Filosofia
A PATOLOGIA DA IMUTABILIDADE:
O CÁRCERE ONTOLÓGICO DO “EU SOU ASSIM” E A SÍNDROME DE GABRIELA.
A expressão recorrente “Eu sou assim mesmo, você me conhece não é? Eu não vou mudar não” *Obs. Nossa: ( Então não deseja evoluir! ), ultrapassa o campo da simples autodefinição e adentra uma zona psicológica, moral e espiritual profundamente delicada. Tal enunciado, à primeira vista inofensivo, constitui na realidade um dos mais sofisticados mecanismos de defesa do psiquismo humano, pois cristaliza a identidade em um ponto estático e recusa, consciente ou inconscientemente, o processo natural de transformação interior.
Essa postura é popularmente conhecida, no campo cultural e psicológico brasileiro, como Síndrome de Gabriela, em referência à personagem de Jorge Amado que proclama: “Eu nasci assim, eu cresci assim, eu sou mesmo assim, vou ser sempre assim”. Embora poeticamente sedutora, essa máxima traduz um modelo psíquico de estagnação afetiva, resistência à maturação emocional e rejeição ao autoconhecimento profundo.
A chamada Síndrome de Gabriela representa o apego à identidade cristalizada, à personalidade fossilizada no conforto do conhecido. O indivíduo passa a confundir coerência com rigidez, autenticidade com imutabilidade, fidelidade a si mesmo com recusa ao amadurecimento. Trata-se de uma patologia sutil, socialmente aceita, mas espiritualmente limitante.
A Ótica Espírita.
Sob a perspectiva espírita, a resistência à transformação adquire contornos ainda mais profundos. A Lei do Progresso, apresentada por Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos é uma lei natural divina que rege a evolução contínua do Espírito, manifestando-se em progresso intelectual e moral, que, embora nem sempre acompanhem o mesmo ritmo, tendem ao equilíbrio e aperfeiçoamento final, sendo o orgulho e o egoísmo os maiores obstáculos a serem superados para a felicidade plena, segundo as questões 779 a 785, estabelece que a evolução moral e intelectual é uma imposição natural da vida espiritual. Ninguém estaciona sem consequências. O espírito que se recusa a avançar apenas retarda o próprio caminho, acumulando experiências dolorosas destinadas a despertá-lo.
A atitude expressa na frase “eu sou assim e não vou mudar” *Repetimos aqui a nossa observação: ( Então não deseja evoluir ), revela apego às imperfeições, orgulho velado e temor da renovação íntima. Léon Denis esclarece que o sofrimento surge como instrumento educativo quando o ser humano se mostra refratário às lições do amor e da consciência. A dor, nesse contexto, não é punição, mas convite à lucidez.
O Espiritismo ensina que a estagnação moral contraria a lei divina do progresso contínuo. O espírito não foi criado para a imobilidade, mas para a ascensão gradual em direção à lucidez, à responsabilidade e à harmonia interior. Negar esse movimento é prolongar o conflito íntimo e adiar o despertar da consciência.
A Perspectiva Psicológica.
Sob a ótica da psicologia, tal postura configura um mecanismo defensivo sofisticado. Ao afirmar “eu sou assim”, o sujeito protege-se da angústia que acompanha qualquer processo de transformação. Conforme a teoria da dissonância cognitiva de Leon Festinger, o ser humano tende a evitar informações ou experiências que entrem em conflito com sua autoimagem. A mudança ameaça a coerência interna construída ao longo do tempo, ainda que essa coerência esteja baseada em padrões disfuncionais.
A rigidez identitária torna-se, assim, um recurso de autopreservação psíquica. O indivíduo evita o confronto com suas contradições, bloqueia o autoconhecimento e mantém uma sensação ilusória de estabilidade. A personalidade passa a operar em regime defensivo, reagindo com resistência a críticas, reflexões ou convites à transformação. O comportamento cristaliza-se, a consciência estagna e a existência perde plasticidade.
Na perspectiva da Psicologia Analítica, Carl Gustav Jung observa que esse fenômeno decorre da identificação excessiva com a persona, a máscara social que o indivíduo constrói para adaptar-se ao mundo. Ao recusar o encontro com a sombra, isto é, com os aspectos negados ou reprimidos da psique, o sujeito interrompe o processo de individuação. O resultado é uma vida emocionalmente empobrecida, marcada por tensões internas não elaboradas, angústias difusas e sensação crônica de vazio.
Fonte: JUNG, Carl Gustav. O Eu e o Inconsciente.
A Perspectiva Filosófica.
No campo filosófico, essa postura encontra eco direto no conceito de má-fé elaborado por Jean-Paul Sartre. A má-fé consiste no ato de negar a própria liberdade, atribuindo a fatores externos ou a uma identidade fixa a responsabilidade pelas próprias escolhas. Ao afirmar “sou assim”, o indivíduo abdica da condição de ser-em-devir e converte-se simbolicamente em coisa, negando sua potência de transformação.
Tal atitude não decorre de ignorância, mas de uma escolha existencial: a escolha de não escolher. É a fuga da angústia inerente à liberdade. Contudo, como advertia Sartre, essa fuga tem um custo elevado, pois aprisiona o sujeito numa forma rígida de ser, incompatível com a dinâmica da existência.
Já Heráclito, séculos antes, advertira que tudo flui e que ninguém se banha duas vezes no mesmo rio. Resistir ao fluxo da mudança equivale a opor-se à própria ordem do cosmos. Aquele que se recusa a mudar não preserva a si mesmo, mas se fossiliza.
Fonte: SARTRE, Jean-Paul. O Ser e o Nada.
Fontes:
KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo.
DENIS, Léon. O Problema do Ser, do Destino e da Dor.
REFLEXÃO.
Aquele que afirma “não vou mudar” não revela firmeza, mas medo; não expressa identidade, mas apego; não manifesta convicção, mas resistência ao próprio crescimento. Psicologicamente, trata-se de um mecanismo defensivo; filosoficamente, de uma negação do devir; espiritualmente, de um atraso voluntário no caminho da evolução.
Mudar não é trair a própria essência, mas permitir que ela se manifeste em níveis mais elevados de consciência. A verdadeira fidelidade a si mesmo não está na rigidez, mas na coragem de transformar-se. Somente aquele que ousa abandonar as antigas máscaras pode, enfim, aproximar-se daquilo que verdadeiramente é.
AS GRANDES TRADIÇÕES RELIGIOSAS DA HUMANIDADE.
Um Estudo Comparativo de Fundamentos, Cosmovisões e Estruturas Espirituais.
Autor: Marcelo Caetano Monteiro.
A história da humanidade confunde-se, desde seus primórdios, com a busca pelo sagrado. Antes mesmo da consolidação das civilizações políticas, o ser humano já interrogava o mistério da existência, da morte, da ordem cósmica e da moralidade. As religiões nasceram como sistemas simbólicos complexos, destinados a responder a essas inquietações fundamentais, estruturando a experiência humana em torno do transcendente, do ético e do metafísico.
Este estudo propõe uma análise comparativa das principais tradições religiosas da humanidade, considerando seus fundamentos históricos, filosóficos e espirituais, à luz de fontes acadêmicas consolidadas e da hermenêutica religiosa contemporânea.
1. Hinduísmo
aproximadamente 4.000 anos
O Hinduísmo constitui o mais antigo sistema religioso ainda em prática. Não se apresenta como religião no sentido institucional moderno, mas como Sanātana Dharma, a Lei Eterna que rege a ordem cósmica e moral do universo.
Sua matriz encontra-se nos Vedas, textos sagrados compostos entre os séculos XV e V a.C., aos quais se somam as Upanishads, a Bhagavad Gita e os épicos Mahabharata e Ramayana. A realidade última é compreendida como Brahman, princípio absoluto e impessoal, do qual emana o Atman, a essência espiritual do indivíduo.
A existência é concebida como um ciclo de renascimentos regido pelo Karma, cuja superação conduz ao Moksha, a libertação final. Trata-se de uma metafísica da interioridade, profundamente especulativa e contemplativa.
Fonte: FLOOD, Gavin. An Introduction to Hinduism. Cambridge University Press.
2. Zoroastrismo
aproximadamente 3.500 anos
Originado na antiga Pérsia, o Zoroastrismo é uma das mais antigas expressões do monoteísmo ético. Fundado por Zarathustra, apresenta uma visão dualista do cosmos, no qual se confrontam Ahura Mazda, princípio do bem e da verdade, e Angra Mainyu, princípio da destruição e da mentira.
A liberdade moral é central: o ser humano participa ativamente do destino do mundo por meio de suas escolhas éticas, sintetizadas na tríade moral dos bons pensamentos, boas palavras e boas ações.
O Avesta, especialmente os Gathas, constitui o núcleo doutrinário da tradição, cuja influência se estendeu ao judaísmo, ao cristianismo e ao islamismo.
Fonte: BOYCE, Mary. Zoroastrians: Their Religious Beliefs and Practices. Routledge.
3. Judaísmo
aproximadamente 3.000 anos
O Judaísmo representa a consolidação histórica do monoteísmo ético. Fundado sobre a aliança entre Deus e o povo de Israel, estabelece uma relação baseada na fidelidade à Lei revelada.
O conceito de Torá ultrapassa a dimensão legal, abrangendo ensinamentos morais, espirituais e existenciais. A vida judaica é estruturada pela Halachá, que orienta a conduta cotidiana, e pela esperança messiânica, expressão da justiça futura.
O pensamento judaico articula transcendência e responsabilidade histórica, compreendendo o homem como cocriador ético da realidade.
Fonte: NEUSNER, Jacob. The Way of Torah: An Introduction to Judaism.
4. Xintoísmo
aproximadamente 2.600 anos
Religião originária do Japão, o Xintoísmo não possui fundador nem doutrina sistematizada. Seu eixo reside na veneração dos Kami, manifestações do sagrado presentes na natureza, nos ancestrais e nos fenômenos vitais.
A espiritualidade xintoísta enfatiza a pureza, a harmonia e a continuidade entre o humano e o cosmos. A prática ritual visa restaurar o equilíbrio, não redimir o pecado.
Os textos fundamentais são o Kojiki e o Nihon Shoki, registros míticos e históricos da formação espiritual japonesa.
Fonte: ONO, Sokyo. Shinto: The Kami Way. Tuttle Publishing.
5. Jainismo
aproximadamente 2.600 anos
O Jainismo emerge na Índia como uma via rigorosa de libertação espiritual baseada na renúncia radical. Sua ética funda-se na Ahimsa, a não violência absoluta, estendida a todas as formas de vida.
A alma, aprisionada pela matéria através do karma, deve purificar-se por meio da ascese, da disciplina moral e do desapego. A libertação, denominada Moksha, representa o estado de consciência plena e liberta de toda vinculação material.
Fonte: DUNDAS, Paul. The Jains. Routledge.
6. Budismo
aproximadamente 2.500 anos
Fundado por Siddhartha Gautama, o Buda, o Budismo propõe um caminho do meio entre o hedonismo e o ascetismo extremo. Sua estrutura filosófica baseia-se nas Quatro Nobres Verdades e no Nobre Caminho Óctuplo.
A doutrina do Anatta nega a existência de um eu permanente, enquanto o conceito de Dukkha descreve a condição universal de insatisfação. A libertação, o Nirvana, representa a cessação do sofrimento e da ignorância.
Fonte: GOMBRICH, Richard. Theravada Buddhism. Routledge.
7. Taoismo
aproximadamente 2.500 anos
O Taoismo desenvolveu-se como uma filosofia de harmonia cósmica e espontaneidade. O Tao é o princípio originário e indescritível que sustenta todas as coisas.
A sabedoria taoista reside no Wu Wei, a ação sem esforço, em consonância com o fluxo natural da existência. O equilíbrio entre Yin e Yang expressa a dinâmica universal da realidade.
Fonte: ROBINET, Isabelle. Taoism: Growth of a Religion. Stanford University Press.
8. Confucionismo
aproximadamente 2.500 anos
Mais do que uma religião, o Confucionismo constitui um sistema ético e político voltado à organização social. Fundamenta-se na virtude do Ren, a humanidade benevolente, e na observância do Li, o conjunto de ritos que estruturam a convivência humana.
A educação moral, a piedade filial e a responsabilidade social são os pilares da harmonia coletiva.
Fonte: TU WEIMING. Confucian Thought: Selfhood as Creative Transformation.
9. Cristianismo
aproximadamente 2.000 anos
O Cristianismo emerge do judaísmo e se estrutura em torno da figura de Jesus de Nazaré, reconhecido como o Cristo. A doutrina central afirma a encarnação do Verbo divino, a redenção pela cruz e a promessa da ressurreição.
Sua teologia articula amor, graça e salvação, propondo uma ética fundamentada na caridade e na dignidade da pessoa humana.
Fonte: MCGRATH, Alister. Christian Theology: An Introduction. Wiley Blackwell.
10. Islã
aproximadamente 1.400 anos
O Islã nasce na Península Arábica com o profeta Muhammad, consolidando a crença no Deus único, Allah. Sua prática religiosa organiza-se nos Cinco Pilares, que estruturam a vida espiritual, social e moral do fiel.
O Alcorão é compreendido como revelação direta, e a Sharia orienta a conduta ética e jurídica da comunidade.
Fonte: ESPOSITO, John. Islam: The Straight Path. Oxford University Press.
Este panorama revela que, embora distintas em linguagem, símbolos e estruturas, as grandes tradições religiosas compartilham a mesma aspiração fundamental: oferecer sentido à existência, ordenar o caos da experiência humana e conduzir o espírito à compreensão do mistério que sustenta o ser.
SOB A SOMBRA DA BELEZA NO AMOR.
Autor: Marcelo Caetano Monteiro.
O amor nasce já ferido.
Não como promessa, mas como necessidade.
Uma carência inscrita na própria estrutura do querer.
Ama-se não por plenitude, mas por falta.
A beleza surge como engano sublime.
Ela se oferece ao olhar como redenção,
quando na verdade é apenas o véu mais refinado da dor.
Toda forma bela carrega em si a sentença do perecimento,
e é justamente por isso que fascina.
O espírito, ao reconhecer o belo, não encontra repouso.
Antes, inquieta-se.
Pois compreende que aquilo que o atrai
jamais poderá ser possuído sem perda.
Amar é desejar o que inevitavelmente escapa.
A consciência, ao amadurecer, percebe
que o amor não promete felicidade,
apenas instantes de intensidade.
E intensidade é sempre sofrimento condensado.
Quanto mais profundo o vínculo,
mais aguda a percepção do fim.
A mística do amor revela-se então trágica.
O sujeito não ama o outro,
ama a imagem que nele desperta sua própria carência.
E quando essa imagem vacila,
a dor emerge não como surpresa,
mas como confirmação da natureza do querer.
Há uma tristeza inerente à beleza
porque ela nos obriga a desejar o que não se fixa.
Tudo o que é digno de amor
é, por essência, transitório.
E a consciência disso não liberta: aprofunda.
Assim, amar é consentir com o sofrimento lúcido.
É aceitar a vigília permanente do espírito
diante de um mundo que não promete consolo.
A grandeza não está na felicidade,
mas na coragem de contemplar o abismo
sem desviar o olhar.
A ROSA ESCURA DA DOR.
Do Livro: Não Há Arco-íris No Meu Porão. Ano, 2025.
Autor: Marcelo Caetano Monteiro.
Todos temos dores que não pedem cura, apenas permanência.
Elas florescem no interior como uma rosa que se alimenta do próprio sangue do sentir.
Não gritam. Não suplicam. Apenas se abrem, pétala por pétala, no silêncio mais denso da consciência.
A dor que aqui habita não deseja redenção.
Ela existe como rito, como escolha íntima de quem compreendeu que certos sofrimentos não são falhas, mas revelações.
Há uma voluptuosidade secreta no padecer que se reconhece, uma dignidade austera em suportar a própria sombra sem implorar por luz.
O espírito inclina-se diante de si mesmo, não em derrota, mas em reverência.
Cada pensamento torna-se um espinho necessário, cada memória um perfume escuro que embriaga e ensina.
A alma aprende que nem toda ferida quer ser fechada, algumas precisam permanecer abertas para que a verdade respire.
Há uma doçura austera no ato de suportar-se.
Uma forma de amor que não consola, mas sustenta.
A consciência, exausta de fugir, ajoelha-se diante da própria dor e a reconhece como mestra silenciosa.
Assim floresce a rosa escura.
Não para ser admirada, mas para ser compreendida.
Não para enfeitar a vida, mas para dar-lhe gravidade.
Pois somente quem aceita sangrar em silêncio conhece a profundidade do que é existir.
“É inegável que a religião faz bem para muitas pessoas.
Porém também é inquestionável que muitas pessoas fazem mal para religião. Esses falsos/as profetas acham que enganam a religião, que enganam até Deus. Mas na verdade enganam somente outras pessoas e principalmente a si mesmas”.
•Francisco Lemos•
INVERNO QUENTE 🔥
Será que eles perderam-se
Ou se enganaram na estação?
Falaram que entraria o inverno
Mas na verdade, entrou o verão! 😓🌤
Eu disse-te para não te preocupares, eu não vou me perder. Mas como não me perder?
Se eu me perder nos teus olhos que cativam,
Toda vez que os meus lábios tocam os teus. Se eu vou me perder toda vez que você me intimidar com seu olhar de "Felina" como se eu fosse o macho que você queria devorar na cama. Quando estou nos teus braços, sinto-me como uma agulha no meio de um palheiro, confortavelmente, dou por mim a descansar no teu celeiro."
