Dedicatoria para uma Filha na Bencao das Fitas
Estar bem perto de nada é um deserto
Estar do outro lado da lua é uma incógnita
Estar do outro lado da rua é um ponto de vista
Do outro lado da vida não há visita,
Está bem perto de tudo é um sonho,
Do outro lado do sonho tem favelas,
Tem chinelas de dedo, tem o medo, tem balas perdidas
Do outro lado tem a avenida Brasil
Rápida e inconsumível
Do outro lado da avenida Brasil
Tem o mundo tem a novela
Tem Carminha na arte da vagabundagem...
Do outro lado a turma do plin plin...
Quando eu cheguei a ser eu mesmo
eu ainda era uma caixinha de surpresa
dentro de outras dez caixas maiores...
O trabalho dignifica desde que ele recompense com aprendizado e possibilite uma vida melhor; do contrário ele escraviza...
O bem às vezes não está atrelado a atitudes ternas e suaves; as vezes uma atitude radical evita grandes males...
Se eu conduzisse a noite à uma esquina
e entre brilhos e ébrios as estrelas se derramassem
se eu me perdesse no quarto minguante d’alguma cratera
desenterrando as quimeras de um outro passado
ausências, somente ausências são pertinentes às reminiscências,
os ébrios serão poetas e boêmios nas esquinas,
as noites serão lembranças saudosas ou não,
lacônicas ou perenes cheias de brilhos,
esquecidas pelos ébrios declamada pelos poetas
as mulheres serão amadas por seus maridos,
possuídas pelos amantes,
machucadas pelos vagabundos...
e onde estarão agora as mulheres?
Seus corações estarão com seus maridos,
seus corpos com seus amantes
e suas almas alimentando o espírito materno
tentando ser mãe de vagabundos
O TIGRE E O SOL
Uma deusa pintou o mundo de amarelo e preto
pôs duas presas, muitas surpresas então surgiu o tigre
quando o sol se punha
a tigresa era o punhal no peito do pensador
seus beijos eram as unhas
que arranhavam o amor
e quando o sol se nivelava com a floresta
o tigre pulava pros trópicos em chamas
o tigre urge e o tempo ruge,
quem diz o contrário se engana.
Nas noites os olhos do tigre iluminava as savanas
predador sem igual ele caça o sol
ou o calor que emana no sangue
o tigre e o sol viram as florestas arderem em chamas
viram as árvores tombarem
ante a violência humana
e a solidão felina aderiu a noite como caminho,
a solidão como ninho
e o crepúsculo como o carinho da diva solar...
Quantos raios de sol tem uma manhã? Você tinha uma manhã em cada olho e os pássaros cantavam para despertar os desejos adormecidos sob seu travesseiro de penas, então o sonho estendia seu tapete vermelho e a felicidade casaria com o prazer, era a magia da vida, que doura a adolescência, prateia a juventude e tenta desesperadamente camuflar as dificuldades, então os pássaros se debatem numa gaiola de ouro, ou são despenados para uma fantasia, mas o carnaval é passageiro e os brilhos das fantasias ficam esquecidos no barracão; então de todos os sonhos realizados há uma inexplicável insatisfação incompreensível para a alma ou que nos negamos a admiti: os pássaros querem voar... os pássaros querem voar...
O ASTRO, A OSTRA E AS OUTRAS
Uma gota é uma mentira a mais num mar de ilusão,
meu coração é conta-gotas de qualquer paixão
O que me ilude alude ao astro, à ostra, ás outras...
a luz que vem de cima reluz no astro
O que se ergue de baixo pra cima é o mastro,
veleja minh’alma feito embarcação
O mar é tão imenso penso, penso, o mar cabe no meu coração
A ostra é alimento,o astro é sentimento, as outras eu não sei não...
Caymmi caymmiria bela filosofia:
“quão belo é o mar...”
Versos singelos, apologia a imensidão,
E a ostra tão pequenina lá no fundo do meu ser
A ostra é uma estrela de quinta grandeza que vive a me aquecer
Era uma caminhada silenciosa todo o peso do morto dividido por quatro ,elevado às presenças e semblantes, às tantas potencias... quem faria tantos cálculos? O orgulho do finado pesaria pelos coturnos de todos os exércitos, multiplicado por todos os pelos do bigode de Hitler e tudo brilharia como os botões do batalhão nazista que venceria a Europa; . mas era uma caminhada silenciosa sem sons metálicos de fuzis ou baionetas, era uma caminhada silenciosa, era uma caminhada silenciosa. Alguém procuraria no fumê do Chanel da viúva, um traço de tristeza na sua roupa preta, nas suas pernas bem torneadas, provavelmente esquecidas na política bélica de estratégia de guerrilha; quem pensaria em guerra diante de tanta beleza? O féretro desceu, desceu a bandeira, uma salva de festim que só tornou depois tudo ainda mais silente. As pernas da viúva tinham prazer pela vida...
AUSÊNCIAS DE TODA UMA VIDA
Eu empacotava os meus olhares, guardava bem no íntimo tudo de lindo que ia além do verde das colinas, acalmava a ansiedade que começava nos teus colos, nos teus lábios, eu empacotava as horas, a vida, era o trabalho; depois planejava algumas rimas iluminadas pelos teus dentes, aquecidas pela tua pele; era passional ou fascínio pelo perigo; afora isso o desejo de documentar a inspiração: era fácil ser poeta, tanto que a solidão doía conduzida por um corredor à suburbana fascinante e perigosa. A noite doía nos ossos com o frio de junho e as ausências de toda uma vida, então eu revivia nossos melhores momentos. Planos? Por mais que os fizesse ao amanhecer dissolviam como sorvete com os primeiros raios da manhã, era a pressa incessante de viver que compõe a juventude compassada pelos hits do blacak que mencionavam as despedidas mais tristes, as incertezas mais certas, o ponto mais sensível dos nossos espíritos juvenis desamparados por seres supremos que movem o universo. Quantos sorrisos belos, quantos belos sorrisos; depois do expediente brilhantina e contouré depois de um banho rápido eu ainda me apaixonaria umas três vezes até a meia noite, depois sonharia com a “dentes de madrepérola” ou com o busto de Brigitte, qualquer musa... era fácil ser poeta só faltava-me tempo para observar o nascente, e o crepúsculo se perdia atrás de torres de concreto ou nos corredores frios de olhares perdidos em faturas e memorandos; uma rotina só abalada por um ou outro suicida que ousaria resolver a vida com o voo de alguns segundos, mas nada que obstaculizasse o cotidiano, o IML era prestativo e rápido e os curiosos se dispersavam com ares de impotência diante da morte. Uma ou outra mancha de sangue permaneceria como prova inconteste de como a vida pode ser cruel, no entanto o amor se sobrepõe, a poesia flui e assim, sem fatalidades e desesperos de um suicida; voamos...
OLHOS DE VALLADOLID
Eram de uma noite tão negra
Como se o inverno chorasse
Todas as suas chuvas em suas madrugadas
E eram tão tristes
Como se abrigassem todos os mendigos
E eram melancólicos
Como se chorassem todas as saudades
E eram pobres como as árvores do outono,
Solitários como sua esperança,
Assustados como uma gazela
E eram de uma solidão divina
Não somente de ser só,
Mas de não ser compreendidos
JIA
A princesa beijou o sapo e virou uma jia
E tudo que o sapo coaxava
Aos seus ouvidos era poesia,
E todo pulo, todo arroto era estripulia...
A língua esticava, o mosquito pegava,
As estrelas luziam...
Se todas as constelações habitassem a lagoa
E todos os beijos habitassem as canções
Onde estaria a sapa?
Valas são partituras nas periferias
Onde cantam as jias e ecoam as pererecas
A princesa conheceu esse mundo
E saiu beijando tudo o que era vagabundo
E o coaxar dos batráquios ecoava em todo canto
E o encanto da princesa se perdia
Que príncipe beijaria uma jia?
Então só lhe restava o pântano,
O espanto das sombras, as sobras na lama...
O drama de se aceitar como jia,
E ter a certeza que o conto de fada mentia...
ETERNIDADE
Era uma casa grande de frente ampla pra um imenso campo de pasto, que se perdia ao longe com elevações de algumas colinas onde invariavelmente o sol repousava nos finais das tardes. Um rio riscava a paisagem com algumas curvas sinuosas donde surgiam carroças e mulheres com bacias nas cabeças seguidas por crianças que vadiavam entre flores, libélulas, borboletas e alguns passarinhos que festejavam a aurora ou alardeavam nos finais de tardes, anunciando as noites. Neste cenário vivemos os mais belos anos de nossas vidas de uma paixão, que certamente inspiraria poetas, romancistas, cantores e qualquer ser vivente com um pouco de sensibilidade.
Protagonista desta história, posso afirmar, que a felicidade faz galopar o tempo num tropel frenético e irrefreável. Foi lindo, foi infindo, foi infinito; mas até o infinito é arrastado pelo galopar enlouquecido do tempo; e um dia eu me vi sozinho, tonto com o serpentear do rio, as vertiginosas colinas e um vulto que dava sentido àquele cenário. ah, tantas coisas mudaram naquele cenário; os horizontes foram se limitando dando lugar a torres, antenas e telhados: mas o que eu via era o passado, longe de asfaltos e pontes, perto de auroras incríveis e ocasos paradisíacos. Um dia reuniram-se irmãos, filhos e netos e choraram pelos que eu jamais choraria. O tempo galopara a minha existência; mas agora, este plasma infinito dessa ternura louca, fiel e inabalável insiste: é uma casa grande, de frente ampla pra um imenso campo de pasto que se perde ao longe nas elevações de algumas colinas, onde invariavelmente o sol repousa nos finais de tardes... com sua roupa branca como a candura de um anjo, ela caminha em minha direção sem nenhuma pressa, sabe que temos toda a eternidade...
BRISA SUAVE
Quando o fogo consumiu
O corpo de Joana D’Arc
Uma brisa suave soprou
Para aliviar todos os espíritos,
A dor de todas as almas,
Que viram suas glórias
Nos campos de batalhas...
Aquela cinza se espalhou
Sobre o solo francês,
Germinando bravos guerreiros...
Sua espada brandiu em outras mãos,
Venceram outras batalhas,
Fazendo surgir uma França
Justa e gloriosa...
PAR DE ASAS
Tem uma assembléia de ratos no porão,
Uma congregação de fantasmas no corredor
Tem uma lembrança se desfazendo,
O tempo fenecendo,
Um femeeiro fornicando;
Eu tenho o medo
Como escudo para todos os males,
Tem zumbis nas esquinas,
Tem uma criança galopando num hipopótamo,
Porcos dormindo sobre pétalas de rosas
E um elefante se equilibrando
Sobre as hastes de uma videira ,
Tem a erupção de um vulcão na sala de estar,
Uma lagoa na cozinha,
Meteoros caindo no quintal, fogo no canavial...
Mas a minha caneta mágica
Cria um par de asas,
Um tapete voador e um horizonte,
Me faz flutuar e exorcizar todos os demônios...
MAIS DE MIL ANOS
Quando ela se nivela ao horizonte,
Como se o seu corpo
fosse uma gangorra, sob as luzes solar
eu penso que as cores do crepúsculo,
são adornos divinos,
para momentos bem íntimos
quando ela se espreguiçou
como se o mundo dormisse mil séculos
meu latim perdeu o sentido
meus músculos dormentes
meus ósculos dementes
pediam seus cálidos lábios
usei de meios espúrios
fiz promessas lhe ofereci a penha
com o templo lá em cima
e todos os sacramentos,
seus cálices de ouro e pedras preciosas
transbordando de um amor sublime
então ela se inclinou
e tingiu tons de pink e lilases
nos travesseiros de nuvens
e nos balançamos por mais de mil anos...
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