Coleção pessoal de Verso_Errante

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⁠É curioso, o ódio.
A raiva. A ira.
É como um fogo que arde por dentro,
sem deixar marcas na pele.

Já li que é melhor deixá-lo partir.
Mas eu não quero.
Não ainda.

Deixarei esse ódio queimar.
Ele me mantém aquecido.
Me lembra que ainda sinto.
Que não estou morto por dentro.

E quando a hora chegar,
porei fogo neste coração
que por tanto tempo
queimava em silêncio,
congelado.

⁠Acho que estou bem como estou.
Estou em uma rotina... agradável?!
Tenho trabalho de segunda a sábado
e dois domingos por mês.
Dois dias de plantão por semana —
quatorze horas em cada.
Nos outros quatro,
entro às sete e saio às três e vinte.
Não é um horário ruim.

Tenho um novo hobbie:
escrever sobre a minha dor.
Sobre experiências que me quebram em silêncio.
Contos de fadas que vivem na minha cabeça.
Histórias românticas.
Feitos heroicos.
Coisas boas…
que nunca aconteceriam comigo.

Cheguei nessa conclusão
mais pelo que me tornei
do que pelo que já fui.

Tenho me interessado por ciências:
biologia, química, física e astronomia.
Mas às vezes acho
que esse excesso de interesse
é só a forma que encontrei
pra não encarar a falta.

Algum outro?
Sim, eu tenho.
Jogar.
Só um grupo seleto de jogos.
RPGs, na maioria.

Tenho também...
Tenho feito o quê mesmo?
Acho que só isso.

Podem pensar que é bastante...
Mas, no geral,
eu apenas vivo.
Sigo empurrando.
Empurrando meus desejos mais intensos
pra baixo do tapete.

Apesar disso...
acho que estou bem.
Ou talvez nunca estive.
E por isso, talvez,
eu nem saiba o que é
estar bem.

⁠Minha visão distorcida que tenho do mundo, me condena.

Constantemente vejo no mundo diversas situações de que tenho um certo “ódio”.
Coisas pequenas como ver pessoas passando com carrinhos cheios de produtos em um caixa de 10 volumes. Ou o ônibus que para no meio da rua, invés de encostar pra pegar passageiros. Ou o ciclista no meio da rua com a ciclovia livre. Ou até mesmo com o fato de que eu não escrevo como minha mente me conduz.

Vejo as guerras, brigas, assassinatos e muitas outras coisas que não acho que fazem sentido. Einstein uma vez disse, “Que rato construiria sua própria ratoeira?”, e eu concordo com o pensamento. Nós, seres humanos, saímos do conceito de sobrevivência usando os conflitos com OUTROS HUMANOS. Como uma raça pode atacar sua própria raça. É como família atacar família.

Vejo pessoas irem e virem de suas casas com um sorriso falso no rosto. Compram coisas que não precisam apenas por status. Vejo políticos usando e abusando do poder que lhes foi dado. Vejo a ganância estampado no rosto de alguns, desespero na de outros, e o que é mais triste, vejo pessoas ignorando pessoas por status social. Esse mundo é pútrido.

Será que só eu vejo isso? Será que só eu tenho essa visão distorcida? Seria isso uma visão distorcida? Talvez seja o mundo...

⁠Anti-reacionista.
É o que me tornei.

Normalmente, quando falam em reacionismo, pensam em gente agarrada ao passado, que se opõe a mudança.

Mas, pra mim, é outra coisa.
É sobre não reagir.

Cansei de responder a tudo.
De viver no vai e vem das emoções.
Tanto das minhas quanto as emprestadas.

Escolhi a neutralidade.
Não porque é bonito ou evoluído.
Mas porque já me desgastei demais.

A alegria vem com força, mas vai embora rápido.
E quando acaba, deixa um buraco.
Dói mais o depois do que a ausência dela.

Por isso hoje prefiro o meio.
Nem euforia, nem desespero.
Só... um silêncio morno.
Só as emoções “mortas”.

Reagir exige energia.
E eu tô cansado.

Ser anti-reacionista virou uma forma de me poupar.
De não entrar em briga que não é minha.
De não me perder tentando agradar ou provar algo.

Não é que eu não sinta.
Só não deixo mais transbordar.

Não é paz.
Mas também não é guerra.
É um lugar no meio, meio apagado, mas seguro.

Ser anti-reacionista é o que me sobrou
depois que o excesso deixou de fazer sentido.

Contradições

Sou contraditório.
Às vezes acho que sou um escritor “bom”.
Quando releio o que escrevi e sinto algo real.
Como se as palavras fossem minhas cicatrizes com nome.
Outrora, vejo que sou apenas um iniciante.
Perdido entre ideias soltas,
com medo de nunca ter algo original pra dizer.

Me sinto vazio por dentro.
Como se tivessem me secado aos poucos,
sem que eu percebesse.
Mas transbordo nos meus textos quando ninguém tá olhando.
Textos de puro sentimento.
Intensos demais.
Quase vergonhosos.
Quase como se alguém estivesse me lendo por dentro.
É um excesso disfarçado de ausência,
uma sobrecarga emocional
camuflada de silêncio.

Duvido do meu valor.
Todos os dias.
Nos detalhes, nos silêncios, nas comparações que faço com os outros.
Mas luto pra tentar demonstrar.
Escrevo, continuo, me exponho.
Mesmo com medo de não ser suficiente.
Mesmo tremendo.
Porque cada palavra é
a prova viva de que eu ainda sinto algo.
E enquanto escrevo,
ainda resiste em mim uma parte que sobrevive.

Acredito que ninguém virá me ajudar.
Porque aprendi a não esperar.
Aprendi que ajuda demais decepciona.
Mas escrevo como quem espera ser encontrado.
Como quem joga garrafas no mar.
Esperando, secretamente, que alguém leia as entrelinhas.
Mesmo negando, ainda há em mim um farol aceso.

Me recuso a sonhar.
Como se sonhar fosse um luxo que não me pertence mais.
Como se já tivesse sonhado o suficiente por uma vida inteira.
Mas sonho todos os dias.
Com vidas que não vivi.
Com amores que só existem no papel.
Com finais felizes que nascem só na minha cabeça.
É a forma que encontrei de viver sem me iludir...
mas também de não desistir por completo.

Temo eu não ser mais eu.
Como se, aos poucos, partes de mim tivessem sido arrancadas.
Trocadas.
Desgastadas.
Como o navio de Teseu —
onde já não sei mais quais partes ainda me pertencem.
Mas tento me reconstruir todos os dias.
Com pedaços de ontem.
Com fragmentos de silêncio.
Com a coragem frágil de continuar escrevendo.
Porque escrever ainda é a única maneira que conheço
de tentar voltar pra casa.

Me enxergo em tudo que faço.
Mesmo que não percebam.
Mesmo que ninguém veja.
Mas precisei de uma segunda opinião
pra me ver nas contradições.

Doeu escrever tudo isso.
Mas sinto que essa dor faz parte
da “cura” que nunca virá.

⁠Tenho escrito tanta coisa.
Tantos textos tristes.
Sobre o que perdi, o que estou perdendo, e o que ainda vou perder.

Às vezes me pego achando que estou me tornando um escritor.
Cheio de ideias.
Um cientista da dor.
Alguém que entende o peso das palavras e os silêncios entre elas.

Penso que talvez eu esteja ficando mais inteligente.
Mais lúcido.
Mais capaz de observar o mundo com uma clareza que antes me faltava.
Mas, no fundo, o que mais vejo — o que mais sinto —
é a minha tristeza.

Ela está em tudo que escrevo.
Mesmo quando tento falar de outra coisa, ela escorre pelas entrelinhas.
Como se fosse a única coisa que realmente não me abandona.

E é estranho isso:
transformar dor em frase,
solidão em parágrafo,
falta em ponto final.

⁠Estamos cansados!

Cansados dessa vida que nos espremem todo instante.
Cansados da mesma rotina que engole nossos dias, um após o outro, como um abismo sem fim.
Cansados de tentar e sempre dar errado. De lutar contra algo que não sabemos o que é, mas que está sempre ali.
Cansados demais pra entender o mundo em que estamos, mas conscientes de que nunca entenderemos.
Cansados estamos.

Estamos com um vazio por dentro que nos consome, um vazio que não se preenche com nada.
Tentamos de tudo.
Viramos consumistas por prazer, gastando o que não temos para comprar o que não precisamos.
Chefes por ego, ditadores de nossa própria miséria.
Famosos por poder, mas vazios por dentro.
Estamos perdidos, sim, mas preferimos fingir que sabemos onde estamos indo.

Viemos do nada e iremos para lugar nenhum.
E tudo isso, esse peso, essa consciência, nos corrói.
O que será de nós se presenciarmos a verdade sobre a vida?
Que vazio teríamos?
Quem seríamos?
O que faríamos?
E o pior...
Quem nos tornaríamos ao contemplar a verdadeira forma de existência?
Vazios estamos por dentro.