O que está acontecendo? Vejo a... Joceildo Filho

O que está acontecendo?
Vejo a diversão de uns em troca do sofrimento de outros...
Vejo a paranóia da modelagem...
Vejo a era do imediatismo...
Do conformismo...
Do consumismo...
Do coitadismo...
Vejo bonecos de ventríloquos serem reconhecidos como heróis...
Vejo o tempo fracionado, às vezes com lágrimas, outras vezes como um mar vermelho de montanhas brancas...
Vejo que o escuro mostra claramente o que o claro esconde as escuras...
Posso ver uma lua minguante no rosto dos passantes...
Posso ouvir as imagens...
Enxergar os sons...
Posso sentir o sangue frio e assustado saltitar em minhas veias...
Me contorço! chego a ter taquicardia com o som ensurdecedor dos meus pensamentos...
Sinto o vento deslizar desesperado sobre a minha pele...
Fugindo?
Fugindo da ignorância!
Vejo pessoas sendo domadas por máquinas...
Vejo máquinas montadas sobre pessoas...
Foram criadas por nós...
Estamos a ser substituídos por elas...
Olhe para os pássaros!
Ouça seus cantos!
Não são mais os mesmos, pedem socorro através deles...
Onde estão as peripécias?
Você as viu por aí?
Vejo células cancerígenas contaminarem sutilmente as partituras...
Observo o mar lacrimejar silenciosamente às escondidas...
Assisto ao sol proclamar para a lua que não a empresta mais o seu brilho...
Vejo as nuvens se recusarem a decorar o céu...
Vejo seres pensantes sendo asfixiados com seus próprios pensamentos...
Vejo a espécie humana distinguindo-se em várias outras...
Vejo um simples papel sentar-se no trono como o deus das nações e para adorá-lo noto uma corrida de velocidade em que no final da prova completa-se com um salto em profundidade...
Vejo o motor do orgulho, auto-suficiência ser ativado pelas engrenagens do ódio, individualismo, preguiça, ambição, inveja e sendo movido com o combustível da competição...
Posso ver crianças, jovens e adultos, idosos se lambuzarem com o prazer imediato e envenenando-se com a cicuta da infelicidade...
Vejo muitos rodeados por multidões, mas sozinhos, isolados e abandonados dentro de si mesmos...
Ouço a arte gemer de dor...
Assisto as drogas cantarem alegremente...
Vejo grupos se digladiando por almas...
Vejo a música sendo afogada...
Vejo olhos vomitando lágrimas...
Vejo lágrimas vomitando olhos...
Vejo a separação...
Exclusão...
Eliminação...
Insatisfação...
Sinto medo de chegar em casa, de tocar as portas, paredes, janelas, os retratos entreolham-se sufocando-me...o silêncio é ensurdecedor, apavorante e golpeia-me com suas vibrações...
Vejo palavras vazias...
Sorrisos programados...
Atos ensaiados...
Mentes ajustáveis...
Vejo o capitalismo da mentira...
Milhares moram em palácios, porém habitam o anonimato...
Vejo o ser mutilado!
O ter exaltado...
Vejo a humildade esquartejada!
A arrogância endeusada...
Vejo a simplicidade amordaçada!
Os disfarces adorados...
Vejo a alegria sendo sepultada!
A falsidade almejada...
Bebemos e degustamos aos poucos do líquido da morte!