Erasmo de Rotterdam Elogio da Loucura

Naufragamos em um mar de aguas calmas por deixarmos que outros navegassem em um oceano feito somente pra nos dois.

ACASO


No caso do acaso,
caso exista um caso;
o superior cria um caso,
que cria tudo por acaso.

AMOR CORTÊS


Lança sobre as rebaixadas flechas de encantamento.
Inventa o doer, corrobora a persistência da dor.
É a certeza inconsistente dentre amar e padecer.
Tem a mais aguda lealdade de um trovador submisso.

Oh criatura supina!
Que toma a liberdade dos homens com o domínio de suas pomas.
Torna vassalos os mais conservados cernes.
Aprisiona os encéfalos nas ondas de seu corpo molhado.

Não é pequena pra não ser jamais menor.
É inspiração de gênio, fruto da mais perfeita criação.
Dona de todos os encantos corporais.
Envolve com pujança. Oh ser superior.

Marca à servidão com suas unhas grandes.
Prende seus escravos em sua respiração.
Deixa-os presos no aroma de seu cheiro.
Escraviza-os até o esgotamento dos corpos.
Transforma-os em pó com os dotes de seus feitiços.

Oh dona da dor, oh dama do amor.

CAUSA DE MIM


Eu sou a coisa nula de um todo vácuo...

Não existo por ter, mas por ser.
Não tenho a coisa, sou a coisa.
Não desvendo mistérios, sou um mistério.

Não sou demente, nem sou esperta:
sou satisfatória para quem é satisfeito comigo.

Lanço flechas na vida.
Miro somente o imaterial.
E só acerto o alvo, quando ele é grande,
que é para a ponta da flecha entrar bem no fundo do cerne.

Não espero salvar o mundo, para dominá-lo depois.
Nem quero que o mundo me salve,
para depois me tirar o sonho de ser eterna.
E mesmo sem muitas explicações,
quero apenas que a causa, me cause infinitamente.

DESCOBERTA




Junto à banca no cariri
no meu ninho, recanto de cá.
Em um supetão fez cócegas acolá.
Ah... Foi lá!
Foi que fiquei trepidante
com a caneca do ceará de olho em mim.

Noto que me lembrei, que lá na Fortaleza, nossa!
Um tanto bem longe está.
Na sombra ligada da boca da noite,
uma mulher descorada, escassa de pêlos nos braços,
após improvisar uma casca tênue com o borrão do tempo,
imagina precariamente, se acomoda e já está roncando.

Ah que saudades do ceará!

EU POÉTICO


Minha poesia é tudo,
quando ela é nada.
Meu coração vai fundo,
quando o meu ego se perde no mundo.

Deixe-me sonhar, já que não a tenho mais ao meu lado.

Aprenda a sonha, e terá um rumo por onde caminhar!...

O tirano prefere compelir, a escravidão silenciosa tirá proveito de algo não solicitado, solicitando-se, atribuindo-se bondade, com intuito de encarcerar.

A virtude que compartilho contigo é o bem-querer.

Não sei, não amar-te.

Quando alguém te julgar, pergunte se ele(a) morreu na cruz por você.

Só quem pode julgar é quem conhece a grandeza e a beleza do perdão.

A vida nos oferece tanto aprendizado, e ofereço-te tão pouco pra vida.

Encanto-me com a beleza menos, que atitude.

Dos males que vi brotar, nenhum é fruto de outro animal que não seja o homem.

Só causo sua atenção, se algo lhe interessar, são os egoístas.

O bom mau, que se tire proveito, o mal, mau, que se pratica.

Do muito que não sei, nem sei de você.

Não sou nada mais que as minhas atitudes.