Coleção pessoal de IrineuMagalhaes
"Eu não entendo você! Se queria que os humanos fosse obedientes por que é que você deu a eles vontade própria?". Disse o diabo a deus. "Deveria tê-los feito de chumbo, e sem cérebro".
Os intelectuais carregam consigo algo realmente bom: nunca lhes faltam tolices para falar, nem audientes.
Assim deve ser, ao que parece, a lei da convivência: quanto mais incompreensível o mal, tanto mais encarniçada e grosseira é a luta contra ele.
Aquilo que provamos quando estamos apaixonados talvez seja o nosso estado normal. O amor mostra ao homem como é que ele deveria ser sempre.
Pensais honestamente, e por isso odiais o mundo todo. Detestais os crentes porque a fé é um indicador de estupidez e de ignorância; e detestais os descrentes porque não têm fé nem ideal. Odiais os velhos pelas suas mentalidades ultrapassadas, e os novos pelo seu liberalismo.
Milhares
Entre os milhares
conhecidos,
ou que querem ser conhecidos
como poetas,
talvez um ou dois
sejam genuínos
e os outros são falsos,
rodeando os recintos sagrados
tentando parecer verdadeiros.
Nem preciso dizer
Que sou um dos falsos,
e esta é a minha história.
Quando te ouço cantar Salomão garganta animal, olhos cintilantes de sexo e sabedoria. Dói-me a mão de tingir com sangue as portas do meu lar Salomão. Sinto-me muito só para entoar uma canção que seja a Deus pois pensei que a meu lado não havia ninguém Salomão.
A razão por que escrevo
é para fazer algo tão formoso como tu
Quando estou contigo
desejo ser o herói
com que aos sete anos
costumava sonhar
um homem perfeito
capaz de matar.
Ele estuda para descrever o amante que nunca chegará a ser frustrados os imensos sonhos da mente decidido a possuir visões de Deus. Os andrajos da sua disciplina não têm aquela beleza que possa desfrutar-se facilmente como a tua beleza. Ele não sabe como obter benefício com o teu amor. Não confies nele a não ser que o ames.
*ANNE*
Agora que Anne se foi embora que olhos compararão sol da manhã? Não que eu os comparasse outrora mas comparo-os agora que ela se foi embora.
Quase me deitei sem me recordar das quatro violetas brancas que coloquei num casaco teu Jersey verde. E o modo como te beijei e me beijaste então tímida como se eu não fora teu amante.
Ouvi falar de um homem que dizia palavras tão formosas que só com pronunciar o seu nome se lhe entregavam todas as mulheres. Se fico mudo junto ao teu corpo enquanto o silêncio floresce como tumores nos teus lábios, é porque ouço um homem subindo a escada e clarear a voz fora da porta.
Conheci-te logo que a morte
se converteu em verdadeira doçura.
Tinhas 24 anos
Joana d’Arc.
Persegui-te com toda a minha arte
com tudo o que possuo.
Sabes, eu sou um deus
que precisa de usar o teu corpo
que precisa de usar o teu corpo
para cantar a beleza de uma maneira
que ninguém cantou ainda.
Tu és minha és uma das minhas últimas mulheres.
A neve cai. Há uma mulher nua no meu quarto. Os olhos pousados na carpete cor de vinho. Tem dezoito anos. E os seus cabelos são lisos. Não fala o idioma de Montreal. Não se quer sentar. Não parece ter a pele arrepiada. Ficamos os dois a ouvir a tempestade.
Velho demais
Estou velho demais
Para decorar os nomes
Dos novos assassinos
Este aqui
Parece cansado e ataente
Devotado, profissional
Ele se parece muito comigo
No tempo em que ensinava
Uma forma radical de Budismo
Para os insanos sem salvação
Em nome da velha
Mágica sagrada
Ele ordena
Que famílias sejam queimadas vivas
E crianças mutiladas
Ele provavelmente conhece
Uma ou duas de minhas canções
Todas elas
Todos que banharam suas mãos em sangue
E os mastigadores de vísceras
E escalpeladores
Todos eles dançaram
Ao som dos Beatles
Todos adoraram a Bob Dylan
Prezados amigos
Poucos de nós restaram
Silenciados
Tremendo sem parar
Escondidos em meio ao sangue –
Fanáticos chocados
Enquanto testemunhamos uns aos outros
A velha atrocidade
A velha e obsoleta atrocidade
Que levou para longe
O apetite ardoroso do coração
E acanhou a evolução
E vomitou preces