Coleção pessoal de gabipinho
Estou na estação há tanto tempo.
E sempre tem gente chegando e indo.
(...)
Em alguns momentos fica o equilíbrio terrível de nunca ir.
Fica a dor terrível de todo mundo que foi.
Fica a ansiedade terrível de todo mundo que tem pra chegar.
Mulher call center – Tenho uma amiga que, se bebe, liga. Liga, manda mensagem, deixa scrap. Ela se transforma num call center às avessas, e em geral só sabe o que disse se foi por escrito e pode achar depois em algum dispositivo online ou página da internet. Não tem como evitar, ela vai ligar sim de novo se beber. Ela inventou o drunk dial. Uma vez ela teve um blackberry mas felizmente desistiu disso. Com o blackberry ela ficou impossível, pois podia ligar, mandar mensagem, entrar no chat, mandar email e deixar scrap na mesa do bar.
O amor não é contínuo. Amor é começo e fim para sempre. O fim é parte do amor. Do amor que acaba e do amor que continua. Aliás, só continua, se volta depois que acaba, mesmo que tenha se acabado só por uns minutos. E se não volta, é só isso. Acabou para começar de novo, provavelmente com outra pessoa.
Por muito achei que eu era torta, porque por mais que amasse um homem, em determinados dias ou momentos não o amava nenhum pouco. Olhava, olhava, puxava mas não adiantava, o amor não estava lá. Depois ele, o amor, me surpreendia, nos encontrávamos de novo como se nunca nos tivéssemos deixado.
Solidão
Tem horas que é a única coisa que quero, e quase todo dia tem alguma hora que é essa hora. Nas últimas semanas, foram incontáveis horas à beira-mar, até passar a vontade.
Deve ser porque eu não consigo prestar atenção (ou pensar) em uma só coisa. Logo, se quero me desligar, não basta ligar a televisão, como vejo os homens fazerem com eficiência fascinante. É preciso algo bem mais contundente, que ocupe meus olhos, nariz, mãos, pernas e cabeça ao mesmo tempo, como a faxina.
Assistir à morte de um amor é como assinar embaixo em um atestado de incompetência: "Eu sou um fracassado sentimental".
A primeira imprensão que se tem de um governante e da sua inteligência é dada pelos homens que o cercam.
Creio que seriam desejáveis ambas as coisas, mas, como é difícil reuni-las, é mais seguro ser temido do que amado.
Os homens têm menos escrúpulos em ofender quem se faz amar do que quem se faz temer, pois o amor é mantido por vínculos de gratidão que se rompem quando deixam de ser necessários, já que os homens são egoístas; mas o temor é mantido pelo medo do castigo, que nunca falha.