Coleção pessoal de jadson_junior

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Annabel Lee

Foi há muitos e muitos anos já,
Num reino ao pé do mar.
Como sabeis todos, vivia lá
Aquela que eu soube amar;
E vivia sem outro pensamento
Que amar-me e eu a adorar.
Eu era criança e ela era criança,
Neste reino ao pé do mar;
Mas o nosso amor era mais que amor --
O meu e o dela a amar;
Um amor que os anjos do céu vieram
a ambos nós invejar.
E foi esta a razão por que, há muitos anos,
Neste reino ao pé do mar,
Um vento saiu duma nuvem, gelando
A linda que eu soube amar;
E o seu parente fidalgo veio
De longe a me a tirar,
Para a fechar num sepulcro
Neste reino ao pé do mar.
E os anjos, menos felizes no céu,
Ainda a nos invejar...
Sim, foi essa a razão (como sabem todos,
Neste reino ao pé do mar)
Que o vento saiu da nuvem de noite
Gelando e matando a que eu soube amar.
Mas o nosso amor era mais que o amor
De muitos mais velhos a amar,
De muitos de mais meditar,
E nem os anjos do céu lá em cima,
Nem demônios debaixo do mar
Poderão separar a minha alma da alma
Da linda que eu soube amar.
Porque os luares tristonhos só me trazem sonhos
Da linda que eu soube amar;
E as estrelas nos ares só me lembram olhares
Da linda que eu soube amar;
E assim 'stou deitado toda a noite ao lado
Do meu anjo, meu anjo, meu sonho e meu fado,
No sepulcro ao pé do mar,
Ao pé do murmúrio do mar.

⁠Não dá pra reclamar de violência, deslizando os dedos sobre a Morte ou os Traumas Iluminados de alguém.






Porque, nessa claridade azul, há mais que uma morte à mesa.






A primeira é a visível — os corpos entregues ao espetáculo.






A segunda, a sensível — a alma dos que assistem, lentamente embotada.






A terceira, a coletiva — o apodrecimento ético de uma sociedade que transforma tragédia em passatempo.






E a quarta… a mais cruel — a que quase sempre se esconde no brilho da própria tela, comprada às vezes no mercado negro, com o preço invisível da dor de quem a perdeu.






Há quem, sem perceber, alise o sangue seco nesses vidros, julgando a partir da zona confortável de sua poltrona, o mesmo crime que alimenta.






Banquete farto, servido à luz fria do progresso —
onde cada toque é um gole de conforto e uma migalha de culpa.






É o Banquete das Mortes Iluminadas!

⁠Desertado


Lá se foi o anjo desertado

Cujas penas caiam e repartiam-se

E lágrimas eram derramadas

Matando a paisagem que, banhada por sofrimento

Perdera seu lindo verde

Dando lugar ao cinza mortífero.

Foram tantas que com a chuva as confundiram

Mal sabendo que todas pertenciam ao mais miserável ser

Que agora caíra no chão

Com espinhos presos à carne

Testemunhando a própria miséria.

Maior desgraça não haveria com as mais simples almas

Mesmo invocando a maior das blasfêmias

Jamais iriam se equiparar ao maior dos errantes

Pois, o que antes sobrevoava a terra à gabar-se de sua glória

Era agora sensível e infeliz

Incapaz de enxergar a si mesmo

Tendo as sombras como abrigo e desculpa

Para jamais confessar o quão enorme era o remorso

Por ter abandonado o Pai.