Coleção pessoal de jemsbr28

Encontrados 8 pensamentos na coleção de jemsbr28

Enquanto o dia infinito sem sol se arrastava, eu piscava devagar para o teto rachado, onde aranhas teciam teias preguiçosas como minhas próprias desculpas. "A banda parar de tocar", murmurava para mim mesmo, ecoando aquela frase quebrada que o usuário jogara, talvez um erro de digitação, talvez um grito abafado de uma mente cansada como a minha. Mas que banda? A orquestra invisível da vida, com seus violinos desafinados e tambores surdos, que nunca parava de martelar na cabeça, mesmo quando eu implorava pelo silêncio?

Sozinho no sofá que cheirava a mofo e memórias podres, eu rolava para o lado, evitando o esforço de acender a luz. Amargo era o resíduo do café na língua, misturado ao gosto metálico da derrota autoimposta. A preguiça me ancorava, uma âncora enferrujada no fundo, de um mar de nada, onde peixes mortos flutuavam como promessas quebradas. Por que me mexer? O mundo lá fora, com suas corridas e risos forçados, não sentia minha falta e eu, solitário rei de um reino vazio, não sentia falta dele.

Deixei os pensamentos vagarem como nuvens cinzentas, preguiçosos demais para chover. O tigre flamejante?
Agora era só um gatinho ronronando debilmente, sua fúria dissipada no ar úmido. A morte, ah, ela demorava, preguiçosa como eu, talvez deitada em seu próprio sofá eterno, esperando que eu a chamasse. Mas eu não chamava. Somente esperava, no vazio que se expandia, engolindo horas como um buraco negro faminto. Continuei assim, ou melhor, parei de continuar porque no fim, o que era a história senão uma sucessão de nadas, amargos e solitários, ecoando até o silêncio final.

Enquanto o eco dos versos passavam, se dissipando no ar úmido da noite, eu me arrastava para o sofá puído, onde o tempo se esticava como uma goma velha e mastigada. A amizade, esse amor disfarçado que ela cantava, não passava de uma piada amarga para mim agora, vazio em um quarto sem janelas. Preguiça? Ah, ela era minha companheira fiel, enrolando-se em mim como uma cobra sonolenta, sussurrando que o esforço era para tolos, que o mundo lá fora girava sem precisar do meu olhar.

Sozinho, via o céu como túmulos de sonhos esquecidos, inalcançáveis aos meros preguiçosos e fracos. O tigre flamejante rugia distante, o gatinho gritava em vão? Eu nem me mexia. Por que lutar contra o medo, contra o tempo que devora tudo? Deixei o relógio ticar, o amor passar como um trem que nunca para na minha estação abandonada. Amargo era o café frio na xícara, solitário o silêncio que engolia minhas risadas antigas, preguiçoso o corpo que se recusava a levantar.

E assim, continuei a história, ou melhor, a falta dela. Deitei ali, esperando que a morte, essa preguiçosa rainha, viesse me buscar sem pressa, sem drama. Pois no fim, o que restava? Somente o vazio, o amargo gosto de nada, e a solidão que se estendia como um dia infinito sem sol.

As asas que batem

Sinta, sinta borboletinha
O homem destrói e não
Constrói, só melhora para
Destruir mais.

Borboletinha não chore pelo
Que o homem não faz.
Olhe Borboletinha, saia de casa
E faça algo, pois o homem nada faz.

Voe borboletinha, traga o furacão
Deixe o homem irado para ele fazer algo.
Borboletinha nada fala, mas faz muito
Enquanto o homem brinca de garoto.

Oh garoto pare de brincar com a borboletinha
Ela trabalha para um dia mais feliz.
Enquanto seu pai cria fumaça,
Borboletinha não chore, clame para um novo começo.

⁠Perdição

Deixarei meu tempo passar
Para perder o meu amor,
O tempo passará e
O meu amor casará.

Deixei o meu amor passar
Pela morte que me persegue
Dia e noite sem parar,
Não vejo aonde vai dar.

Sem tempo estou,
Porque perdi o meu amor.
O tempo já queimou e
As cinzas me prenderam no teu passado.

Oh, tempo que flameja
Escuro é a sua passagem
Destruido é o seu passado
E vivido é o seu presente.

Quem te forjou, oh tempo?
Pois, tu vives, mas eu tento
Reconstrui-lo, amado tempo,
deixe-me vive-lo.

Aventurei-me no teu passado,
Preso estou, tudo passou,
Mas vivo em ti, oh tempo.
Qual é a remissão que tu desejas?

⁠ADORAR

Palavras completam-se no véu da noite,
palavras transformadas, para o amor que não se esconde.
Conhecido pelos que passaram, os viventes o perdem, pelo medo que os perseguem, não busca vingança e nem a dor.

Oh medo, sem ti não existo, sinto-lhe a cada instante,
só falta te adorar com tremor.
Pois Aquele que sigo não o segue, e quando estou em ti,
não estou mais nele.

Entendo então, não vivo seguindo o meu Senhor,
mas morto vivendo-o.
Agora não há mais nada que eu possa fazer até descobrir, quem forjou o tigre que flameja?

Parei de tentar me parar, e deixei A morte me levar.

Amizade
Aventurei-me por um desses amores indevassáveis ,amor que observo ,que tenho mas não e meu o coração que queima.
Aquilo que rimo não importa só o que falo diante de toda glória do amor, qual quer que seja tuas risadas se proliferam, teu fardo simpatizo com o meu ,tuas horas são minutos para mim.
Amizade nada mais que um amor desconhecido, incompreendido pelo verdadeiro ardor.⁠

Vaidosa
Cesário Verde

Dizem que tu és pura como um lírio
E mais fria e insensível que o granito,
E que eu que passo por aí por favorito
Vivo louco de dor e de martírio.

Contam que tens um modo altivo e sério,
Que és muito desdenhosa e presumida,
E que o maior prazer da tua vida,
Seria acompanhar-me ao cemitério

Chamam-te a bela imperatriz das fátuas,
A déspota, a fatal, o figurino,
E afirmam que és um molde alabastrino,
E não tens coração, como as estátuas.

E narram o cruel martirológio
Dos que são teus, ó corpo sem defeito,
E julgam que é monótono o teu peito
Como o bater cadente dum relógio.

Porém eu sei que tu, que como um ópio
Me matas, me desvairas e adormeces
És tão loira e doirada como as messes
E possuis muito amor…
Muito amor-próprio!

⁠Como a flor do verão que ruge com um leão me incendeia com teu olhar me aquece com teu amor e me alegra com tua presença.