Coleção pessoal de rosangela_montano_1
Quando começamos com delicadeza nosso dia...
O sol parece sorrir mais sereno,
e a alma se pinta em tom ameno.
O silêncio baila com a leveza,
e o coração não apressa, encontra a firmeza.
Pequenos gestos florescem em cor,
as falas surgem com mais ardor.
A vida se molda em doce canção,
quando há carinho na intenção.
E tudo se converte em poesia no compasso da emoção.
"Quando a Tarde Confessa Silenciosamente"
Há um instante, quando o sol se inclina e os contornos do mundo se acendem em brasa, em que a alma decide falar. Não alto. Mas em sussurros. É nesse tempo suspenso entre a luz e a escuridão que me confesso ao céu — e o céu, generoso, não me interrompe.
Ali, no exato momento em que o dia se despede sem prometer retorno, despeço-me também das culpas que nunca ousei nomear. Revelo as saudades que ainda ardem, os afetos que não soube cultivar, as palavras que morreram na garganta, as esperas que jamais se cumpriram.
Falo baixinho com a luz que se deita. E ela me entende. Há uma linguagem no pôr do sol que só se aprende com o tempo: a linguagem do não dito, do que pulsa nas entrelinhas, do que escorre por dentro, sem ruído. O céu se tinge de confissões veladas — e eu, feito parte dele, também me pinto de verdade.
No crepúsculo, tudo parece mais leve — até mesmo o que mais pesa. É como se o coração encontrasse abrigo na paleta avermelhada do entardecer. Como se o mundo, por um breve segundo, aceitasse a imperfeição como forma de beleza.
E quando o sol, por fim, desaparece, não é o fim — é o início de um entendimento. O escuro não assusta quando o coração foi ouvido. Porque ali, naquela cena de despedida que se repete todos os dias, minha alma reencontra a paz... de simplesmente ser.
Onde Deus Habita
No gesto humilde, o amor se revela,
não nas alturas, mas na terra molhada.
A bondade é ponte que nos nivela;
a lealdade, oração calada.
Bom dia, raio de sol,
que toca o peito e acalma.
Que a vida hoje seja leve,
feito brisa na alma.
Sorria com o coração,
desperte com poesia.
Que o amor guie teus passos...
E te abrace a alegria.
"A vida não é uma estrada a ser conquistada,
mas um jardim a ser tocado com os pés descalços da alma.
Quem apressa o passo perde o aroma das flores,
que só se abrem lentamente para quem sabe esperar."
"Ternura no Amar."
Ela tem ternura na alma,
um brilho suave que envolve,
um sussurro de brisa calma
que, em cada gesto, se dissolve.
Delicadeza ao amar,
como pétalas ao vento;
suas mãos sabem tocar
o mais puro sentimento.
Um bom coração ela guarda,
como um tesouro escondido;
em cada ato, uma palavra,
fazendo o amor renascido.
Ela veio vestir o mundo de amor,
com seus olhos de doçura,
pintando com cores e fervor
uma vida de ternura.
Com o sol brilhando no céu aberto,
O tempo flui calmo e sereno,
Envolvendo a tarde em seu aceno.
Que cada instante seja um presente,
De alegria e paz, eternamente.
Que a harmonia esteja em tua jornada,
Que as cores do entardecer te inspirem,
E os sonhos mais belos te conduza.
"Arraiá da Minha Infância"
Lá no sertão da lembrança, num cantinho do meu chão,
há um arraiá danado que mora no coração.
Era fita, era bandeira, era milho na fogueira,
e o céu, todo enfeitado, de estrela e brincadeira!
Tinha cheiro de canjica, de pamonha e de baião,
e o som da sanfona velha mexia com o coração.
Menino de roupa xadrez, chapéu de palha e alegria,
corria feito passarinho, até a noite virar dia.
A quadrilha era um encanto, com noiva toda enfeitada,
e o noivo, suando bicas, com a cara atrapalhada.
"Anarriê!" — gritava o moço — "Alavantú, minha gente!",
e o povo dançava junto, todo mundo tão contente!
Tinha pau de sebo e sorteio, tinha forró no terreiro,
e um velho contando história de um santo milagreiro.
Tinha reza e tinha riso, tinha fé e brincadeira,
e o céu era um véu bordado por Deus a noite inteira!
Hoje, quando fecho os olhos, volto logo àquele lugar:
vejo meu pai com a risada, mamãe a me abraçar...
É o tempo que vai passando, mas dentro da alma alcança
o arraiá tão bonito da minha doce infância.
“Entre partidas e retornos, o coração dança sua própria geografia de sentimentos. Neste poema, o amor se faz estrada, saudade e permanência — mesmo quando tudo parece se mover.”
"Voar com leveza ao som dos bandolins"
Voar… não com asas, mas com a alma acesa,
no instante suspenso em que tudo silencia,
e só resta o som — sutil — da natureza
tocando os bandolins da melancolia.
É nesse fio invisível entre o tempo e o vento
que o espírito se desfaz de seus espinhos
e se veste de luz, de música e sentimento,
como se a vida coubesse em poucos dedinhos.
Oh, bandolim que chora, tão pequeno e tão imenso!
Em ti há mares, luas, lembranças e alvoradas.
Cada nota tua é um verso que eu lanço, intenso,
ao céu que me abriga em suas madrugadas.
Voar com leveza... é despir-se do mundo,
desatar os nós das dores que se calam,
é entregar-se ao som, profundo e fecundo,
que os bandolins, com ternura, embalam.
E, nesse voo que não conhece altura,
onde o corpo não pesa e a alma é verbo,
descubro que a música é forma de ternura
e que amar... é tocar o invisível, sem reserva.
Ah, se todos soubessem do milagre escondido
no instante em que a nota vibra no vazio,
veriam que o som é um gesto adormecido,
e o voo… é um poema escrito no brilho.
Brilho do céu, brilho da terra, brilho da eternidade,
um chamado mudo que só o sensível entende.
Voar com leveza é tocar a imensidade
sem jamais perder a alma que se estende.
E quando finda o som, quando se cala o mundo,
ainda ecoa, dentro, o que jamais se explica:
a certeza de que o voo mais profundo
é aquele que nasce da nota mais lírica.
Registrado
"Quando Me Reconstruí em Mim"
Sim… já me desconstruí diversas vezes em espaços que nunca foram meus. Emocionalmente, me doei onde não cabia; silenciei meus gritos em nome de uma paz que jamais me pertenceu. Apaguei meus traços para me tornar cenário em histórias que não me reconheciam. E, por muito tempo, confundi aceitação com ausência de mim.
Mas foi no silêncio do meu cansaço que reencontrei o sussurro da minha alma. Entendi que não há beleza em caber onde a gente se encolhe. Que há dignidade em partir de onde a alma já não floresce. Foi então que recolhi meus pedaços — os que chorei, os que calei, os que resistiram — e me reconstruí… sem pressa, sem moldes, sem medo.
Hoje sou inteira, mesmo quando trago falhas. Não porque alcancei a perfeição, mas porque acolhi minhas imperfeições como parte do meu caminho. Sou feita de intensidade — e isso não me diminui. Me basta. Não peço permissão para ser quem sou. Tenho orgulho da personalidade que construí, das convicções que me sustentam, da lealdade que ofereço sem reservas.
Aprendi que viver a minha verdade é um ato de amor-próprio. E ser fiel a mim mesma é o maior compromisso que firmo todos os dias. Porque não há mais espaço para ausências dentro de mim. Agora, sou casa — e minha alma mora em paz.
E, se um dia alguém se perder de si, que saiba: é possível voltar. É possível se acolher com ternura, se refazer com amor e florescer com coragem. A reconstrução é um gesto sagrado de quem escolhe, mesmo ferido, não deixar de ser inteiro.
"Amizade é Laço que não Aperta"
Amizade é um sopro divino que nos encontra no meio da travessia. Não exige promessas nem contratos. Ela apenas é — como o nascer do sol, que não pergunta se queremos a luz. Surge serena e, quando é verdadeira, instala-se na alma como morada sagrada.
Está no olhar que compreende antes mesmo da palavra, no gesto simples que alcança sem invadir. É quando a ausência não fere, porque o coração sabe que há presença mesmo no silêncio. É quando o tempo pode passar com sua pressa e urgência, mas o afeto permanece intacto — como um jardim que floresce, mesmo sem testemunhas.
Amizade é laço que não se desfaz com a distância, não se rompe com as mudanças. Ela se molda, se refaz, se reinventa — mas nunca deixa de ser. É o ombro que acolhe, a palavra que acalma, o riso que divide o peso do mundo. É o espaço onde podemos ser inteiros — ou mesmo em pedaços — sem medo da rejeição.
Amigo é quem vê o invisível em nós. Quem conhece nossos bastidores e, ainda assim, escolhe ficar. É quem atravessa as noites da nossa dor com uma lanterna acesa de esperança. E, quando todos se vão, é quem permanece: silencioso, presente, eterno.
Porque amizade é isso: um amor sem pressa, sem cobranças, sem explicações. É afeto que se traduz em liberdade. É raiz que firma, asa que impulsiona, porto que acolhe e mar que leva adiante.
Amizade é amor que não precisa de rótulo. É vínculo que não se mede. É alma que reconhece alma, num pacto invisível de eternidade. E isso... ah, isso é raro. É sagrado. É infinito.