Abri a porta dos fundos Porta que dá... Beatriz Fagundes

Abri a porta dos fundos
Porta que dá para um mundo
Onde a fé nunca existiu.

Dou de cara com o cinza
Onde não se veem estrelas brilhando
Nos olhares das pessoas descrentes
Só brilha no céu
A esperança
Que se esqueceu de ir ao chão.

Desistem antes de tentar
Abaixam a cabeça no primeiro tropeço
Não sabem do Arquiteto do Universo
Nem do pontapé, O Começo.

Se perca e é tido como morto
Ame e é tido como louco
Destrua e engane
Aí será normal
Num mundo onde vence o mal
E o bem não faz parte da batalha.

Plantei no chão cinza
De terra infértil e seca
Uma flor amarelinha
Onde brota a esperança
Na sutil tentativa
De brotar nas mentes
Uma cor viva que brilhe no escuro.

Nada nasce
Pois só chove
Uma água que corrói
E não alimenta
Não ressuscita
Os rios mortos na puberdade.

A fumaça das fábricas invade os pulmões
Embaça a visão
Mas não faz tão mal
Quanto a desunião
De quem deveria se juntar
E passar a acreditar
Que a vida não acaba
Com o fechar longo dos olhos.

Os dias passam voando
Neles
Poucas palavras são ditas
Entram por um ouvido e logo saem
Correndo
Para procurar um lar
Onde a chuva caia limpa.

Pessoas robôs
Trabalham para pagar
O jantar no restaurante
Para impressionar
A amante
Louca
Por amar
E se perdeu
Morreu
Num mundo onde a fé não existe.