Vivo num silêncio que qualquer surdo... Eder Moreira

Vivo num silêncio que qualquer surdo enlouqueceria, por não ouvir nada ou por ouvir apenas ecos, ruídos. Nada de muito escandaloso. Vivo num mundo todo meu, todo fechado, e qualquer pessoa que tente me desvendar, vai se deparar com infinitas ruas sem saídas. Posso te garantir, nem a pessoa que mais me ama, suportaria viver nesse mundo, é tão meu, é tão eu, e de mim, as complicações são naturais.
É tudo um tanto sombrio, é sempre noite, pelo menos é o que parece quando estou acordado. Não há pessoas perambulando por aí. Se alguém está na rua, é porque tem um bom motivo pra ali estar.
O medo se torna aliado quando a coragem parece suspeita. Desconfiar da própria sombra, parece tão comum quando se vive mais que o necessário. Sempre me certifico se estou realmente sozinho, e é isso que reforça a minha segurança. As pessoas me magoaram demais ao longo da vida, e por mais que eu queira confiar em alguém, não consigo, não me esforço pra dar de bandeja um sentimento que me deixaria vulnerável, eu não confio em ninguém, e por diversas vezes, nem em mim mesmo.
Cercado de enigmas, de dúvidas, passo a noite inteira buscando respostas. É aterrorizante perceber que pra cada resposta que tenho, outras milhares tomam seu lugar. Tenho andando de cabeça baixa e isso já tem algum tempo, não quero o olhar de ninguém me assombrando ou me conquistando, pois se me lembro bem. Foi assim que meu sofrimento começou.
O tempo é todo estruturado, tudo geralmente tem seu tempo certo pra acontecer, se algo deu errado. É porque naquela hora, naquele instante, não era um bom tempo pra aquele momento acontecer.
Nesse meu mundo vivo me questionando, se estou no mundo certo, se estou no tempo certo, se fiz as perguntas certas e respondi algo do modo certo. Quero muito saber se algo deu ou vai dar certo. Porque na vida, ninguém deseja morrer errado desdo dia em que nasceu.