Confesso abertamente que muitos... Priscila Caldas

Confesso abertamente que muitos sofrimentos e desgastes poderiam ser evitados se eu simplesmente dominasse a arte de deixar ir. Parece simples, mas toda vez que algo ou alguém chegava na minha vida e me proporcionava momentos únicos e maravilhosos, eu logo reservava uma suite presidencial no meu coração. O que era considerado inocência de minha parte à alguns, pra mim não se encaixava em categoria nenhuma - eu simplesmente era assim em relação às pessoas. Eu acreditava. Eu fazia planos. Não pensava em finais ruins e para pessoas muito intensas aliás, até as partidas momentâneas são muito difíceis de digerir. Se alguém dizia "vou dormir" eu queria "dorme não".
Mas aí vem a vida, escola como nenhuma, e às vezes nos faz nos sentarmos à força numa cadeira dura e além de ver e ouvir, sentir cada detalhe das lições essenciais que ela tem a nos ensinar.
E a mais dura pra mim, foi e tem sido a lição: DEIXAR IR
Putz! Já sentiu que algo fugia ao seu controle?
Vai fazer essa mente, esse coração entenderem isso.
É um processo quase enlouquecedor!
As coisas não poderiam ser simples como um barquinho de papel que colocamos na água e o fluxo natural o leva? E eles vão até que alegres, aceitam o destino de barco de papel que são.
Mas não! Até que aconteça essa "osmose" com o fluxo da vida, cada um leva um tempo e o meu tá em andamento. Minha tendência a me agarrar nas pedras no caminho é inegável.
Nunca consegui aceitar facilmente as pessoas que amei e se foram. Os momentos que vivi e não se repetiram. Não que o novo não me interesse. Mas eu não sou do tipo que troca o antigo pelo novo quando se trata das pessoas, por exemplo. Sei que tá cheio de teorias por aí, sei que os momentos são inesquecíveis, mas não queria que fossem únicos. Queria que fossem múltiplos.
Eu e meu desejo não sincronizado de querer eternizar o que já dava sinais de que não seria eterno. Certas pedras são escorregadias demais, você cai na correnteza.
Algumas coisas não nasceram pra ser eternas. Pelo menos não na minha vida. O difícil tá aí: quando você queria porque queria que fosse.
Quem nunca fez de tudo o que pôde por uma amizade? Quem nunca deu chance a um relacionamento? E quem nunca se atropelou?
Deixar ir é difícil. Às vezes por causa do próprio ego. Outras vezes por gostar mesmo e não querer que acabe.
Mas o fato é que: adianta alguém permanecer na nossa vida à força quando permanecer ou não na vida de alguém deve ser algo voluntário e de preferência agradável? Adianta se apegar tanto a algo nessa vida tão imprevisível? Adianta querer irracionalmente reverter certas situações que estão do jeito que estão por escolhas das pessoas ou própria?
Não! Porque se pararmos pra analisar profundamente, muita coisa já não existe mais, apenas vive no nosso psicológico. Grosseiramente falando, convivemos com certos cadáveres que não tivemos a coragem de enterrar. As vezes extendemos o velório.
E essa é a cova funda pra onde vai todo sofrimento e desgaste. Lá pra idade mais avançada, dizem que a gente nem se desgasta mais com certas coisas. É melhor começar de agora então.
Não é fácil lutar contra sí, em seu próprio favor. Me sinto as águas que chegam às represas e batem fortemente contra as barreiras no percurso, a resistência é grande, mas sei que elas sempre chegam ao objetivo final e a gente entende que até a barreira nos ajudou a encontrar o caminho.

É no durante que estou aprendendo a:

-deixar ir embora quem quer ir embora.
-abrir mão de certos planos e fazer outros novos.
-aceitar que certos momentos não voltarão mais.
- viver o novo.