Coleção pessoal de reinaldohilario

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⁠As coisas que ficam

O dia começa sem pedir permissão.
A luz entra pelas frestas
como um pensamento antigo que retorna
sem ser chamado.
O chão continua firme,
mas o tempo escapa por entre as coisas paradas.

O som do mundo é sutil.
Mesmo o que se move faz silêncio.
As marcas ficam mais na memória
do que nos objetos.

O relógio não compreende o que mede.
Segue seu curso
alheio ao peso que certas horas carregam.
Nem tudo que passa termina.
Nem tudo que permanece continua.

Há coisas que não se explicam,
e ainda assim persistem.
O cheiro do pão,
uma página dobrada,
a forma exata de uma ausência
que nunca deixou de ocupar espaço.

⁠Quase Movimento

Hoje não começou cedo.
Nem com sol, nem com grandes planos.
Só um pouco de silêncio, e o barulho habitual das coisas andando devagar.

Ainda assim, há algo pulsando
uma vontade miúda,
que não grita, mas também não se apaga.

Temos carregado tanto peso,
e mesmo assim há espaço para mais um passo.
Não para chegar onde sonhamos ainda,
mas para sair do lugar em que paramos ontem.

Às vezes, continuar é só isso:
não desistir no meio da manhã,
abrir a janela,
respirar devagar,
e escolher, mesmo sem certeza,
não virar as costas para si mesmo.

⁠Entre as Coisas Leves

A brisa atravessa a casa
sem intenção de ficar.
Encosta na planta,
brinca com a luz
e vai embora.

O relógio não insiste,
só acompanha,
passo a passo,
como quem anda sem pressa
num fim de tarde qualquer.

As folhas caem lá fora
sem fazer cena.
Um cachorro dorme
com a barriga pro sol,
alheio a qualquer plano.

E entre uma coisa e outra,
fica esse espaço calmo
onde nada precisa acontecer.

⁠Teu sorriso

Teu sorriso é raio leve,
  no silêncio, um som que canta.
Brilha e passa, mas não some,
  feito estrela que encanta.

Riso solto, doce e puro,
  acende a noite mais fria.
É abrigo sem palavras,
  é calor e poesia.

⁠O Peso do Instante

O que é o tempo, senão um espelho
Que nunca reflete o que somos agora?
Um fio invisível, sutura e conselho,
Que une o nunca ao que já foi embora.

Caminhamos sobre um chão de incerteza,
Embora firme como vento.
Somos fragmentos, poeira e beleza,
Ecoando o silêncio do pensamento.

Perguntas nascem antes da fala,
Respostas se perdem depois do porquê.
A vida não grita, apenas sussurra:
"Ser é o risco de não entender."

Nós pisamos em um abismo,
Com olhos famintos de eternidade
Pois mesmo o nada, quando olhado de frente,
É matéria crua da realidade.

⁠**Liberdade de Ser Feliz**

Não há mapa para esta alegria
ela nasce quando o peito
desata os nós que outros amarraram.

É poder dançar sem música,
gritar sem palavras,
chorar sem desculpas.

É a cor que você escolhe
no meio do cinza,
o abraço que não pede permissão
para existir.

Alguns dizem que é leveza,
mas às vezes é pesada
carrega a verdade como um fardo
e mesmo assim voa.

Não cabe em grades,
nem em conceitos,
nem no medo que tentam te vender.

É sua.
Sem explicações.
Sem pedir licença.

⁠O peso do agora

O tempo não passa.
Somos nós que deslizamos por ele,
como folhas levadas por uma corrente invisível.

Chamamos de presente o que já se foi,
e de futuro o que nunca se deixa alcançar.
Mas o agora
esse ponto microscópico entre dois abismos
carrega o peso de tudo.

Permanecer é impossível.
Tudo pulsa em transformação,
mesmo na pedra,
mesmo no silêncio.

Perguntamos o sentido das coisas
como quem interroga o espelho,
sem notar que o espelho apenas devolve
aquilo que somos incapazes de ver.

Existe um centro dentro de nós
que não se move,
mas que observa
todas as nossas tentativas de ser.

E talvez a sabedoria
não esteja em encontrar respostas,
mas em escutar o que permanece
quando todas as perguntas cessam.

Todos os Dias

Levanto antes do sol aparecer.
Não porque quero, mas porque preciso.
O silêncio da manhã traz lembranças,
algumas que pesam, outras que empurram.

O corpo reclama, mas se move.
A mente grita, mas ainda pensa.
Há uma força escondida nas pequenas escolhas:
vestir a roupa, sair pela porta, continuar.

Não é heroísmo.
É sobrevivência com alma.
É entender que nem todo dia será grandioso,
mas cada dia vivido conta uma história de persistência.

Ser forte não é vencer sempre.
É não se entregar, mesmo quando tudo diz que é mais fácil parar.
É respirar fundo, olhar pra frente
e dar mais um passo.

Um Dia Que Pensou

No silêncio da manhã que se anuncia,
brota a dúvida: o que faz o tempo valer?
Será o instante que passa e se esvazia,
ou o olhar que aprende a compreender?

O dia especial não grita nem exige
ele se insinua, sutil como o vento.
Está no gesto que jamais se finge,
na paz que nasce dentro do pensamento.

Cada segundo é um espelho suspenso:
reflete escolhas, acertos, enganos…
Viver não é seguir um plano imenso,
mas dançar com o acaso de mãos.

Ao fim da jornada, o que permanece
não é o que vimos, mas o que sentimos.
Porque o que torna um dia inesquecível
é o que mudamos em nós mesmos.

⁠Mundo Vago

Caminho por ruas que não respiram,
muros mudos, olhos sem luz.
O tempo escorre entre dedos frios
como um lamento que não se traduz.

O mundo é uma casa desabitada,
com portas trancadas por dentro,
e eu sou o eco de alguém que partiu
antes de ter sequer um centro.

As vozes sumiram nas esquinas,
os toques morreram nos gestos.
O amor virou uma palavra vencida
perdida entre gritos discretos.

Nenhuma cor permanece na pele,
nenhum som me alcança inteiro.
Sou casca de sombra flutuando
num céu sem ar, derradeiro.

Há dias em que nem a dor responde,
em que o silêncio pesa demais.
E sorrir é apenas um espasmo,
nos cacos de tempos normais.

Não há horizonte, só névoa.
Não há futuro, só negação.
E tudo o que restou de mim
é o vulto de uma ausência em expansão.

⁠O que sabemos, afinal?

O que sabemos, afinal,
senão pedaços do mundo
que aceitamos como verdade?

Chamamos de tempo o que escapa,
de realidade o que conseguimos tocar,
de sentido aquilo que não suportamos perder.

Mas e se tudo for só passagem,
um instante entre dois vazios,
um sopro em um lugar sem nome?

A mente busca razão,
mas o coração, às vezes,
caminha por labirintos que a razão jamais decifra.

A vida não explica
ela propõe.
Nos dá perguntas vestidas de rotina,
nos entrega silêncio quando pedimos respostas.

Talvez viver seja isso:
errar com dignidade,
amar com imperfeição,
e aprender, aos poucos,
que o mistério é parte do caminho.

Porque não há fim que revele tudo,
nem início que nos prepare por completo.
Só o agora,
esse instante que já se desfaz enquanto o nomeamos.

⁠Entre os Instantes

A vida não avisa.
Ela chega como vento
às vezes brisa, às vezes tempestade.
Passa pelos dedos,
mesmo quando apertamos forte.

Há dias em que tudo pesa,
outros em que o silêncio consola.
E vamos indo,
sem saber se escolhemos o caminho
ou se o caminho escolheu a gente.

Colecionamos memórias
como folhas secas em cadernos esquecidos,
tentando dar sentido ao que não tem nome.

Talvez a vida seja isso:
uma pergunta que muda de forma
antes que possamos responder.

E ainda assim caminhamos
com passos que tropeçam,
mas nunca param.

Talvez a vida seja um enigma sem resposta, e o sentido não esteja nas perguntas que fazemos, mas nas estradas que escolhemos. Cada escolha é um universo que deixamos de viver, e cada passo é uma invenção do destino, como se fôssemos autores de um livro que nunca lemos até o fim.

Um Pequeno Sorriso

Há dúvidas que se instalam como neblina na mente densas, persistentes, inalcançáveis por qualquer lógica. E há tristezas que não choramos, porque se tornaram parte da respiração cotidiana.

Seguimos por instinto, como quem anda sobre um fio invisível, disfarçando o peso com gestos comuns, ocultando o abismo sob passos calculados.

É uma sobrevivência sutil: esconder as ruínas enquanto oferecemos fachadas inteiras.

Talvez seja isso o que chamam de força
não a ausência da dor, mas a habilidade de seguir mesmo quando tudo desaba por dentro… e ninguém percebe.

⁠Quando o mundo se sustenta

Há forças que não têm nome
mas sustentam o que somos
como raízes ocultas na terra
nutrindo sem serem vistas

O visível é breve
como reflexo na água
mas o invisível permanece
feito essência que não se apaga

O tempo não caminha em linha
mas se curva em espirais de sentido
e o amor, quando profundo
não precisa provar que existe

Não é o saber que acalma
mas o sentir que acolhe
há luz nas pausas do pensamento
e abrigo nos vazios do entendimento

Tudo o que escapa ao controle
ensina o valor da entrega
e o silêncio que parece ausência
é, muitas vezes, o lugar mais cheio de presença

⁠Caminhos Invisíveis

Há passos que damos sem ver o chão,
movidos por algo que não tem nome.
Às vezes é fé, outras é fuga,
mas sempre há um porquê que só o tempo revela.

O mundo ensina com mãos ásperas,
e nem toda dor vem para ferir.
Algumas vêm para abrir janelas
em lugares que julgávamos muros.

Carregamos perguntas como bagagem,
algumas pesam, outras sustentam.
E no vaivém das estações da alma,
descobrimos que nem tudo precisa resposta.

A vida é feita de curvas e quedas,
mas também de olhares que nos levantam.
E mesmo sem saber para onde ir,
o mais bonito é seguir e sentir.

⁠**Sorrisos**

São só curvas, um traço no rosto,
Um breve instante, quase um repouso...
Mas quem diria, nesse contorno singelo,
Tanta luz, tanto calor, tanto conselho?

São só músculos, gesto fugaz,
Mas quando surgem, num claro momento,
São como sóis, rompendo a neblina,
Iluminando o mais fundo do vento.

São pontes leves sobre o abismo,
Quando o silêncio pesa demais.
São lenços suaves para o pranto,
São promessas em dias maus.

Podem ser tímidos, quase sussurros,
Escondidos nas dobras do olhar.
Podem ser largos, cheios de vida,
A fazer o mundo cantar.

Podem ser frágeis, em noites de temporal,
Mas mesmo assim, uma luz a brilhar.
Podem ser fortes, a quebrar muralhas,
A fazer o ódio se esvair.

São linguagem que todos entendem,
Sem precisar de tradução.
São abraços que não usam braços,
São canções sem precisar de voz.

São sementes de esperança plantadas
No solo áspero da realidade.
São flores que nascem nas frestas
Da mais dura adversidade.

Ah, sorrisos... pequenos milagres,
Tesouros que todos podemos dar!
Não custam nada, mas tudo transformam,
Basta deixá-los brotar... e voar.

⁠**Entre instantes e eternidades**

Num sopro nasce o dia, num sopro ele se vai,
Como folhas ao vento que o tempo desfaz.
A vida é caminho não reta, mas curva,
Feita de silêncios, partidas e voltas turvas.

Há beleza em cada ruga do tempo,
Em cada erro que virou ensinamento.
O sorriso do agora, o choro do ontem,
Constroem o ser que somos e que seremos também.

Medimos a vida em horas, minutos,
Mas seu valor mora nos instantes absolutos:
Um olhar sincero, um abraço apertado,
Ou o suspiro que precede o inesperado.

A vida não pede promessas eternas,
Só presença nas breves cenas.
E quando tudo parecer sem razão,
Talvez viver seja só… sentir com o coração.

⁠**Contraponto à Dor:**

A vida reserva desafios, perdas e tristezas inevitáveis. É justamente nessas horas que as pequenas coisas boas ganham um poder imenso de cura e resiliência. Uma flor que brota numa fresta, o carinho incondicional de um animal de estimação, uma mensagem carinhosa, um gesto gentil de ajuda, o sabor reconfortante de uma comida simples... Elas não apagam a dor, mas são como pequenas luzes que nos lembram que nem tudo é escuridão, que a beleza e o bem ainda existem, mesmo nos momentos mais difíceis. Elas nos ancoram à esperança.

⁠Entre o Silêncio e o Vento

No fio da tarde, o tempo se dobra,
carrega lembranças no sopro do ar.
O mundo respira, mas quase não fala,
tudo que importa começa a calar.

Os passos se perdem nas sombras do chão,
mas dentro de mim, há fogo e caminho.
Mesmo na dor, renasce a esperança,
feito uma flor brotando sozinha.

O olhar se levanta, encontra o infinito,
não pelo céu, mas pelo sentir.
Pois quem já caiu, aprende o segredo:
é no silêncio que a alma decide existir.