MECÂNICOS DA VIDA Quando sinto que algo... Rogerio Dutra

MECÂNICOS DA VIDA

Quando sinto que algo está errado no meu carro, levo-o na oficina e no caminho vou decorando a história, narrando pra mim mesmo as falhas e barulhos que ele anda fazendo. Na minha cabeça sempre acho que o mecânico vai sacar na hora qual o defeito, até mesmo porque ele deve estar habituado a resolver vários problemas automotivos né. Vou dirigindo e falando sozinho, fazendo a sonoplastia dos barulhos e grilos que ouço. Uma garota do carro ao lado riu e deve estar achando que sou doido. Também dou risada e lembro que várias vezes, por mais que eu me esforce nos sons, o mecânico sempre me olha com cara estranha e não entende lhufas; minha esperança de não ficar a pé vai por água abaixo e sempre ouço: "Tem que deixar o carro pra dar uma olhada". Quando a oficina é boa, está sempre lotada.

Quando estou sentindo algo estranho no meu corpo, procuro um especialista no google ou na lista do convênio, mas já sei que se o médico for bom, a secretária vai dizer que só tem horário para aproximadamente daqui um mês. Me dá vontade de responder: “Daqui a um mês, ou eu já me curei sozinho ou já morri né”. O pior é que, se a a consulta for com um Clínico Geral, depois vou ter que marcar com um especialista, e não vou escapar da mesma narrativa.

No caso de uma urgência, dependemos da sorte desde a chegada à emergência. Já fiquei horas esperando na sala e enquanto aguardava, decorava os sintomas pra falar ao médico: Dor de garganta, uma fisgada ali, minha cabeça dói aqui, falta de ar e etc., com a esperança que ele faça todos os exames necessários pra achar o que está errado, mas quando sou atendido, a consulta não leva mais do que 5 minutos. Toma isso, aquilo outro e se não melhorar em 3 dias, retorna aqui.

Já me aconteceu várias vezes do mecânico liberar meu carro, dizendo que estava consertado e ele voltar no guincho pra oficina...

Já ouvi várias histórias de pessoas que foram liberadas do hospital e nunca mais voltaram.