Eternidade
Só a eternidade revelará, quantas vezes deus paralisou as trevas para manter a tua vida de pé e guardada!
XEQUE-MATE, BABACA!
A partida já durava pouco mais de 45 minutos, uma pequena eternidade para uma criança de 5 anos e meio.
– Mamãe, eu sei que o certo é jogar em silêncio, tentando “adivinhar” as próximas jogadas, mas preciso falar uma coisa – disse em tom solene, esfregando os olhinhos já cansados.
– Pode dizer, filha.
– Acho esse Rei muito “babaca” – disse apontando uma das duas peças coroadas por uma cruz.
– “Babaca”? Como ele pode ser um “babaca” se ele é a peça mais importante do seu reino? Se ele for capturado, você perde e acaba a partida – retruquei.
– Ah, mãe, o xeque-mate deveria ser com a eliminação da Rainha. Já reparou que ela é muito poderosa e que ele é um tremendo “Zé Mané”?
– Respeite o seu Rei, não fale assim dele – reclamei com um sorriso no canto da boca. – Onde você está aprendendo essas palavras?
– Mãe, a Rainha é toda “triunfante”. Consegue “dançar” pelo tabuleiro inteiro, como se fosse uma pista de dança… Olhe – e movimentou a sua Rainha na horizontal, vertical e diagonal, por várias casas já vazias. – Ela é tão esperta que “observou” e “aprendeu” os movimentos da Torre e do Bispo.
– Isso é mesmo. Ela é uma peça muito importante, filha. A perda da Rainha é uma grande derrota para o reino. Considero o “começo do fim” da partida – expliquei.
– E esse “Zé Mané” aqui é todo duro, travado e “perna de pau”. Já viu como ele “dança”? – Disse pinçando o seu Rei com seus miúdos dedinhos e o movimentando pelas casas que o circulavam. – Ele fica assim fazendo movimentos curtinhos, todo indefeso e fraco. Raiva desse “babaca”. Não quis aprender nada na vida. Até o Cavalo sabe saltar… E ele? Só sabe “se esconder na sombra da Rainha” – palavras literais da minha pequena.
– Amor, não fale assim. Se você estiver com raiva ou aborrecida, vai interferir no jogo e você não vai conseguir pensar na melhor jogada. Como eu sempre te digo, Xadrez exige concentração, “sangue frio”, estratégia e equilíbrio. E outra, não desrespeite o seu Rei. Seu dever é protegê-lo a todo custo, para continuar na partida. Acha melhor parar para descansar e continuamos depois?
– Mãe, a senhora está “toda” enganada – disse fazendo carinha de desdém.
– Oi? – Questionei, sem entender.
– Eu ainda “sou princesa”, mas serei como a Rainha, vou viver observando e aprendendo, toda poderosa, dançando com um longo vestido brilhante pela pista inteira. Mas não quero fazer sombra em nenhum “Zé Mané”… Na verdade essa conversa toda foi para te distrair, foi um papo “estlatégico” – pronunciou “fazendo bico” e levantando levemente os pequenos ombros. – Xeque no seu Rei, esse “babaca” aí.
Estatelei os olhos e tive que me render, orgulhosa, abrindo a retaguarda do meu Rei para que ela pudesse capturá-lo com o seu último e aparentemente inocente Peão, que “conseguiu atravessar” o tabuleiro quase sem ser visto por mim, no decorrer do nosso diálogo.
Parecia inofensivo, mas… Por vezes, o Discípulo supera o Mestre.
Xeque-mate, “babaca”.
Como a flor de Lótus
Nasço até em meio a água putrefata
Viajando pela eternidade
Eros psicografa
Um Madiba rasgando diásporas
Um Neruda usando metáforas
Fluindo no Nilo na Barca de Ísis
Por Osíris
Um Ésquilo nesse terror cósmico
Passei pelo forno alquímico
Neste átimo de tempo até podemos duvidar, mas, na eternidade onde até o tempo e o espaço esvanecem, tudo pode se transformar.
E assim, neste eterno transformismo vai se concretizar o que hoje é matéria, um dia como espírito viverá. Esta imensidão cósmica um dia serão vidas.
(Texto da obra: A Construção do Pensamento)
..."Para edificar uma mente levasse todo o tempo de uma eternidade! Vivemos na fração dela que chamamos de tempo ou seja, não é o tempo que nos resta, mas o que nos falta." ... Ricardo Fischer.