Coleção pessoal de Matheusfv

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FUNÇÕES DE LINGUAGEM
Hoje eu acordei buscando a compreensão gramatical do dia,
Sem espelho à minha frente apenas pensei sem ver
E sobre nós, digo, sobre mim e sobre o dia, construí muitas funções de linguagem.
Tentei ser denotativo, mas apelativo e expressivo sem ser poético foi o que consegui,
Assumindo, com a humildade de quem se rende, a metalinguagem como sendo fonte de auto análise e como desculpa para ser conativo.

DETALHES
Carrego coisas que muitos já teriam abandonado em uma esquina de um bairro desconhecido ou tão somente deixadas esquecidas numa prateleira qualquer de uma estante distante. Mas não eu, faço da gota o meu oceano e nele navego. Carrego pequenos detalhes com grande atenção e na relatividade de tudo nunca deixei que passassem sem os convidar a entrar para tomar um copo de água em meu mundo. Carrego-os para onde quer que eu vá, eles fazem parte de mim, ajudam-me a ser quem sou, lembrar de quem eu era, projetar o que não quero e tudo mais que preciso, mas carrego somente o necessário, sem grande bagagem, aliviando o peso do percurso.
São os milésimos, os milímetros, as miligramas que compõem o meu mundo, um mundo só meu, com suas próprias cores e cheio de detalhes.

O TALVEZ
Talvez agora, talvez depois, talvez algum dia, talvez dia algum, talvez sim, talvez não. O talvez é um passageiro que se senta ao meu lado e depois levanta, muda de lugar e depois volta, inúmeras vezes no longo percurso. É uma dúvida certa, uma certeza que tenho.

Eu ando pensando, penso parado também, o que de certa forma me faz um andarilho da mente, um ausente ser presente. Ando, não importa aonde, paro não interessa onde, sempre estou sentindo os meus pensamentos, sempre estou pensando sobre meus sentimentos.

MATEMÁTICA DE SOLTEIRO
"Nós", solteiros, de certa forma, estamos todos nas prateleiras, sendo escolhidos e escolhendo pelo sabor e pela embalagem. Por descuido somos substituídos pelo produto mais novo, que também será substituído, numa sucessão frenética que alimenta a solidão e não aplaca a fome. Tornamos-nos mais um rostinho na lista de nomes do "Whatsapp" e do "Facebook", tornamos-nos estatística e vaga lembrança. Nunca gostei de matemática, mas não tem como a ignorar, afinal nos tornamos números de uma simples equação que fazemos questão de complicar.

És um culpado sem direito a defesa,
um verbo mal conjugado,
uma conjugação mal interpretada.
És a areia que o vento não leva,
o indefinível que teimamos definir.
Apenas sei que o teu preço,
poucos conseguem pagar.
Como transitamos
no intransitivo AMAR.

O palhaço sorriu e ninguém percebeu o seu choro,
O palhaço chorou e todos riram,
O palhaço falou verdades brincando e ninguém acreditou.
O palhaço rolou, correu, pulou e gesticulou mas ninguém entendeu o seu pedido de socorro.
O palhaço foi o único que não achou graça por assistir uma agonizante platéia incapaz de compreender que suas brincadeiras falavam de uma triste realidade e que suas verdades eram brincadeiras sem a mínima graça.

DIÁLOGO ENTRE SOLTEIROS
Em uma conversa, a moça perguntou ao rapaz:
- Você está solteiro por opção? To curiosa porque você é um cara muito legal, inteligente, bonito, educado, bem humorado…
O rapaz sem pestanejar respondeu:
- Não por opção e sim por sua falta. Tem muito barulho no mundo e ninguém mais ouve ninguém, não escutamos o coração alheio, olhamos cada vez menos nos olhos uns dos outros por medo do vazio que carregamos.
Nesse barulho ganhamos o receio do silêncio por medo do que vai gritar dentro de nós.
Está cheio de gente a minha volta, toco agora mesmo, sem tocar, uma pessoa do outro lado do mundo, e permaneço só e assim como eu, a maioria.
Ass: Rapaz.

Esse cara sou eu?
Com o sucesso "esse cara sou eu" vejo comentários e suspiros de mulheres que procuram "esse cara" e outras que dizem que " esse cara" não existe.
Será que quem procura "esse cara" é "essa mulher"?
Porque se for "aquela mulher" só encontrará "aquele cara".
Então, para "aquelas mulheres" (que são consideráveis nas estatísticas), desculpem-me acabar com seu conto de fadas da vida real, mas "esse cara" morreu.
(texto escrito em virtude da música do Roberto Carlos que fez sucesso em uma novela e gerou muitos comentários por parte das mulheres nas redes sociais)

Esperava pelo tempo que, desconsideradamente, não me esperou. Agora preciso partir, acelerar porque ele me olha com desdenho pelo retrovisor e, apesar de o sentir perto, o vejo sumindo no horizonte.

Simples explicações e complexa compreensão, gerando-me a dúvida sobre o simples e o complexo, fazendo-me duvidar também sobre a sanidade do emitente e a insanidade do destinatário, em que parte a sanidade perde-se em si, em que parte a insanidade tem razão.
De simples não resta nem esse meu pensamento que perplexo fica com o complexo entendimento sobre a simplicidade.

De poucas palavras eu estou
excluso das reuniões de letras
Que libertavam meus pensamentos,
Não lidos, solitários trocados pelas migalhas da indiferença, superados pelo ibope das banalidades da imensidão desse universo digital.
Desprezo aqui o medo do erro, agudos ou circunflexos, dos acentos, dos conceitos maiúsculos em frases minusculas, dos conceitos minúsculos sobre ideias maiúsculas.
Poupo-me, pois no meu silêncio eu não ouço os gritos da indiferença, na minha omissão eu não percebo quanto inútil seria tentar mostrar o que ninguém faz questão de ver, incomodo comodismo, dissonante conformismo.
Exacerbei, joguei mais uma vez, sem medo algum de parecer pretensioso ou arrogante, pérolas aos porcos, fazendo-me sentir a mais numa terra que só quer menos.

Existe um improviso em cada suspiro. Até o coração não segue o “script” e saí do ritmo.
Vivemos um teatro cuja peça se desenvolve assim, a cada momento, a próxima cena, o próximo capítulo desbravado a cada acontecer.
E o que pode parecer um tremendo fiasco teatral é a mais perfeita peça que não permite ensaios.
Quando comecei a escrever não imaginava o que escreveria, muito menos como terminaria, apenas aconteceu, de improviso, como de costume, tudo se desenvolveu, nasceu, aconteceu a cada letra, a cada palavra, a cada frase, a cada ideia que não pôde ficar parada para não ser atropelada pela próxima que vinha logo atrás.
Então, não fiquemos parados, existe um improviso esperando por cada um de nós, e tantos outros acontecendo agora mesmo. Agora? Já passou! Pegue o próximo segundo e improvise!

Já ouvi dizer que o tempo é amigo da arte, mas, definitivamente, não poupa o artista.

Estranha é a baixa quando o tamanho da estima é, foneticamente, sempre alto.

Estou feliz por estar vivo.
Não é normal essa alegria, pois viver é uma grande rotina que faz muitas vezes a vida perder o seu colorido. Respiro, rotineiramente, o mesmo ar sem perceber o quanto ele é importante para me manter vivo.
Não me lembro de já ter morrido, então não sinto saudades nem anseio por isso, já me basta saber o quanto é inevitável.
Hoje estou feliz, simplesmente por estar vivo e poder fazer as mesmas coisas e algumas diferentes, e rever as pessoas que eu amo, onde até o amor, na rotina, parece perder o seu esplendor. Se fosse o meu último dia eu não gostaria de saber, nunca gostei de despedidas, e eu apenas o viveria com essa alegria de estar vivo. A vida é assim para alguns, ela simplesmente parte sem aviso ou despedidas, e nós simplesmente esquecemos o quanto ela é importante por achar que sempre haverá um novo dia, um novo segundo, uma segunda chance, um próximo suspiro.

Você nasce vazio e as expectativas vão te preenchendo pouco a pouco. E com elas tantos outros sentimentos.
Vivemos, simplesmente porque temos que viver e, quando a morte se torna um opção, desejamos viver. E nesse aparente simplismo convivemos com a despercebida complexidade que é o tempo. Este transforma a expectativa em agora, o agora em já passou e o já passou vira passado e azar de quem não foi o sujeito ativo da oração.
Nesse cenário vamos acumulando muitas coisas, vitórias, derrotas, alegrias, tristezas, admiração, decepções, riquezas, dívidas e passamos a acreditar em seus valores e valoriza-los muito além do que deveríamos. Diante disso tudo, de tudo que vira passado, eu afirmo que o agora e as recordações são duas das maiores riquezas reais, ainda que subjetivas,pois elas são exclusivamente de cada um e ninguém pôde, pode ou poderá mudar isso.

Todos têm uma opinião, formada ou em formação, por informação ou má formação, sobre algo ou alguém. Faz parte da crítica humanidade que não possuí espelho.
Então, viver uma vida regida sobre o que os outros pensam sobre você é suicídio da personalidade, é viver uma vida morta, é ser um morto vivo, é viver sob as desinformações alheias, sob o peso dos paradigmas sociais, culturais, desse ou daquele, enfim, é deixar de ser e, acima de tudo, carregar todo o peso do não ser alheio

Depois de muito tempo, ao ler meus textos, se eu não prestar atenção, não os entendo. Sempre culpei as metáforas, mas talvez seja culpa das inúmeras vírgulas que explicam e complicam a compreensão da minha vida a passear entre elas.

Um rosto sem face,
Um mundo que não é planeta,
Uma terra de ninguém,
Ouvi no silêncio ortográfico
De caligrafia congelada,
Ortografia condenada,
Concordância esquartejada
Uma muda voz a me dizer
Sobre o meu sumiço
E eu a tentar entender
De qual deles,
Do real ou do virtual?
Então eu disse
Que estava sempre presente
Nessa ausência virtual coexistente.