Se Não Fosse o Pai À noite era como se... Johnny Kwergiu

Se Não Fosse o Pai

À noite era como se tudo fosse feito para acabar. Os sonhos, os cheiros, as vozes.
Bem simples, cobrava eu o estado natural. Um negro vivo, alguns pontos luminosos e uma bola branca deixando a iluminação pública no chinelo.
Sempre chamava Jugie para contemplar esse nada. Ela corroía comigo pedaços minúsculos de tempo. Um dia disse gostar de mim, o que foi bom, porque eu também gostava dela.
Em umas dessas noites perdidas, resolvemos falar a verdade em forma de vergonha. Nosso silêncio contornava os risos indecisos. Quase saiu um beijo, se não tivesse saído um grito grave da casa dela. Uh!
Ela tinha ar de moça velha. Digo, uma menina sabida das coisas. Criei asas ao vê-la voar contando como fora roubar os brincos da irmã. Eu gostava de uma criminosa. Meu Deus! E ela estava tão bela, os brincos da irmã a perfumaram.
A noite nos cobria de vontade. Poderíamos matar, roubar, fazer horrores sem que ninguém percebesse. Havia um limite, claro.
Mas minha vontade maior era a mesma dela. Eu já estava cansado de namorar aqueles lábios sem provar o gosto. E Jugie quase me comia vivo com seus verdes venenosos.
O problema é que sempre fraquejávamos. Nenhum passo a mais. Algo tinha de ser feito.
Pensei em ideias absurdas, o que me fez parar na hora. Deus castigaria só meu pensamento.
Já ela, foi mais feroz. Até assustei. Pegou-me pelo braço e disse para correr até o galpão do vô Juca. Ficava nos fundos da casa dela.
Chegando lá, esbaforido, descansei com o seu pedido.
Seus olhos brilhavam e a maldade inflamável me excitava. Os passos de Jugie se aproximavam do meu espanto. Ela vestia um moletom preto com alguns dizeres em inglês... Algo como o nome daquela banda em que o vocalista tem um língua enorme e se maquia todo. Doideira total.
Jugie venho ao pé da minha orelha e começou a suavizar meu medo. Falou da noite, que não poderíamos perder aquela chance. A lua, as estrelas, os sonhos. Ela queria ter comigo o primeiro beijo dela. Espantei de novo!
Jugie poderia ser ladrona e tudo, mas assuntos do coração ela reprovara algumas vezes. Nunca amou, apenas gostava. Era diferente para ela.
Então ela pegou minha mão e entrelaçou seus dedos aos meus. Os apertou tremendo um pouco. Eu fiz meu nome soar como proteção. Contei que com Joke ela poderia confiar sempre, que nem as estrelas esperançosas do Sul.
Jugie chegou mais perto. Sua mão esmagava a minha, mas dane-se tudo, a dor era prazer naquele momento. Seus olhos se fecharam e eu fiz o mesmo. Faltava pouco para mais um roubo dela. Um, dois, três... JUGIE! TÁ NA HORA DE DORMIR! VEM.
Droga! O pai dele não poderia dormir mais tarde, não?
Pelo menos a mão dela tatuou na minha e o cheirinho do cabelo ficou no meu casaco.
Disse tchau sem beijo mas com ideias para os sonhos durarem uma semana.