Coleção pessoal de ivetteAmorin
Domesticaram nossos dedos.
Agora gritamos com teclas.
A dor do mundo cabe em um story.
Uma mãe chora em Gaza
e o algoritmo me pergunta se quero comprar sapatos.
Nem é mais preciso sair às ruas,
porque a revolução virou um eco digital
que ressoa entre bolhas
enquanto crianças morrem de olhos abertos,
olhando para um céu que não as protege.
Onde ficaram as mãos sujas de terra?
Os pés na praça, o grito na garganta?
Agora basta “comentar” pra nos sentirmos humanos.
Mas não.
Isso não é humanidade.
É uma versão anestesiada da espécie.
Esvaziaram a gente com caramelos de dopamina.
Nos deram telas no lugar de abraços.
Nos ensinaram a escolher entre mil filtros,
mas não a encarar o real sem medo.
E ainda assim…
algo dentro pulsa.
Uma raiva que não é ódio,
uma tristeza que não se afoga,
uma compaixão que se recusa a ficar cega.
Não sou melhor.
Também estive adormecida.
Também fui silêncio.
Mas me recuso a me acostumar com o horror.
Se há culpa, não sei de quem é.
Mas sei de quem é a responsabilidade:
de quem ainda sente.
De quem ainda chora pelos outros.
De quem, no meio do ruído,
ainda não deixou de amar.
A ignorância não é simplesmente a falta de conhecimento, mas a falta de humildade para reconhecer nossas próprias limitações
Triste mundo onde fingir é mais admirável que ser de verdade.
Onde pensar pode custar a
liberdade.
Onde o amor parece ser comprado e o sorrir se faz apenas para fora, enquanto se chora, em um quarto trancado.
Tem gente que usa tantas máscaras que acaba acreditando nas próprias mentiras e esquecendo quem realmente é.
Penso em como pensa o pensamento, não para nem sequer um segundo.
penso como pensa o pensamento, que barulho.
Vivemos o presente lembrando do passado e
planejando o futuro.
Tudo parece acontecer em um quarto escuro.
Dia cinza e nostálgico, as coisas parecem acontecer silenciosamente, os passáros cantam timidamente, na mente vagas lembranças, no peito saudades.
Saudade do que já vivi e do que ainda irei viver.
La fora a chuva passou, aqui dentro um fino chuvisco permanece.