Coleção pessoal de paulo_martirio

Encontrado 1 pensamentos na coleção de paulo_martirio

⁠Do Fundo do Poço, Eu Voltei

Ser trocado por outra pessoa. Se você já passou por isso, sabe que não é só sobre perder alguém — é sobre ser arrancado de um lugar que você achava seguro. É uma das dores mais brutais que um ser humano pode sentir. Uma espécie de morte em vida. Um terremoto emocional que te lança do céu ao inferno em questão de minutos.

Foi exatamente isso que aconteceu comigo. Um dia eu estava lá em cima, acreditando no amor, acreditando nela… e no outro, me vi no fundo de um poço escuro, frio e silencioso. Fui jogado lá. Por ela, por eles, não sei ao certo. Só sei que caí. E ao cair, me quebrei todo.

Não falo de fraturas físicas — falo da alma. Minha essência se dilacerou. Minha identidade foi esmagada. Eu mal conseguia me mover, apenas sentia. A dor era insuportável. E o mais cruel? Eu ainda esperava que ela descesse até ali e me estendesse a mão. Eu acreditei que ela viria. Esperei. Dias. Semanas. Mas ela não veio.

Enquanto eu agonizava, na minha mente se repetia a mesma cena: ela sorrindo ao lado dele, vivendo a vida como se nada tivesse acontecido. Enquanto eu apodrecia em silêncio, ela seguia. Sem olhar pra trás.

E foi aí, nesse abandono, que algo dentro de mim despertou. Eu me sentei, com dor, com dificuldade. E pela primeira vez, em meio ao caos, olhei para mim mesmo. Observei meus ferimentos emocionais. Vi o estrago. E mesmo em choque, entendi: se eu quisesse sair dali, teria que cuidar de mim. Ninguém viria me resgatar.

Comecei devagar. Juntei os pedaços. Recoloquei meus “ossos” no lugar. Costurei a carne rasgada da alma com as mãos tremendo. Sem anestesia, sem apoio, sem manual. Apenas coragem. E dor. Muita dor. Mas cada ponto que eu dava em mim mesmo era um ato de amor próprio.

Naquele momento, eu comecei a arrancá-la de dentro de mim. E foi o processo mais difícil da minha vida. Ela estava tão entranhada, que parecia que me desfazer dela era o mesmo que me desfazer de mim. Mas eu insisti. Cuidei das feridas, troquei os curativos com carinho. Me tratei como alguém digno de ser amado — por mim mesmo.

E assim, depois de muito tempo, percebi: eu estava pronto pra escalar. Mas não podia subir de qualquer jeito. Eu precisava estar forte. Preciso. Curado. E aos poucos, fui ganhando força. Fui entendendo onde me perdi, como me moldei pra agradar, como fui deixando de ser quem eu era só pra caber num espaço que nunca foi meu.

A jornada pra fora daquele poço foi longa. Cansativa. Exaustiva. Ainda estou em reabilitação. Ainda faço “fisioterapia emocional”. Mas hoje, eu posso dizer: eu voltei.

Mais forte. Mais consciente. Mais verdadeiro.
Eu não vejo mais o mundo com os mesmos olhos, mas talvez seja exatamente isso que me dá paz: saber que eu sobrevivi. Que eu fui o meu próprio herói.

E que agora, finalmente, sou eu quem cuido de mim.