Eu Deixo a Vida como Deixo o Tedio

Como o amor, como a morte, a verdade precisa dos véus da mentira.

Preferiria ter sangue nas mãos a ter água como Pôncio Pilatos.

As paixões são como os vidros de graus, que alteram para mais ou para menos a grandeza e volume dos objectos.

O que não tem mais vontade nem mais gosto do que a vontade e o gosto alheios, pode ser tido como verdadeiro escravo.

O espírito vive de ficções, como o corpo se nutre de alimentos.

Na maior parte das vezes, uma ideia nova não passa duma banalidade, velha como o mundo, de cuja realidade nos apercebemos subitamente.

Só depois de praticadas, é que as faltas nos ensinam como podiam facilmente ter sido evitadas.

Ao sol da manhã,
Imóvel como se dormisse,
A coruja no fio.

Os loucos progrediram como tudo neste mundo. Agora reflectem e falam como os outros homens. Para distinguir um louco de um espírito são tem de se consultar um especialista.

A amizade, como o dilúvio universal, é um fenômeno do qual todo o mundo fala, mas que ninguém ainda viu com os seus próprios olhos.

Existem pessoas que não pensam naquilo que deviam fazer, mas no que já fizeram; como se a Razão tivesse olhos atrás e pudesse ver apenas o que ficou para trás.

A pátria é como a mãe, de quem o filho não pode falar como se tratasse de outra mulher.

Ela passava por inteligente. Mas o que fazer da inteligência, como servir-se dela?

Ninguém nos aconselha tão mal como o nosso amor-próprio, nem tão bem como a nossa consciência.

As línguas, como as religiões, vivem de heresias.

A honra é como os fósforos: serve apenas uma vez.

Somos tão responsáveis por sermos inteligentes como de sermos estúpidos. Não devemos orgulharmo-nos mais de uma coisa do que corar pela outra.

Os maldizentes, como os mentirosos, acabam por não merecer crédito ainda que digam verdades.

O dinheiro é tanto o fruto do demónio como a causa dele.

O ódio é como um canal escavado por um jato de água: alarga-se continuamente.