Escola Poema de Rubem Alves
Nós dois e a distância
Começamos por brincadeira
E por desejo nos unimos
Mas não por muito tempo
Pois além do desejo veio a distância, a qual me separa de teu cheiro
Dos teus carinhos, do teu amor.
A saudade me mata por dentro, não sei mais o que fazer
Tentei parar de diversas maneiras de pensar em ti
Mas como fazer se tudo que existe me lembra você?
Pois assim quis, por querer que fizeste parte de minha vida por completo.
Sobrevivo a espera de um tempo ao qual essa distância diminua
E me faça cada vez mais ser seu
Cada vez mais um só
Cada vez mais amor
Resisto por saber que a mesma lua e as mesmas estrelas que iluminam minha noite e as contemplo todos os dias, são as mesmas que iluminam o teu caminho e levam a ti as minhas preces e lamurias sinceras de meu amor a ti.
Amo-te acima de tudo
E sei que a distância não será suficiente para separar nós dois.
Eu cantarei de amor tão docemente,
Por uns termos em si tão concertados,
Que dois mil acidentes namorados
Faça sentir ao peito que não sente.
Nota: Trecho do poema do livro "Sonetos Para Amar o Amor", de Luís de Camões.
Quem quer sair de uma história, cala-se e vai embora.
Porque as grandes dores são mudas.
E decisões definitivas não se demoram em explicações.
A um passarinho
Para que vieste
Na minha janela
Meter o nariz?
Se foi por um verso
Não sou mais poeta
Ando tão feliz!
Se é para uma prosa
Não sou Anchieta
Nem venho de Assis
Deixe-te de histórias
Some-te daqui.
Se você está pensando
Que eu estou me importando
Claro que eu estou
Eu não sou feito essa gente
Que ama e de repente
Tchau, e se acabou
Eu não cavei teus abismos de mim.
Fui teu abrigo, teu barco e lua cheia iluminando o caminho.
Você escureceu nosso afeto, minou nosso rio.
Pra eu ficar, só precisava do seu toque-agasalho.
Você me deu um punhado de frio.
Dou respeito às coisas desimportantes
e aos seres desimportantes.
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
As Ensinanças da Dúvida
Tive um chão (mas já faz tempo)
todo feito de certezas
tão duras como lajedos.
Agora (o tempo é que fez)
tenho um caminho de barro
umedecido de dúvidas.
Mas nele (devagar vou)
me cresce funda a certeza
de que vale a pena o amor.
Desculpa eu não te querer mais logo agora que a vida está sendo doce comigo. Têm coisas suas que não cabem na minha alegria como, por exemplo, tuas feridas tão antigas e as curas que eu fazia pra te consertar pro mundo, mas continuar com minhas mãos vazias.Desculpa eu desobedecer a demanda da tua angústia. Eu não quero mais ouvir, naquela passividade profunda de amante, tuas lamúrias, tuas escolhas equivocadas, teu emocional sempre tão confuso.
Eu só quero celebrar as minhas flores de dentro da forma mais adequada.
Eu não tenho mais tempo para ser aquela pessoa certa na tua hora errada.
Apenas uma canção de amor
Enquanto a chuva molha o meu rosto
Ela esconde a minha lágrima
Que insiste em encontrar o chão.
Enquanto o frio toma o meu corpo
Eu aprendi sem a gramática
Que saudade não tem tradução.
Eu preciso tanto de você
O seu amor é o que me faz crescer
E conhece como a própria mão
Cada medo do meu coração.
Hoje pensei tanto em nós dois
Que não podia deixar pra depois
E eu vim aqui só pra dizer:
-Que eu sou louco por você
A mulher carioca
A gaúcha tem a fibra
A mineira o encanto tem
A baiana quando vibra
Tem isso tudo e o céu também
A capixaba bonita
É de dar água na boca
E a linda pernambucana
Ai meu Deus, que coisa louca
A mulher amazonense
Quando é boa é até demais
Mas a bela cearense
Não fica nada pra trás
A paulista tem a erva
Além das graças que tem
A nordestina conserva
Toda a vida e o querer-bem...
E a mulher carioca
O que é que ela tem?
Ela tem tanta coisa
Que nem sabe que tem
Ela tem um corpinho
Que mais ninguém tem
Ela faz um carinho
Melhor que ninguém
Ela tem passarinho
Que vai e que vem
Ela tem um jeitinho
De nhen-nhen-nhen-nhen
Ela tem, tem, tem...
Sozinha sou brisa leve
Sou calmaria
Sou nostalgia
Me leve
Me despe
Me faz tremer
Nos teus braços
Sou tempestade
Sou mar revolto
Sou fúria
Agora é tarde
Juntos somos terremoto
Maremoto
Somos vulcão em erupção
Mulheres que habitam meu ser
Presa em meu vazio o silêncio ecoa na solidão
Sinto-me confusa em meio a tanta opressão
Não sei quem sou, muito menos o que quero
Só sei que presencio uma metamorfose,
E não consigo esconder o que realmente quero
Não vou mais brigar com minhas emoções
Não vou sufocar meus desejos
No meu intimo existe um conflito entre dois seres,
Um calmo e sereno outro estridente como um trovão
Um é a menina que fui pacata e serena
O outro é a mulher que chegarei a ser,
Essa ainda não conheço,
Mas percebo que é audaciosa e destemida
Um tanto tímida e ao mesmo tempo atrevida!
Enfim o ser que se forma é uma mescla dessas duas mulheres
Mulheres, que não conheço, mas que habitam meu perturbado ser.
Mulheres que precisam se harmonizar para que eu enfim possa viver!
Negra
Ela é pop.
Ela é rock.
Ela é funk.
Ela é samba.
Ela não se define,
porque quem se define se limita.
E não há limites pra ela.
Ela descobriu sua essência,
sua verdade, sua liberdade.
Ela não precisa provar nada a ninguém.
Não é cabelo "duro".
É crespo, natural.
Ela é assim,
riso fácil,
brilho no rosto,
e aquele jeito que encanta onde ela chega.
Ela é negra,
e é desse jeito que ela reluz!
A maior prisão que podemos ter na vida é aquela quando
a gente descobre que estamos sendo não aquilo que somos,
mas o que o outro gostaria que fôssemos.
O Pequeno Príncipe
Menino pequeno, perdido no mundo
sozinho e cercado de imagem e ilusão,
vagando, vagando sem número e data,
descobre a verdade no meio do chão.
Descobre na terra, de olhos pr'o ceu,
pequeno menino perdido e sozinho,
reinados de estrelas, de sóis e de flores,
poemas ficados na cruz de um caminho.
Menino pequeno, sozinho encontrou
prazer escondido de olhar e sonhar
viver e cantar, beijar e reinar,
deitar e chorar, num berço de ar
Menino tão só, perdido e pequeno
que veio do ceu, que acaba no mar,
com um sopro retira, do chão, essa gente
e ensina que é fácil ter asa e voar
Menino sozinho, no mundo perdido
Menino perdido, pequeno e querido.
LISBON REVISITED
(1923)
Não: não quero nada.
Já disse que não quero nada.
Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.
Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!
Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) —
Das ciências, das artes, da civilização moderna!
Que mal fiz eu aos deuses todos?
Se têm a verdade, guardem-na!
Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?
Não me macem, por amor de Deus!
Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?
Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia!
Ó céu azul — o mesmo da minha infância —
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflete!
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.
Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo...
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!
"A vida não é tudo que ela pode nos dar, mas sim tudo o que podemos dar por ela."
Antoine de Saint-Exupery
As melhores amizades são aquelas construídas sem razão.
São aquelas sem previsão.
As que são feitas no acaso.
E sem qualquer explicação.
Ser pai é um estado diferente
É um sentimento intermitente
Que só se sabe quando se é pai
Ser pai é ser responsável
É ter medo de morrer
Se preocupar com o futuro do filho
É cumprir um ciclo
Querer viver
É ter prazer de dar a primeira mordida
Da comida preferida a alguém
É viver atento, preocupado com relento
Que pode resfriar
É brigar para ensinar
E por dentro sentir vontade chorar
É viver por alguém e não para si
É sacrificar com a dor pelo bem de alguém
É sentir que a vida faz sentido
Concluir que existe um pedaço de você para seguir o ciclo e prosseguir sua tradição
É ter alguém que mal sabe o sentido da palavra traição
É ter a certeza que sua vida já valeu a pena e nada foi em vão