Coleção pessoal de MarcosCzerwinskin
Do improvável
Não se deve acender velas nos velórios;
há um cômico perigo de o morto sentar-se
em seu próprio caixão...
e todos saírem correndo de medo!
Mas ninguém avisou ao pobre do morto
que não se tratava de seu aniversário...
e ele bate palmas entre as quatro velas que o rodeiam!
CZERWINSKIN, Marcos.Do improvável.In: CZERWINSKIN, Marcos.Abajur
Amarelo. Porto Alegre: Besorah Brasil, 2014. p. 13.
Tens que ir?
Lá fora a chuva cai.
No quarto, fumaça de caracol.
Paredes se comprimem
diante de nós dois.
Face a face, deleito-me
no momento tão mágico
que deixa à deriva
os problemas do dia.
Por que tens que ir?
Se te quero só pra mim?
Se só você é meu sim?
Por que tens que ir?
Se ao coração não mente
e sempre te senti?
OLIVEIRA, Marcos de. Tens que ir?. In: OLIVEIRA, Marcos de. Tristeza por
Borboletas. Porto Alegre: Alcance, 2012. p. 12.
Teodoro e o preço
Veja Theodoro que decepção era querido por todos
E agora onde parou?
Pelo asfalto vermelho sua ganância pagou
Poderia ser diferente porque se perdeu...
Seus passos seguiam o sepulcro de si mesmo...
Comparo-o com o Judas... Cego... Trocou
A vida pelos seus próprios interesses
E o preço foi seu próprio remorso
Que o matou...
CZERWINSKIN, Marcos.Teodoro e o preço.In: CZERWINSKIN, Marcos.
Esperança em meio a guerra. Porto Alegre: Besorah Brasil, 2012. p. 18.
Sou uma criança que envelheceu
Eu sempre quis meus brinquedos
mesmo que velhos e quebrados fossem.
Sou apenas uma criança
num corpo exausto de velho
que não resiste a uma boa gargalhada
sou assim mesmo...
(uma criança cheia de sonhos)
OLIVEIRA, Marcos de. Sou uma criança que envelheceu. In: OLIVEIRA,
Marcos de. Tristeza por Borboletas. Porto Alegre: Alcance, 2012. p. 16.
O menino no espelho
Quem é esse, mais novo do que eu?
Seria mesmo eu?
Ou apenas doces lembranças
Salvando minha velha alma?
Quem é esse menino cheio de sonhos no olhar?
Ele parece desconhecido,
Mas há algo que me prende a ele.
Como pude esquecer o menino todos esses anos?
Agora, diante do espelho,
Me questiono escolhas e desencontros.
CZERWINSKIN, Marcos. 5.In: CZERWINSKIN, Marcos. Dias perfeitos e
muros escuros. Porto Alegre: Besorah Brasil, 2014. p. 52.
Querido defunto
No velório, nunca pode faltar
o que grita num desespero só...
Dizendo, eu quero ir junto... Deus, me leva...
Talvez, o único momento
em que o pobre do defunto
mais se sentiu importante e amado
em toda sua vida.
OLIVEIRA, Marcos de.Querido defunto.In: OLIVEIRA, Marcos de. Tristeza
por Borboletas. Porto Alegre: Alcance, 2012. p. 29.
Morte
Os velhos não se preocupam com a morte;
sabem que o momento é o que importa.
Os velhos se escondem da morte,
como uma criança brincando atrás da casa…
CZERWINSKIN,Marcos.Morte.In:CZERWINSKIN, Marcos. Entre nuvens de
algodão. Porto Alegre: Besorah Brasil, 2015. p. 16.
O belo
Sentir-se distraído com muitos
a sua volta é fácil
especial mesmo é viver o belo
mesmo sem ninguém ao lado.
OLIVEIRA, Marcos de.Passarinhos O belo.In: OLIVEIRA, Marcos de. Tristeza
por Borboletas. Porto Alegre: Alcance, 2012. p. 41.
Bugiganga
As bugigangas do coração
sempre estão perdidas
em algum achados e perdidos
de nossas vidas…
CZERWINSKIN,Marcos.Bugiganga.In:CZERWINSKIN,Marcos.Abajur
Amarelo. Porto Alegre: Besorah Brasil, 2014. p. 97.
Rosas
Rosas não encontramos nas esquinas
de todas as ruas.
No melhor lugar se escondem,
e quando as encontramos nos apaixonamos.
Rosas são especiais
e num toque embelezam nossa vida
fazem do outono da solidão
a primavera do acreditar.
OLIVEIRA, Marcos de.Rosas.In: OLIVEIRA, Marcos de. Tristeza por
Borboletas. Porto Alegre: Alcance, 2012. p. 52.
A perfeita cor
No rosto negro,
há um sol que não se apaga,
mesmo quando o mundo fecha as janelas.
A pele, essa página escura,
guarda segredos que os brancos não leem,
e brilha como se fosse silêncio.
Não é cor apenas.
É dignidade em estado visível…
Livro: Negros - 2025
Beleza negra
À Letícia Regio da Silva
Que bela negra, que belo desejo
De viver a pureza de suas formas.
Não é apenas um monumento,
Tampouco por um momento.
É tela perfeita na existência,
Encanto das multidões
E minha mais divina observação.
Entre os teus cachos, a minha saudade
Nunca soube ser contida.
Vivo a te querer como quem quer
Viver um novo mundo.
Aliás, onde esconderam as chaves
Para trancar no baú
Todo esse teu charme?
Que vontade de viver a tua beleza negra
E simplesmente arder em chamas…
Livro: Negros 2025
Som da liberdade
O som ainda pode ser dos navios de sangue,
As páginas ainda podem guardar tristezas,
A sociedade ainda respira desigualdade,
E nem todos entenderam as mazelas da alma.
Mas existem, em cada rosto negro,
Um passado que não viveram,
Mas que trazem como marcas para o futuro.
Não, o som é da vingança e das divisões?
Não; é a mais nova das antigas
Formas de gritar às nações:
O som agora é de liberdade!
Livro: Negros 2025
Reflexão nos brinquedos
A sua vida é vida igual e sonhável,
Entre os espinhos e leões do dia a dia,
Você desenha os teus sonhos.
Não importa a cor, não importa o cabelo;
Nada disso tem valor
Quando se refere a ser humano e a Deus.
Ninguém nasce ruim, ninguém nasce odiando.
Crianças brancas e negras brincam
Como se nada disso impedisse cada sorriso.
Mas a gente cresce, e a falta de amor
Cresce junto.
Infelizmente, um dia os ouvidos ouviram
Uma podridão que se alastra.
E, como um brinquedo quebrado,
Simplesmente não deveria mais ser brincado!
Livro: Negros 2025
Metamorfose
Era eu, agora quem sou?
O que sou é quem eu era?
Carrinhos, ciranda o “era”
adiante, um velho adaptado por consequência.
Menino se foi...
Rugas e falta de memória “predominam”
Quem escapa?
Há um rio que nos leva...
Às mentes, outrora ingênuas
o mundo deu seu “trato”
Do casulo da vida
(metamorfose é certa).
OLIVEIRA, Marcos de. Metamorfose da vida. In: OLIVEIRA, Marcos de.
Tristeza por Borboletas. Porto Alegre: Alcance, 2012. p. 11.
