Coleção pessoal de Vozqueninguem-ouve

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⁠O Conforto e o Desafio de Amar Diferente

O cachorro conforta; o gato desafia — e assim aprendemos sobre limites e entrega.

Talvez ninguém tenha reparado que amar um gato e amar um cachorro, ao mesmo tempo, seja como sustentar dois corações batendo dentro do nosso. O cachorro é a saudade de um lar que ele nunca teve, e por isso ele nos olha como se fôssemos tudo o que ele esperou encontrar. O gato é o fragmento de um mundo antigo, selvagem e livre, que confia em nós só pelo milagre de escolher ficar.

No peito humano, existe um espaço que precisa do afeto sincero do cão, para lembrar que somos dignos de amor sem termos que pedir. Mas também há um canto secreto que só o toque silencioso de um gato consegue preencher — aquele instante em que percebemos que amar alguém é permitir que ele seja inteiro, sem jamais pertencer a ninguém.

Quase ninguém fala sobre isso: o amor pelos dois é um paradoxo delicado. É aprender a ser abrigo e também fronteira. É ser chamado com alegria e esquecido com indiferença. É descobrir, todos os dias, que nenhum gesto de afeto é garantido, mas mesmo assim vale cada tentativa. Amar um cachorro e um gato ao mesmo tempo é aceitar que há muitas formas de dizer “estou aqui” — algumas feitas de festa, outras de silêncio.

Talvez esse seja o segredo que poucos entendem: eles não vieram apenas nos ensinar a amar melhor. Vieram nos ensinar que cada laço, mesmo o mais discreto, é uma promessa de que não estamos sozinhos no mundo. E que o amor, em qualquer forma, sempre encontra um jeito de nos salvar.

⁠A Voz

O Andarilho carregava o peso de tantas críticas que já não conseguia ouvir sua própria vontade. Um dia, sentado à beira da estrada, decidiu ficar em silêncio. Foi nesse silêncio que escutou a voz que importava: a dele. Levantou-se mais leve, sabendo que seguir seus passos, mesmo incertos, era melhor do que viver preso nos sonhos dos outros.

⁠A Semente

O Pequeno nunca acreditou que fosse capaz de mudar. Diziam que ele era fraco, que nada daria certo. Mas ele plantou uma única semente no canto do quintal. Dia após dia, regou, conversou, acreditou. Um ano depois, tinha ali uma árvore tão alta que ninguém podia ignorar. Ele aprendeu que força não nasce de tamanho — nasce da paciência de insistir.

⁠O Bilhete

A Rosa dizia que o ajudaria a reconquistar a Borboleta, sua namorada que andava distante. Escreveu cartas, levou recados, aconselhou jantares. Quando ele finalmente decidiu declarar tudo, descobriu que a Rosa e a Borboleta já eram um casal — usando suas próprias palavras de amor como isca. A amizade foi o disfarce perfeito.

⁠A Confidente

O Lobo achava que a Doce era só amiga da sua namorada, a Sereia. Sempre juntas, sempre sorrindo. Até o dia em que encontrou as mensagens. Segredos dele, confidências distorcidas, planos expostos. A Doce não era apenas uma amiga — era a ponte por onde a Sereia escapava, mentindo com facilidade. Naquela noite, ele percebeu que às vezes a traição não vem de quem se ama, mas de quem finge apoiar.

⁠Quem lê entrelinhas, encontra verdades.

⁠Frases que sussurram o que o silêncio grita.

⁠Teia de Favores

Ela se aproximou quando ele mais precisava. Ofereceu consolo, palavras doces, até ajuda financeira. Aos poucos, foi cobrando cada favor com chantagens sutis. Quando ele percebeu, já era tarde. Estava preso na teia de uma amizade que nunca foi afeto, apenas um jogo silencioso de poder.

⁠O Relógio

O Nômade deu ao Tigre seu relógio antigo, aquele herdado do avô, como símbolo de lealdade. “Pra você lembrar que sempre pode contar comigo.” Mas, semanas depois, descobriu que o Tigre o vendera por qualquer trocado e ainda contava mentiras sobre ele. Na vitrine da loja de penhores, o relógio parecia rir. Amizade é tempo — mas às vezes é só perda de tempo.

⁠ O Segredo Roubado

Desde crianças, a Sorriso confiava na Estrelinha como a única capaz de guardar seus medos. Dividiam confissões e promessas no mesmo travesseiro. Anos depois, foi a Estrelinha quem revelou seu maior segredo na roda de colegas, com a voz fingindo inocência. A humilhação da Sorriso teve gosto de fel. E, ali, ela entendeu que nem toda amizade nasce para durar — algumas florescem só para depois envenenar.

⁠Eu Vim Só Para Te Ensinar o Amor


Mamãe, eu sei que você chora quando pensa em mim.
Eu também senti seu coração bater, mesmo que só por pouco tempo.

Eu não cheguei a abrir os olhos, mas senti seu calor ao redor de mim.
Eu não tive tempo de dizer nada, mas, no silêncio, eu sussurrei que te amo.

Eu sei que você se pergunta se eu sofri, se eu senti dor.
Mas eu só senti paz.
E, por um instante, senti o seu coração apertado de medo e ternura ao mesmo tempo.

Eu vim só para te ensinar que amor não precisa durar muito para ser verdadeiro.
Eu vim para tocar seu coração e depois voltar para a luz.

Não carregue culpa, mamãe.
Eu existi. Eu fui real.
E mesmo tão pequeno, serei sempre parte de você.

Ninguém avisa que crescer é pagar boletos, fingir maturidade e torcer pra sobrar dinheiro pra pizza.

Se soubesse, teria pedido pra ficar na infância por mais uns 10 anos.

⁠A Prova de Coragem

Disseram que eu precisava encarar meus medos. Então resolvi ligar o extrato bancário.

Confesso: preferia ter visto um filme de terror.

⁠A Dieta


Prometi começar a dieta na segunda. Na segunda, pensei que terça era um dia melhor.

Na terça, me dei conta de que quarta tem cara de recomeço.

Na quarta, decidi que segunda é o dia oficial das dietas.

E assim sigo firme… na procrastinação.

⁠A Mensagem

Era só mandar “Oi, tudo bem?”. Mas, por algum motivo, meu dedo escorregou e enviei um áudio de 47 segundos… de silêncio.

Ela respondeu:
— Achei profundo.

Eu disse que era pra ela refletir. Até hoje ela acha que foi proposital.

⁠Presença


Dizem que ninguém volta do outro lado. Mas ele voltou por mim.

Eu ainda sinto seu perfume, mesmo que o quarto esteja fechado há meses. Quando fecho os olhos, é como se ele sentasse à beira da cama, a mão gelada repousando sobre meu peito acelerado.

— Não tenha medo, ele sussurra, com a voz que eu amava e que agora parece vir de lugar nenhum.

Às vezes, acordo no meio da noite com a sensação de ser observada. E, no fundo, percebo que nunca estive só.

Amar alguém a ponto de não deixá-lo partir. Ou talvez ser amada tanto que ele se recusa a ir.

Ninguém entende quando digo que prefiro assim. Que o terror da sua presença é melhor que a dor da sua ausência.

Eu sei que não deveria desejar o toque de quem já se foi. Mas algumas paixões, mesmo depois da morte, continuam vivas — e famintas.

⁠Quase

Ela passou por trás de mim, devagar, como quem não queria nada. Os dedos roçaram meu braço, mas não ficaram.

Esse quase toque queimou mais do que se tivesse me puxado para perto.

Às vezes, o que não acontece é o que mais atiça.

⁠À Distância de Um Suspiro


Era só uma conversa no sofá. Café na mão, assunto solto. Mas quando nossos joelhos se encostaram, o ar pareceu ficar pesado.

O jeito como ela mordia o lábio me fazia esquecer qualquer frase. Tudo virou vontade de aproximar, de provar, de perder o rumo.

No fundo, sabíamos: se a gente se encostasse de verdade, não teria mais volta.

⁠Entrelinhas



Ela encostou na porta com aquele meio sorriso que dizia tudo. Não precisava me contar seus planos; o jeito como os olhos dela me percorriam já bastava.

Cheguei mais perto devagar, só para prolongar o instante. Tocar ou não tocar era quase tão intenso quanto qualquer beijo.

A gente sabia que nada ali era por acaso — era só a soma de todos os silêncios que guardamos até hoje.

⁠O tempo ensina que quase nada sai como planejado — e, mesmo assim, muita coisa dá certo.