Coleção pessoal de juvenilcosta

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Olhar profano
Juvenil Gonçalves


Teu olhar, açoite e prece,
Labareda em tom sombrio,
Entre o céu que me enaltece
E o inferno onde me fio;
És luxúria que me impele,
Olhar de cachorro no cio.


Fere, inflama, envenena,
És astro em desvario;
És serpente que envenena
Com veneno doce e frio.
És pecado em forma plena,
Eucaristia do desvio.


No templo da tua face
Arde o culto proibido;
Teu olhar, quando me abraça,
É altar de amor bandido.
Nele o anjo perde a graça
E o santo cai corrompido.


Por ti rasgo o Livro Santo,
Profano a fé que te evoco;
Pois me tomas pelo encanto
Que se oculta em teu sofoco.
E o que era virtude, em pranto,
Faz-se brasa em fogo louco.


Ó delírio que me assalta,
Labirinto sem saída;
Quando teu olhar me exalta
Desmantela a minha vida.
Nele a morte se ressuscita
E o inferno vira guarida.


Se sou servo ou penitente,
Nem o céu define o fio;
Pois me entrego inteiramente
Ao prazer que desafia o brio.
E tudo começa novamente
No olhar vagabundo no cio.

CATÁLOGO DE UM AMOR EXTINTO
Juvenil Gonçalves


Encontrei teus ossos no baú do tempo,
fósseis de um verão que o outono esqueceu
cada osso, um verso; cada verso, um tempo
em que éramos mais que o amor que se deu.


Teu fêmur ainda trazia as marcas
dos meus dedos, tão leves, tão sem perdão...
E o teu crânio, qual taça de arcas,
guardava o vinho amargo da solidão.


As costelas, outrora meu abrigo,
agora são grades de um museu vazio.


Catalogarei cada fragmento teu
na prateleira dos amores falidos:
— úmero que me sustentou como véu,
— fíbula de nossos passos unidos.


E o que dizer da coluna, outrora erguida,
templo de carne, altar de nosso enleio?
Hoje é apenas ruína esquecida,
poema sem sujeito, verso sem meio.


Mas ah! Entre as relíquias desfeitas,
encontro teus dedos — frios, sem vida
e lembro que, um dia, nestas mesmas digitais,
eu li o futuro... e não soube ver a despedida.


Agora resta-me o catálogo frio:
um osso por amor, um verso por ossada.
E assim, entre rimas e pó, eu crio
um museu para nós, na página arruinada


Juvenil Gonçalves

Fogo e Gelo
Juvenil Gonçalves


Teu beijo é fogo a arder,
labareda que me conduz.
Teu toque é gelo a correr,
frio que corta e me seduz.
No corpo, o desejo a ferver,
entre chama e cristal reluz.


A língua desliza em lava,
sobre vales de neve e mar.
O calor que incendeia e agrava,
o frio que me faz delirar.
Fogo e gelo em dança brava,
fazem todo o corpo vibrar.


O suor mistura o ardor e o frio,
rios de prazer a se encontrar.
O corpo rende-se ao desafio,
cada toque é fogo a brilhar.
No êxtase se cumpre o desvio,
onde os extremos vêm se casar.


Fogo e gelo em plena fusão,
chama e gelo a se confundir.
Cada suspiro é oração,
cada tremor a se expandir.
No templo do corpo, a paixão,
faz do prazer puro existir.

O AVESSO DO POEMA
*JUVENIL GONÇALVES *


O avesso do poema

é o que sobra quando o verso cai,
quando a rima escapa,
e a palavra — nua —
fica olhando o poeta de frente.


É o silêncio que não coube no poema,
a rascunhada dor que não virou metáfora,
o eco do que não se disse
mas insiste em arder na ponta do lápis.


O avesso da poesia
é o poema quando termina —
ou quando nunca começou.


Juvenil Gonçalves

O Paradoxo dos Alicerce
Juvenil Gonçalves



Ergue-se o teto alheio em mãos vazias,
Com calos que não têm onde repousar;
Quem molda o lar de alheias fantasias
Não vê sequer tijolo pra habitar.


Do prumo e praga, em meio à argamassa,
Escorre o pranto oculto do operário,
Que, noite adentro, à sombra que o ultrapassa,
Sonha em silêncio um canto necessário.


Mansões surgem do esforço que não dorme,
Palácios brotam do suor sem nome,
E enquanto o pobre a vida assim conforma,
Nem mesmo o chão lhe serve de renome.


Quem mais constrói, sem ter onde se assente,
Faz do trabalho um cárcere eloquente;
Cimento e dor no mesmo alicerçar—
Que mundo é este em que o abrigo é negado
A quem, com mãos, o abrigo fez brotar?

O sábio e o Idiota apaixonados
Juvenil Gonçalves


Dizem que o sábio é prudente,
e o idiota é sem noção,
mas bota um amor na frente
e se igualam na paixão!
É um tropeçando em sonho,
outro perdido em ilusão...


O sábio, que lia estrelas,
chora por causa de flor;
o idiota, que lia nada,
vira poeta do amor!
Ambos babando besteira,
sem medo, vergonha ou pudor.


O sábio, que em tese ensina
que o mundo é só ilusão,
liga de noite pra amada
chorando igual um bobão;
o idiota, que já chorava,
vira o rei da lamentação!


Amor, esse bicho danado,
não olha a nota nem a razão;
ele laça sábio e idiota
com a mesma corda na mão.
E faz dos dois um só tolo
brincando no mesmo chão!

Serpenteia-me
Juvenil Gonçalves


Tu serpenteias meu peito em espirais,
como cobra de cipó nas rendas do mato,
enroscando teu ser nas fibras vitais
do meu íntimo bosque, denso e insensato.


Teu gesto é lasso, é laço, é nó, é enredo,
é perfume de seiva, é canto de galho,
é murmúrio que roça o sono e o medo,
e enlaça minh’alma num doce agasalho.


Teus olhos, duas luas em pleno enlevo,
teu toque, vertigem de liana e vento,
teu beijo, raiz que adentra o meu enlevo,
e brota em mim jardins de encantamento.


Assim me vences: sutil, doce, voraz,
teu corpo é serpentina a me habitar,
e eu, rendido, sou tronco, flor e paz,
nas voltas do teu seio a me enlaçar.

Teus olhos são a origem do tempo
Juvenil Gonçalves


Teus olhos são luas gêmeas em órbitas de vigília,
cicatrizes de um cosmos que não dorme.
Ao decifrá-las, desaprendo a física:
são elas que inventam o mar, a carne, o relógio.
Não há mundo além de seu eclipse.


O oceano que neles navega não é líquido,
mas fronteira entre o ser e o véu —
ondas quebrando em espelhos onde o real
se desfaz e recompõe, eterno ensaio.
A lua que ali dança não é astro,
é a primeira metáfora, o desejo
que antecede até o verbo desejar.


Constelações cravadas em tua pupila
são alfabetos de um caos primordial:
cada estrela, uma sílaba do nome
que jamais pronunciaremos.
Elas cartografam o vazio entre dois corpos,
a distância entre o "eu" e o "outro"
— abismo que chamamos amor,
mas que, no fundo, é só o eco
de um sol que se apagou há eras.


Há em teu olhar a vertigem do infinito:
cada piscar é um universo nascendo
de um suspiro, ou um buraco negro
engolindo todas as perguntas.
Não é angústia, é a lei secreta —
tudo que existe carrega em si
o germe da própria extinção.
Até o amor. Especialmente o amor.


Amar-te é habitar um paradoxo:
é morder a sombra de um fruto proibido
cuja polpa é feita de ausência.
É saber que a luz que me guia
já foi apagada há milênios,
e ainda assim jurar que é nova,
que é minha, que é eterna.


Porque teus olhos, veja bem,
são relógios sem ponteiros:
neles, o instante é tudo.
E tudo é só um reflexo
de algo que perdemos
antes mesmo de nascer.

O Cântico do Cadáver
Juvenil Gonçalves


Encontrei-te, cadáver, no leito de limo,
Vestido de folhas, coroado de espinhos.
Teu riso era vago — sem lábios, sem fim
E teus olhos comiam o céu sobre mim.


Cantavas com vermes um hino sem nota,
Com versos que o tempo em teu osso anota.
Cada costela — uma clave sombria,
Teu crânio — tambor da melancolia.


“Fui rei”, murmuravas, “de um reino de nada,
Tive amantes, palácios, medalha dourada.
Agora me escuto, em silêncio profundo,
Pois quem jaz conhece o real desse mundo.”


Teus dedos partidos apontam os vivos,
Caminham sonâmbulos — tolos, cativos.
Riem da morte, e por ela são ridos,
Brindam ao gozo — já estão esquecidos.


Afastei-me em pranto, mas levo teu canto:
A carne apodrece, o orgulho é espanto.
E toda verdade que o homem levanta
É pó que a minhoca, paciente, encanta.

O Relógio e a Lâmina
Juvenil Gonçalves


Nas entranhas do tempo, um relógio sangrava,
Cada tic uma lágrima, cada tac uma cava.
Em mármores frios, a ampulheta virada
Vertia seu pó sobre a carne cansada.


A lâmina, imóvel, sobre o altar do instante,
Brilhava em silêncio — vestal cortante.
Não corta a pele, mas sim a memória,
E inscreve nas veias a cicatriz da história.


No espelho estilhaçado de um ontem perdido,
Vejo o reflexo de um ser já partido.
Sou o que fui — e por ser, já me ausento,
Um nome sussurrado no sopro do vento.


A morte não grita, apenas aguarda,
Com olhos de sombra e face bastarda.
É mãe e madrasta, no mesmo compasso,
Nos embala em silêncio — no mais frio regaço.


Ó tu que respiras, crês que és inteiro?
Não passas de sombra num véu passageiro.
O relógio e a lâmina — gêmeos em dor —
Contam teus passos em direção ao torpor

Breu Noturno (poema sem o emprego da letra "A")
Juvenil Gonçalves


No breu escuro do monte
surdiu frio, eco vil.
Corvo rondou horizonte,
som sinistro surgiu.


Luz morreu, céu se nublou,
sino dobrou no terreiro.
Vento feroz ribombou,
tudo gemeu por inteiro.


Cemitério com rumor,
osso seco rolou no piso.
Olho turvo brilhou no torpor,
eco curto feriu o juízo.


No silêncio rito frio,
corpo morto tentou surgir.
Sopro bruto trouxe o estio,
ninguém vivo ousou sorrir.

*Verso que versa e reversa*
Juvenil Gonçalves


No terreiro do pensamento,
planto palavra e colho som,
se o vento venta sentimento,
a rima vira meu batom.


Na roça do verso lavrado,
cada som vira semente,
se o povo pensa calado,
o poeta fala diferente.


Quem ama arma alegria,
quem teme treme no chão,
quem sonha semeia poesia,
quem canta encanta o sertão.


O tempo tenta o repente,
mas o repente inventa o dia,
no peito do som fervente,
o verbo vira melodia.


O verso conversa e dispersa,
reversa e se reverte em flor,
na fala que fere e confessa,
a rima é remédio e é dor.


O poeta planta palavra,
palavra que lavra e lavra,
da lavra brota uma lavra,
que lavra o peito e não lavra.


O som assoma no monte,
a fonte afronta o luar,
quem mente sente na fronte
o peso leve de amar.


Se a lua é lume e alumia,
no lume o homem se alinha,
e a língua, límpida e fria,
lambe o lume e se aninha.


No fim, o fim é começo,
o avesso é verso e razão,
quem fala faz do tropeço
matéria bruta do chão.


Pois palavra é viva, é vento,
é semente, é instrumento,
quando o verso versa o tempo,
o tempo inversa o pensamento.

TEU SORRISO
Autor: Juvenil Gonçalves



Teu sorriso é como uma estrada sem fim
É como um bolo doce que não se acaba
É como um temporal que desaba
Sobre as flores de um jardim

É como uma nuvem branca passageira
É como na floresta a clareira
De uma luz penetrante e feliz;
Da aurora até chegar ao arrebol
Com a intensidade dos raios do sol
Aquecendo as águas de um chafariz

Ah... teu sorriso às vezes fogo
Às vezes frio às vezes vulcão;
Ah... teu sorriso às vezes tristeza
Às vezes tempestade sem maldades
Teu sorriso sempre paixão

Na praia, brisa e frescor
Um sorriso todo feito de amor
Romântico de Romeu e Julieta.
Da fanfarra o som da clarineta
Nas selvas, voz de passarinho
Da natureza toda a inteligência
No capitólio completa a benevolência
E em teu rosto, riso de Jesus menino

Teu sorriso às vezes chuva
Às vezes sereno às vezes trovão
Ah... teu sorriso às vezes febre
Na gelada e alva neve
Ah... teu sorriso paz no coração.

Ah... teu sorriso luz colorida
Da árvore de natal
Teu sorriso flor de margarida
Teu sorriso fantasia de carnaval

Ah... teu sorriso luz de pirilampo
Viajando pelas madrugadas
Perambulando pelos campos
Incendiando as alvoradas






Ah... teu sorriso...

Luz de pirilampo
Reflexo de relâmpago
Sobre um pântano
Arborizado e florido
Folhas verdeadas
Rosas enfeitadas
De borboletas douradas
No néctar colorido

Mas...

É um sorriso tão brilhante
Como as estrelas no infinito
Faiscando sobre o mar
Onde o nauta canta canções
Recita um poema soleando
Na lira do deus Apolo:
LA VITA NUOVA de Dante
Em louvo a Beatriz

E segue de mar a dentro
...e novamente canta:

Um sorriso da cor do céu
Um sorriso da cor do mar
Um sorriso de doce mel
Um sorriso de doce olhar;

Um sorriso refrescante
Um sorriso de pureza
Um sorriso apaixonante
Um sorriso de princesa

⁠Covid-19 EM ALITERAÇÃO.
A POESIA DE JUVENIL GONÇALVES.

Corona covarde, carrasco de coroa cromada, cristalizada, crostada, criando carnificina, comandando cobras cascavéis que comem carne crua cuspindo chuva contaminada, cunhando coisas cruéis como chacais carrascos, carniceiros, cancerígenos, capazes de causar cheiro chulo de chulé clonado e coado nas cloacas chocas causando crise de carona no carro corola conduzido com Covid-19... Caramba!

Vírus voraz, viajante, viciado, viscoso, viajando, vagaroso, veloz, vagueando pelas veredas das vidas veladas vacanciosas, voláteis, vendo vítimas vivenciar com vontade vitalícia de volúpia, vacilando nas vísceras dos velhos vulneráveis, voando velozmente no vento venenoso. Víbora, vendo à vista a vontade de vencer o verme de virada chamado vírus vampiro...

Milita
Autor: Juvenil Gonçalves

Milita menina dengosa
Com seu vestido azul anil
Chapéu com botão de rosas
Exalando perfume juvenil

Piscando como diamante na areia
De um jardim de acácias
Cantando como uma sereia
Num universo de galáxias

Mas será que Milita
Pode vir aqui me ver
Com esta distância analítica
Que me faz enloquecer?

Deusa cubanita
Autor: Juvenil Gonçalves

Lá se vai minha cubanita
Rosto lindo pelo vento beijado
Chuva lambendo os cabelos dourados
Lavando os fios esticados
O espírito brando e acalmado
Sentimento por mim enamorado
O corpo de manequim desenhado
Com o hálito perfumado
Com os passos ensaiados
O nariz bem afilado
O sorriso de neném mimado
Os dentes branqueados
O sutiã bem apertado
Os seios empinados
Parecendo uma flor de ipê rosado
Sob um luar prateado
Vindo de um céu todo estrelado
De um paraíso encantado
Cheio de cupidos apaixonados
Que de tanto amor me deixou embriagado.

A democracia é apenas a substituição de alguns corruptos por muitos incompetentes.

PRINCESA DA MONTANHA
Autor: Juvenil Gonçalves

De todas as rosas já beijadas
Existente em todos os jardins, inclusive no Éden
Apreciadas por todos os colibris
Daquelas que foi fabricado o mais nutritivo mel
E também enfeitado a grinalda mais bela
De uma famosa manequim na passarela
Desfilando reluzente e deslumbrante
Como a mais sex das donzelas:
É flor sem cheiro, é somente maranha
A rosa mais perfumada és tu, Princesa da Montanha.

De todas as princesas deste mundo
Que viveram do ocidente ao oriente
Que venceram as batalhas mais intrépidas
Que conquistaram os reinos mais difíceis
Designando conjuntamente as simuladas
Pelos melhores escritores, narradas
Nos livros para adultos e crianças
Nas histórias reais e contos de fadas:
Não tem sentido, pois não é a Princesa Mantovana,
A mais real de todas, a Princesa da Montanha.

De todo metal precioso
Existente em qualquer mina
Concentrado nos antigos castelos
Ou que pertenceu a algum senhor feudal
Que teve milênios de duração
Que já foi propriedade de Califa ou Sultão
De Marajá da Índia ou guerreiro do Japão:
Não tem valor, não vale barganha:
Muito mais valiosa és tu Princesa da Montanha.

De todas as esmeraldas faiscantes
Possuídas por rei, rainha ou imperador.
Depositadas no alforje de um pirata
Ou infiltradas na constelação de Andrômeda
Vacilando no fundo de rio ou de um mar
Que já estiveram em poder do ladrão de Bagdá
Até mesmo as enfeitiçadas por um Grão-Vizir
Ou conquistadas por Ali-Babá:
Não faz sentido, pois não é a princesa mantovana
A mais real de todas, a princesa da montanha.

De todas as palavras que rolaram o tempo
Encontradas em todos os vocabulários
Interpretadas em todas as línguas
Até as escritas no Código de Hamurábi
As que formaram os provérbios do rei Salomão
Incluindo todas que compuseram Alcorão
Levando em conta as neológicas
Inventadas por Sócrates ou Platão:
São todas feias, ridículas e estranhas
Comparando-as com o teu nome, Princesa da Montanha.