Coleção pessoal de NaicanEscobar
A minha autoestima, muito tempo que eu não vejo, Talvez esses problemas são causados por mim mesmo são lágrimas e não drogas que deixam o meu olho vermelho, talvez eu encha lugares com minhas esperanças e medos.
Carta que você nunca vai ler
Oi.
Eu não sei exatamente por que estou escrevendo isso agora, talvez seja só mais uma dessas noites em que tudo volta. E você... sempre volta também. Não com uma mensagem ou uma ligação — isso seria simples demais pra alguém como você. Mas volta no vento, no cheiro de rua molhada depois do calor, em músicas que não tinham nada a ver com você até começarem a ter.
Eu penso muito naquele tempo. Não sei nem se posso chamar de “nós”, porque “nós” nunca aconteceu de verdade. Mas me lembro de tudo como se tivesse acontecido. O jeito que você sorria de lado, como quem carrega segredos demais no bolso. Aqueles dias longos em que eu fingia que era só casual, quando na verdade eu queria o mundo com você. E você? Você só queria passar.
Você chegou sem prometer nada, e mesmo assim eu me entreguei como se tivesse ouvido juras. Fui todo presença, enquanto você era ausência em forma de gente. Você dizia que não era pra durar, mas eu fechei os olhos e pedi em silêncio pra que o tempo congelasse. Idiota, eu sei.
Tinha sol, sal, lençóis bagunçados e despedidas sem data. Era bonito, sim, mas era uma beleza frágil — daquelas que quebram fácil se a gente aperta demais. E eu apertei. Segurei tudo com tanta força que acabou escorrendo pelos dedos. No fim, ficou só o gosto agridoce do quase. O que a gente viveu foi um talvez disfarçado de certeza.
Hoje eu sigo em frente, mas não totalmente. Ainda passo por lugares esperando te ver. Ainda escuto músicas que você nunca ouviu, mas que me lembram você. E às vezes me pergunto: será que você pensa em mim também? Ou fui só uma estação qualquer no seu caminho?
De qualquer forma, isso é só um desabafo.
Você nunca vai ler.
Mas eu precisava escrever.
Setembro dormiu cedo
Areia nos bolsos e o cheiro do mar no cabelo.
Era só isso. E, por um tempo, foi tudo.
As janelas do carro abertas,
e você dizendo que não queria prometer nada.
Eu disse que também não queria.
Era mentira.
Te esperei como quem espera verão em cidade fria.
Escrevi seu nome na parte de dentro dos meus pensamentos
e apaguei com o canto da mão —
como se isso bastasse pra esquecer.
Mas ainda vejo a gente,
preso num instante que nunca virou agora,
num fim de tarde que não sabia que era fim.
Setembro dormiu cedo,
e eu fiquei acordado esperando você voltar da escola.
Eu me lembro:
das suas costas contra o céu dourado,
de quando você dizia "só hoje",
como se amanhã não fosse pesar.
A gente se encontrou no intervalo do mundo,
nos bastidores da vida real.
Promessas murmuradas atrás do mercado,
planos que só eu levava a sério.
Você era um talvez disfarçado de agora.
E eu achava que tinha sorte.
Eu cancelei noites, amigos,
e até a mim,
só pra ter mais alguns minutos de você.
Você, que nunca foi meu.
Mas me chamava de "sorte"
quando esquecia o nome das outras.
A gente era o que não era.
O que quase foi.
O que não coube no tempo certo.
E eu ainda te procuro nos dias nublados
e nas músicas tristes demais pra tocar de manhã.
Você se lembra?
Do portão velho,
do meu "entra no carro",
da minha espera que você nunca pediu?
Do sol batendo no seu ombro,
e de mim achando que aquilo era amor?
Setembro dormiu cedo.
E eu fiquei, sozinho,
esperando que você acordasse de novo pra mim.
Mas não acordou.
Você nunca foi meu.
Mas fui inteiro por você.
Hoje acordei pensando no quanto o mundo gira — e a gente gira junto, sem perceber, meio tonto.
As pessoas mudam, os lugares mudam, e às vezes nem reconhecemos mais quem fomos ali, naquela rua que parecia nossa, naquele riso que parecia pra sempre.
É estranho — tão estranho — ver amigos virarem estranhos, amores virarem lembranças, e lembranças virarem silêncio.
Mas talvez seja assim que a vida ensina: que cada pessoa, cada abraço, cada história tem um papel, mesmo que seja nos ensinar a desapegar.
Às vezes, quem mais nos marca é quem mais nos parte, e quem mais nos fortalece é quem mais nos faz chorar.
Eu, que sempre escrevo com o coração aberto, percebo que sou feito de todos esses retalhos:
dos que vieram e se foram, dos que ficaram, dos que doeram e dos que ainda doem.
E, mesmo que doa, é isso que me faz quem eu sou.
E quem eu sou é quem eu escolho ser — um coração que não desiste de sentir.
é fácil pensar: esta
é uma pessoa sobre
a qual eu gostaria de saber,
e é ainda mais fácil,
e muito mais assustador,
sentir: essa é alguém
para quem eu adoraria
abrir o meu coração.
Meus olhos já viram o nascer e o morrer de muitos dias. Já se perderam na vastidão do horizonte e encontraram abrigo no brilho de um olhar. Carregam histórias que não ouso contar, cicatrizes invisíveis que o tempo não apaga.
Cada par de olhos que cruzo é um universo: alguns, tempestades inquietas; outros, brisas que acalmam. Há olhos que gritam em silêncio, e outros que escondem segredos atrás de um brilho ensaiado. Eu aprendi a escutar com os olhos, porque a vida nem sempre fala – às vezes, ela apenas olha de volta, esperando que eu entenda.
E no fim, o que são os olhos senão espelhos do que nos tornamos?
Eu ainda converso com você quando grito para o céu,
E nas noites em que o sono te abandona,
Você escuta os ecos dos meus pensamentos furtivos.
