. Ela desejava acordar com ele todo santo dia. E os não santos também. Queria nos dias frios se enrolar com ele, debaixo de um monte de cobertor. Ela queria escutar os problemas dele, e escutar as alegrias. Ela queria fazer coisas simples com ele, como ir ao mercado. Como cozinhar juntos. Como ver um filme juntos. Porque pra ela, o que cativava mesmo era a simplicidade. O que cativava, pra ela de verdade, era o amor sincero. Não aquele faz viagens todo santo mês, que precisa de coisas caras e um monte de enfeites. Claro, isso às vezes era bom, mas o que a agradava de verdade era a simplicidade. Era um pôr-do-sol juntinho. Era aquele plano pro futuro meio sem pé nem cabeça, era aquele beijo de forma inesperada. Pra ela, o que mais cativava era a cara dele amassada quando ele acorda de manhã, era aquela voz grossa ao pé do ouvido, às 7h da manhã. Pra ela, era isso o que valia. E era isso que tava salvando ela esse tempo todo, era saber que ele realmente é uma boa pessoa. E enquanto houver razões, ela não vai desistir, porque sabe que no fundo, por ela, ele sente o maior amor do mundo.