Eu me importo se tem guardanapo na mesa... Elisa Caetano

Eu me importo se tem guardanapo na mesa para meu amigo limpar a boca. Eu me importo se me esqueço o aniversário de alguém importante para mim. Eu me importo se alguém querido sai de casa e não leva uma blusa mais quentinha, e eu me importo em acompanhá-lo até a porta, e em lhe dar um beijo, e em desejar bom dia. Eu me importo se é o casamento de alguém especial e eu não posso honrar o convite. Eu me importo em ser eficiente, mesmo que eu seja uma só. Eu me importo em dar flores, e em escolher uma embalagem bonita e um laço que combine. Eu me importo se uma pessoa manda uma mensagem e eu não consigo responder. Eu me importo se a atenção que eu gostaria de dar não é recebida por quem eu amo. Eu me importo se não faço do dia de quem está comigo mais especial. Eu me importo com palavras duras, embora as diga, já que, como a flecha, não há como retornar com elas, mas ainda existem as desculpas, e eu me importo quando não as peço. Eu me importo com a roupa que vou usar hoje, e se ela está passada, e se meu perfume está na medida e não vai invadir o espaço alheio. Eu me importo com o que vou escrever para um amigo que é comprometido, pois quem está com ele pode interpretar equivocadamente, e eu posso envolvê-lo em um transtorno desnecessário. Eu me importo se tem alguém doente e eu não sei dar assistência. Eu me importo em presentear, e me importo se o presente, por mais simples que seja, vai agradar, e me importo se ele virá acompanhado de um cartão. Eu me importo se o amor não é correspondido, porque pode não haver uma segunda chance, e uma terceira, e uma décima. Eu me importo com momentos não vividos, eles não voltam mais. Eu me importo com escolhas irresponsáveis, porque a outra opção poderia ser muito, muito melhor.
Eu simplesmente me importo.