Ando embaraçada. E me perco nas... Beatriz Fagundes

Ando embaraçada. E me perco nas histórias. Minto e acredito. Escondo e não acho. Escrevo e não entendo. Ando embaraçada. Tropeçando no ar e segurando nas palavras para não cair. Choro por causa da curta vida da borboleta. Enraiveço-me com um bom dia atrasado. Ando embaraçada. Sem querer amar ninguém, só o sono, que vez ou outra vem, pra aliviar meu dia amarrotado de barulho. Silêncio, se eu pudesse viver nele… Sem ninguém pra me acordar de um sonho comprido. Sem ninguém pra dizer que hoje o meu cabelo está de mal comigo. Sem ninguém pra cobrar nada de mim. Ando embaraçada. E meus dias estão mais secos, sem encontros inesperados, sem beijos roubados, sem carinho nas maças do rosto. Ando embaraçada. Muito quero, até conseguir, depois a graça de esvai. Sou contraditória. Quero pessoas até que elas sejam minhas e quero silêncio, silêncio com cor, mas eles não andam lado a lado e eu ainda insisto em apresentá-los. Ando embaraçada. E fico sempre estressada, quando gosto de quem não está nem aí. Fico fraca, chorona e não me reconheço no espelho. “Não sou eu aqui”. Ando embaraçada. E um tanto cansada de nunca cansar de quem, tão rápido, se cansa de mim.