Coleção pessoal de poeticos

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SANGUE NO RISCO

Quem tem alma
não tem calma.
Quem tem verdade
não tem demora.
Quem tem sentimento
é cheio de trauma.
Só o falso
não se apavora.
Quem tem paixão,
não tem mais ou menos.
Quem tem princípios
não tem fim.
Os com intensidade
nunca estão plenos.
Porque quem
pa
pel
ou corta
ou rim.

(Vanessa Brunt)

A dor, na ausência, às vezes machuca. A dor, na presença, o tempo inteiro fere. A saudade, na ausência, às vezes caduca. A saudade, na presença, a ausência já confere.

(Vanessa Brunt)

Os mais fortes são os que sentem muito.

(Vanessa Brunt)

FLORESCER

Nas quedas, só quem cai no fundo é quem pode regar raiz.

(Vanessa Brunt)

Bati a cabeça na quina
E no sangue que escorreu
Sequei.
Perdi memória e cafeína
E o pedaço que caiu
Deixei.

Cansaço de todas as quedas
Venceu o meu mar de cruz.
Desde lá, o meu peito carrega
Receio no que conduz.

De preto e branco – e transparente
Sobrou nem sei o quê.
Só um tom indiferente que nem deu
Pra conhecer…
E aí
Veio sua cor no meio da minha fraqueza
Lembrando que construir muro
Nunca é fortaleza.
Derrubando o meu eu de mentira
Só pra (eu) me encontrar.

E aí
Veio pra me colorir
No meio da pobreza
Lembrando que eu estava tendo
Mais gasto e despesa
Sendo de uma planeta morto
Só por controlar.

Agora
Traz o seu universo e faz de mim
Um coliseu
Deixa eu conhecer a cor
Que não nos pertenceu…
E fazer dela mais bonita
Pra nossa chegar.

Qual é o tom amarelo
Que te escureceu?
Deixa eu conhecer a dor
Que não reconheceu
Que o ouro estava escondido
Onde a gente dançar.

E aí
Eu me encontro por ser sua
E você por ser meu.
Aí cê vira mais de si
E eu cresço no que nos doeu
Lembrando
Por que eu voltei a mim
Pra te somar.

Tira esse casaco, a camisa
Chega e me aflora
Que só quem sente frio é quem
Pode escolher
Como fazer conforto e juiz.

Abre a tampa do buraco
E não nos deixa fora
Que só quem cai no fundo
É quem pode enterrar morto
E fazer raiz.

E eu colo as nossas bochechas
No meio dos invernos
Enquanto acham, eles
Que o (só)l é perspicaz.
Qual a cor das suas queixas
E do que lhe é eterno?
Eu quero lápis nos pedaços
Do que nos ré, faz.

Se os mais fortes
São os que sentem muito
Como eu diria há um tempo atrás…
Que cor é que o seu planeta
Pode ser e traz?
Tô te pedindo um passaporte
E ele não é gratuito
Qual o preço do planeta
Onde o pouco
Não é muito?

Vem
Ser o troco
Do que a vida nos deve
Vamos como em um filme
Com coragem de olhar.

Vem ser tudo de uma vez
Que é o suficiente
Pega essa lanterna
Para (só) assim,
Nos assombrar.

E aqui
Bato a cabeça na quina
Espero que limpe o sangue
E que compartilhe o seu.
Vou abraçar sua cicatriz
Se formos tipo gangue
Dentro de um museu.
Que eu quero você completo
E sem nada para esconder
Qual é a cor do seu planeta
Onde o meu pode caber?

Quero que tudo de antes
Seja pra explicar a força
Do que vem agora
E que essa não seja
Mais uma pandora.
Eu vou abrir a caixa
Porque, aí, me achei
Se ser leve é levar
Pra que descartar
O que nem poderei?
Porque já nos bordei
No que lembrei de mim
E no que eles perdem
Por demorar no sim.

Será
Que a vida veio nos pagar?
Será
Que a poupança nos
Poupará?
Será
Que a pergunta pode
Não
Nos machucar?
Será que podemos ser
Com ponto
No será?

Eu sei
Que mesmo se não ficar
Deverei dever um tanto
Por cê ter feito
O me encontrar.
E eu só espero
Que tenhamos a inteligência
De nunca mais tanto voltar
Ao que seria nossa ausência
E fraqueza por não chorar.

Então,
Qual a cor, me diz
Pra desvendar seu planeta
E não morar de aluguel?
Eu quero te colorir
Passeando em um cometa
Onde bater a cabeça
Não seja algo cruel.

Cê promete me sarar
E nunca fazer buracos
De balas
Para depois dar band-aid?
Quero sentar na sua mala
Fazer dela a nossa sala
E nos fazer viver
De sede.

Os mais vivos são os afogados. Os únicos que conseguem, realmente, respirar.

(Vanessa Brunt)

Leia a história enquanto sentir que pode escrevê-la.

(Vanessa Brunt)

Legado é sobre caráter. E caráter não é sobre a cicatriz. É sobre o que faz depois dela.

(Vanessa Brunt | Livro Depois Daquilo)

No fim, tudo é poesia. Sol-te, fica. Parte, arte. Sala abandonada não está vazia. Liberdade não faz descarte. Toda morte faz algo viver. Toda força abraça o doer. Nada nunca realmente se vai. Só voa quem ninho não trai. Dar a volta por cima é saber voltar aos entornos. As cinzas explicam madeiras ou madeiras explicam as cinzas? Todo estudo merece retornos. Trânsito ou árvore? Razão ou emoção? Murchar ou brotar? Pra quê divisão? Na lateral, um ajuda o outro a florescer. Depender é também ser independente. No comercial, esqueceram de dizer. Crescer é também não seguir em frente. Entre ter tanto e ter (n)ão, só depende de viver sentindo. Olha por outra angulação? Tem mais um olho em estar r(indo).

(Vanessa Brunt)

23

Chorando na calçada
Com as mãos nos bolsos
Porque ainda busco
O que procurar.
Vivendo emperrada
No meu calabouço
Porque não há ninguém
Salvo a nos salvar.
Enxugando a cara quando passam perto
Ela morreu em um incrível deserto
Que diziam ser casa
Para se encontrar.
Engolindo velas pelo passo certo
Apagando chamas pelo céu aberto
Ela não sabe mais
Como se queimar.
Pomada, pomada
E estão todos anestesiados
Ninguém conversou
Então
Ninguém achou
A cura para os mudos
Cansados.
Chegou a época de ouro
Da caça ao maldito tesouro
E o monte de luz veio
Para nos cegar.
Endurecendo de tanto sorrir
E esquecendo que só vale
O que, se for,
Nos fará chorar.
Chegou a fase do acerto
Pedra que todos dizem lapidar:
Mas ninguém tem coragem
De trocar sangue para ver durar.
Chegou a era do torto patrono
Nem mesmo ela pôde escapar da acidez
Ela quer tanto não errar
Que quase não sabe mais tentar
Aos 23.
Estão todos desaparecidos
De tão achados por si
E dizem ser amor-próprio
Sair cortando o que acudir.
Distante do precisar
Discurso de (des)querer
E a independência veio nos isolar.
Chegou a época da chuva
Eles abriram guarda-chuvas
(Ao meu redor)
Muito velhos para crescer
E acabam novos só para murchar.

(Vanessa Brunt)

(...) Marcados demais para a ingenuidade
Sozinhos demais para o acolhimento
Apunhalados demais para a confiança.
Esquecido que só vale o que causa
Ansiedade
Enrugada demais para ser de momento.
Que dure até enquanto
pudermos ser
crianças.

Paciência somente para o que der paz e ciência. (Vanessa Brunt – Livro Depois Daquilo)

Esse negócio de dizer que o que vem fácil, vai fácil, é um gigantesco levantar de muros, é puro embaraço. Só ocorre assim para quem não rega depois de receber a horta, para quem viu a facilidade inicial de algo como aviso de não indispensabilidade da dedicação. Para ser fácil, de fato, é justamente o contrário requerido. O amor, só é amor, se construir fácil. A paixão, só é paixão, se voltar fácil. O talento, só é talento, se fluir fácil. O encanto, só é encanto, se nascer fácil. O prazer, só é prazer, se durar fácil. O fácil é o único tipo de pé que faz valer a caminhada nas pedras. O que pede demasiado ardor e vem com um apanhado de barreiras, só é tesouro se, no fundo, ou melhor, no caminho, desembaraçar fácil. Paciência somente para o que der paz e ciência.

Sentir demais é apenas sentir. O excesso, para quem sente, é somente a falta.

TRANSBORDO EM TUDO.
FICO ONDE COUBER.

(...) Desculpe-me
Por me demorar
Mas só depois percebi
Que o exagero
É sinônimo
De estar maduro

(…) E, no fim, o íntegro se desculpa
E o assassino faz vitória
Porque dizem que liberdade é solidão
E cara de choro é vexatória.
Força de dentro vira nada
Esquecem que ela vem da maior fraqueza
Mas eles dizem que faca nas costas
É pura falta de destreza.

Então,

Desculpe-me, mas não posso ficar.
Galileu foi louco
Einstein foi burro
E eu sou o drama desnecessário.
Desculpe-me, mas não posso ficar.
O traído é caçoado
O traidor é aclamado
E eu sou a culpa desse falsário.

Desculpe-me
Desculpe-me!
Mas eu, realmente, não posso ficar!
Eu ponho exclamação em todas as coisas
Porque todo o resto, é banalizar.
Desculpe-me
Perdão!
Eu não sei lidar com este mundo!
Não posso ficar calma
Porque tudo o que sei
É ficar
Fundo.