Coleção pessoal de VegaLira
Partir para Acolher
Parti.
Não por negar o que me cercava,
Mas por honrar o que em mim clamava.
Foi preciso o silêncio,
o passo em outra estrada,
pra ouvir a alma que, há tempos, me chamava.
Deixei abraços pendurados no tempo,
promessas guardadas no vento,
mas não por desprezo ou esquecimento...
Parti porque não mais cabia onde eu me diminuía.
O amor verdadeiro não é prisão,
é fonte que busca expansão.
E eu era semente apertada na mão
pedindo terra, água e estação.
Fui,
mas levei comigo cada nome,
cada gesto que me fez ser quem sou.
Porque partir, às vezes, é o ato mais fiel
que alguém pode ofertar ao amor que ficou.
Longe, descobri que não se acolhe de verdade
se não se aprendeu a cuidar da própria vontade.
Que o abraço mais puro não vem do cansaço,
mas da alma inteira — de um novo espaço.
Voltarei, ou talvez não.
O agora não permite adivinhação.
O futuro não exige promessas,
mas contempla, sereno, minha direção.
Não volto por falta ou fraqueza,
mas, se voltar, será com firmeza:
na bagagem, a certeza aprendida,
de que o amor não acorrenta a vida,
mas se faz em presença inteira,
alma lúcida, mão verdadeira.
E agora, eu acolho...
Não com a urgência de salvar,
mas com a paz de quem aprendeu a amar.
Pois só transborda quem, antes,
se permitiu se encontrar.
O MELHOR PRESENTE
Não é o objeto caro,
nem o jantar à luz da moda.
O melhor presente não cabe em caixa,
não brilha em vitrine,
nem se mede em rosas cortadas.
É o olhar que compreende antes da palavra,
a escuta que acolhe sem defesa,
o abraço que não exige, apenas abriga.
É o silêncio que consola,
a presença que permanece
mesmo nos dias sem festa.
O melhor presente não vem do bolso,
vem da alma.
Não se compra em loja,
se cultiva no cotidiano,
entre as tarefas simples,
os pratos lavados,
as dores compartilhadas.
É o companheirismo que caminha junto,
a fidelidade que não se explica, mas se sente,
o afeto constante
não como prêmio, mas como escolha.
É a confiança que resiste às tempestades,
a aceitação que enxerga o outro
sem querer moldá-lo,
sem querer salvá-lo,
mas amando-o como ele é:
metade luz, metade sombra,
inteiro em sua humanidade,
auxiliando conforme sua vontade.
O melhor presente é não jogar.
Não manipular, não usar,
não fazer do amor um atalho
para vitórias vazias,
não ferir com as armas do ego,
nem disfarçar interesse com romantismo.
É dizer:
“Estou aqui, com meu amor limpo.
Não quero te vencer,
quero te entender.
Não quero ser tua prisão,
quero ser teu porto,
navegue em sua liberdade.”
Não brincar com o coração alheio,
como quem sopra flores ao vento,
pois o sentimento que nasce em alguém
é energia sagrada, é templo em movimento.
O Universo observa em silêncio... e sempre ensina.
Se não fores ficar, sê claro.
Se fores amar, sê inteiro.
Ser presença verdadeira
é mais divino que qualquer “eu te amo” passageiro.
Tudo o que é jogo, cansa.
Tudo o que é interesse, esvazia.
Tudo o que é raso, afoga.
Só o amor divino
esse amor sem máscaras, sem pressa,
sem medo de ser pequeno
é que sustenta duas almas lado a lado,
nos dias bons e nos dias de cansaço.
Então, com quanto ao amor,
seja ousado:
Ofereça o que não passa.
Ofereça presença.
Ofereça verdade.
Ofereça o seu coração,
não como promessa…
mas como compromisso,
de quem escolheu ficar,
unicamente por amor.
AMORES PRONTOS
O mundo vende amores prontos,
envelopes selados com promessas.
Mas o espírito, na forja dos encontros,
sabe que amar é mais do que pressas.
É não usar o outro como espelho,
nem como escada, nem guarida.
É ver o outro inteiro, sem conselho,
e ainda assim, chamá-lo para a vida.
É permanecer, se for verdadeiro,
e partir, se a verdade assim mandar.
Pois há fidelidade no caminheiro
que se recusa a profanar o verbo amar.
Quem é fiel ao próprio coração,
não se deita com a ilusão que passa.
Prefere a solidão com retidão
do que a companhia que desgasta.
O amor fiel não é o que sempre fica,
mas o que, ficando ou indo, é luz.
Porque sua raiz é ética rica,
e seu fruto: paz que não seduz.
Seja fiel, então, ao teu princípio,
não à carência que grita ou finge.
Pois quem ama com eixo e com princípio
não se perde... mesmo que se atinja.
FIEL
Ser fiel não é seguir a sombra alheia,
nem calar para manter aparências.
É dizer "sim" ao que a alma anseia
e "não" ao que trai suas consciências.
FÁCIL
É fácil amar quando é fácil.
É fácil sorrir quando tudo está em ordem.
Mas ser fiel quando o mundo diz “desista” —
Isso é Evangelho vivo.
Isso é o Cristo dentro de nós.
Fidelidade em Silêncio
Não é ao mundo que juro minha alma,
Nem às promessas do tempo que dança.
Minha aliança é com a chama que acalma,
Com o princípio que em mim se lança.
Não sou fiel por medo ou corrente,
Nem por contrato que o tempo desfaça,
Mas por amor ao que em mim é semente,
Que floresce em silêncio, e nunca passa.
Já fui tentado a vender meu destino,
Trocar valores por trégua e prazer...
Mas algo em mim, antigo e divino,
Me ensinou a perder para não me perder.
Fidelidade não é resistir ao afeto,
É amar sem trair o próprio caminho.
É sorrir, mesmo andando discreto,
Com a alma vestida de sol e de espinho.
Não nego a dor que o amor traz consigo,
Nem os riscos de viver com o peito nu.
Mas prefiro errar seguindo comigo,
Do que vencer negando quem sou e fui.
Se me vires distante, não é indiferença,
É só que às vezes é preciso calar.
Para manter a aliança, a consciência,
Com o Céu que insiste em me visitar.