Coleção pessoal de gabisms02

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A religião é nada mais que o sol ilusório que gira em torno do homem, na medida em que ele não gira em torno de si mesmo.

"A exigência de que se abandonem as ilusões sobre uma determinada situação, é
a exigência de que se abandone uma situação que necessita de ilusões."

E, desta forma, as palavras que brotam do sofrimento se transformam,
elas mesmas, no bálsamo provisório para uma dor que ele é impotente para
curar. E é por isto que é ópio, "felicidade ilusória do povo", que deve
ser abolida como condição de sua verdadeira felicidade. Mas o
abandono das ilusões não se consegue por meio de uma atividade
intelectual. As pessoas não podem ser convencidas a abandonar suas
ideias religiosas. Ideias são ecos, fumaça, sintomas... Se elas têm tais ideias
é porque a sua situação as exige. É necessário, então, que sua situação seja
mudada, as fendas curadas, para
que as ilusões desapareçam.

De fato, quando o pobre/oprimido, das profundezas do seu sofrimento, balbucia:

"É a vontade de Deus", cessam todas as razões, todos os argumentos, as injustiças se

transformam em mistérios de desígnios insondáveis e a sua própria miséria, uma

provação a ser suportada com paciência,na espera da salvação eterna de sua alma. E os

poderosos usam as mesmas palavras sagradas e invocam os poderes da divindade

como cúmpli-

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cês da guerra e da rapina. E os habitantes originais deste continente e suas

civilizações foram massacrados em nome da cruz, e a expansão colonial levou

consigo para a África e a Ásia o Deus dos brancos, e constituições se escrevem

invocando a vontade de Deus, e um representante de Deus vai ao lado daquele que

foi condenado a morrer. . . Nada se altera, nada se transforma, mas sobre todas as

coisas dos homens se espalha o perfume do incenso. . .

Compreende-se que o que as pessoas têm normalmente em suas cabeças não seja

conhecimento, não seja ciência, mas pura ideologia, fumaças, secreções, reflexos de um

mundo absurdo.

E é aqui que aparece a religião, em parte para iluminar os cantos escuros do

conhecimento. Mas, pobre dela. . . Ela mesma não vê. Como pretende iluminar?

Ilumina com ilusões que consolam os fracos e legitimações que consolidam os fortes.

Compreende-se que o que as pessoas têm normalmente em suas cabeças não seja
conhecimento, não seja ciência, mas pura ideologia, fumaças, secreções, reflexos de um
mundo absurdo.

Isto é a realidade: homens trabalhando, em relações uns com os outros, sob

condições que eles não escolheram, fazendo com seus corpos um mundo que não

desejam.. . E é disto que surgem ecos, sonhos, gritos e gemidos, poemas, filosofias,

utopias, critérios estéticos, leis, constituições, religiões.. .

Sobre o fogo, a fumaça,

sobre a realidade as vozes,

sobre a infra-estrutura a superestrutura,

sobre a vida a consciência. . .

É o mundo capitalista, regido pela lógica do dinheiro. E o que ocorre é

que o mundo estabelecido pela lógica do lucro — que inclui de devastações ecológicas

até a guerra — está totalmente alienado, separado dos desejos das pessoas, que

prefeririam talvez coisas mais simples. . . Assim, as áreas verdes são entregues à

especulação imobiliária, os índios perdem suas terras porque gado é melhor para a

economia que índio, as terras vão-se transformando em desertos de cana, enquanto que

rios e mares viram caldos venenosos, e os peixes bóiam, mortos...

o trabalho não é atividade

que dá prazer, mas atividade que dá sofrimento. O homem trabalha porque não tem

outro jeito. Trabalho forçado. Seu maior ideal: a aposentadoria. O prazer, ele irá

encontrar fora do trabalho. E é por isto que ele se submete ao trabalho e ao pago do

salário.

E, da mesma forma como é inútil tentar apagar o fogo assoprando a fumaça,

também é inútil tentar mudar as condições de vida pela crítica da religião. A

consciência da fumaça nos remete ao incêndio de onde ela sai. De forma idêntica, a

consciência da religião nos força a encarar as condições materiais que a produzem.

"Até mesmo as concepções nebulosas que existem nos cérebros dos homens são

necessariamente sublimadas do seu processo de vida, que é material, empiricamente

observável e determinado por premissas materiais. A produção de ideias, de

conceitos, da consciência, está desde as suas origens diretamente entrelaçada com a

atividade material e as relações materiais dos homens, que são a linguagem da vida

real. A produção das ideias dos homens, o pensamento, as suas relações espirituais

aparecem, sob este ângulo, como uma emanação de sua condição material. A mesma

coisa se pode dizer da produção espiritual de um povo, representada pela linguagem

da política, das leis, da moral, da religião,

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da metafísica. Os homens são os produtores

de suas concepções."

"É o homem que faz a religião; a religião não

faz o homem."

É o fogo que faz fumaça; a fumaça não faz

o fogo.

"É o homem que faz a religião; a religião não
faz o homem."

"Não é a consciência que determina a vida; é a vida que determina a consciência."

A riqueza se constrói por meio de uma lógica duramente material: a lógica do lucro, que não conhece a compaixão.

Este mundo ignora os elementos espirituais. Salários e preços não são estabelecidos nem pela religião e nem pela ética.

O sofrimento religioso é ao mesmo tempo a expressão do sofrimento real e um protesto contra o sofrimento real. A religião é o suspiro da criatura oprimida, o coração de um mundo sem coração e a alma de condições desalmadas. É o ópio do povo.

A religião pode se transformar. Mas nunca desaparecerá.

Nascemos fracos e indefesos; incapazes de sobreviver como indivíduos isolados; recebemos da sociedade um nome e
uma identidade; ( ... ) É compreensível que ela seja o Deus que todas as religiões adoram...

Quem confunde coisas que significam com coisas que nada significam
comete graves equívocos.

Há certas situações em que as palavras deixam de significar, abandonam o mundo
da verdade e da falsidade, e passam a existir ao lado das coisas.