Coleção pessoal de fluxia_ignis
Observar a própria mente é um ato de coragem silenciosa. No meio da correria, pare um instante. Veja o que sente, o que pensa, o que carrega. Não para julgar, mas para compreender.
Com o tempo, essa prática transforma reatividade em presença, ansiedade em compaixão, e apego em leveza. A mudança não começa fora , começa com o simples gesto de olhar para dentro.
O gosto de junho
O vento de outono ainda lembrava o som da sua risada. Ela não sabia mais o que sentia ao ver seu nome escrito num papel antigo, era ternura, era tempo, era um tipo raro de saudade que não dói, só abraça. E de tudo o que ficou, o que mais voltava era o sabor daquela comida estranha, feita com mãos que tremiam só de vê-la feliz. Naquele 12 de junho, à sombra da árvore que abrigava dois corações sem morada, ela descobriu que o amor, às vezes, não precisa durar… só precisa ter existido.
Cada palavra é pétala que se abre no silêncio: ao escrever, semeamos jardins invisíveis onde corações encontram abrigo e almas florescem em versos.
Não acreditar em tudo, nem duvidar de nada, é um equilíbrio que cultiva a curiosidade sem ingenuidade e o ceticismo sem rigidez. A fé cega tropeça; a dúvida cega paralisa. Eu prefiro dançar entre os dois, como quem procura pérolas em meio aos rosários silenciosos dos meus antepassados.
Quando Entendemos, Nos Rendemos e Começamos a Viver
Na incessante batalha contra o fluxo natural das coisas, nos debatemos, resistimos e tentamos moldar a realidade ao nosso desejo. Buscamos prazeres momentâneos, acreditamos ter controle sobre aquilo que nos foi entregue sob medida pela natureza. Mas, como um adolescente que se vê onipotente, ignoramos os sinais e resistimos àquilo que, no fundo, nos pede apenas aceitação.
A verdadeira transformação acontece no instante em que compreendemos que não se trata de revolta, nem de disputa, mas de entendimento. Quando entendemos, nos rendemos. E quando nos rendemos, começamos a viver. A rendição não é fraqueza, mas a abertura para o que há de mais essencial: o amor e a sincronicidade.
Quando aceitamos a fluidez da vida, passamos a agir com gentileza, com verdade e com respeito. A rebeldia dá lugar à harmonia, e em vez de lutar contra a corrente, aprendemos a navegar com ela. Porque quanto mais brigamos, mais nos afastamos da essência. Mas quando nos entregamos à compreensão profunda do processo, somos encontrados pelo amor, que sempre esteve ali, esperando por nossa rendição.
"Pois este meu filho estava morto e voltou à vida; estava perdido e foi achado." - Lucas 15:24
A entrega ao caminho nos transforma. E, como na parábola do filho pródigo, quando finalmente entendemos que não há necessidade de lutar, mas sim de confiar, encontramos nosso verdadeiro lar, onde nos reencontramos com nossa família cósmica, aquele espaço de pertencimento, amor e plenitude que sempre esteve à nossa espera.
A Luz Depois do Palco: A Jornada da Alma Livre
A vida, outrora uma tempestade de urgências e ilusões, agora se desenrola diante de mim como um palco iluminado pela verdade. Já não sou a personagem perdida em um roteiro preescrito, mas sim a espectadora lúcida, testemunhando a peça com olhos despertos.
As vozes ao redor, repletas de planos e esperanças, soam como crianças brincando de casinha, arquitetando futuros que, para mim, são apenas folhas ao vento: frágeis, passageiras. Descobri o grande segredo, atravessei o véu da existência e, ao fazê-lo, libertei minha alma das amarras da ilusão. Cada rosto, cada vínculo, cada emoção intensa que um dia me pareceu eterna revelou-se parte de uma trama efêmera, construída não para durar, mas para ensinar.
Agora, vivo de verdade. Não mais na correria desenfreada, nem na busca incessante por conquistas que evaporam como orvalho ao amanhecer. Vivo na serenidade que apenas quem vê o todo pode sentir. Olho sem urgência, sem desespero, sem medo. Já não lamento, pois compreendi que cada adeus é apenas uma transição, um retorno ao lar espiritual, uma dança entre mundos que sempre existiram.
A sensação é como os primeiros dias de férias depois de uma vida de trabalho árduo. Como o alívio de não precisar sair cedo no inverno. Como finalmente beijar aquele alguém que habitou minha ilusão durante anos. Como as gargalhadas das crianças correndo pelo parque, mãos pequenas segurando algodão-doce como se fosse um tesouro. Mas, ao contrário das emoções que passam, este estado de espírito não se desgasta, não perde o brilho, pois renasce a cada amanhecer. A cada noite, retorno ao meu verdadeiro lar, às cidades astrais, onde bebo da fonte genuína e, antes de regressar para mais um dia, visto o corpo que é apenas minha vestimenta temporária.
Então, sou apenas fé em forma de energia. Observo o mundo da matéria sem me perder nele, caminho como viajante consciente de que tudo se desenrola como deveria. A história se fecha, mas, desta vez, já não sou atriz coadjuvante: sou a criadora da minha própria narrativa.
O inverno do mundo e a primavera da alma
Enquanto o inverno veste o mundo de silêncio e frio, a alma escolhe seu próprio caminho. Nem todas as estações seguem o calendário da natureza, pois dentro de nós, o florescer é eterno.
Lá fora, a neve cobre o chão, gelando passos, silenciando vozes, mas aqui dentro, um jardim desperta, tecendo cores em meio à escuridão.
Quando nos libertamos das amarras da matéria e tocamos a essência mais pura do nosso ser, uma primavera eclode, delicada e infinita, nutrida pela luz da consciência que nunca se apaga.
A primavera não espera calendários, nem pede permissão ao tempo cruel, nasce onde há esperança guardada, sob o véu do inverno, floresce fiel.
O inverno se instala, mas o que sussurra o coração sobre suas próprias estações?
A Manipulação Disfarçada de Cuidado
Naquele dia, entrei na casa com o propósito de ajudar. A senhora de 85 anos me recebeu com ternura, como sempre. Seu corpo era frágil, mas os olhos ainda transbordavam vida. Ao seu lado, sua filha de 66 anos — cabelos brancos como os da mãe, quase idênticas, como se o tempo as tivesse moldado de forma espelhada. Mas havia algo ali que não se percebia à primeira vista.
A filha parecia aflita, respirava de forma entrecortada, como se lutasse contra uma crise de asma. No entanto, minha experiência como agente de saúde, tendo testemunhado inúmeras vezes esse tipo de cena, alertou-me: aquilo não era uma crise genuína. O gesto, o olhar, o drama velado nos detalhes… tudo indicava algo além da doença.
Observei o desenrolar da cena com cautela e permaneci em silêncio, permitindo que a intuição guiasse minha ação. Ofereci hortelã, uma alternativa simples e natural para alívio imediato, mas o desinteresse veio rápido: "Não gosto do cheiro do hortelã." Em seu lugar, ela escolheu uma erva qualquer, sem relação alguma com seu suposto problema. Seu comportamento parecia mais uma encenação do que um pedido genuíno de ajuda. Uma pessoa em crise aceita qualquer coisa para respirar.
E então, a revelação. Com a mesma expressão de sofrimento, voltou-se à mãe e, num tom quase inocente, soltou: "Mãe, você pode me dar dinheiro pra eu ir ver minha amiga? Tô com saudades dela."
Ali, diante de mim, o verdadeiro quadro se revelou. A fragilidade era ferramenta; a doença, um artifício. O cuidado materno, que deveria ser fonte de amor e apoio, tornava-se um jogo onde o sofrimento era usado como moeda de troca.
A manipulação dentro dos laços familiares pode ser sutil. Às vezes, veste-se de preocupação, esconde-se sob gestos de carinho e se disfarça no discurso da fragilidade. Mas há um limite tênue entre dependência emocional e controle, entre pedir ajuda e manipular para obter vantagens. Naquele instante, percebi que a relação entre aquelas duas senhoras não era apenas um vínculo de mãe e filha, mas um cenário onde a doença se tornava um instrumento.
E assim seguia a filha, envolta em sua estratégia delicada. Em cada visita, não faltavam palavras doces. Com voz suave, repetia sempre à mãe: "Eu te amo, mãe", reforçando laços que pareciam genuínos. A senhora de 85 anos, com o coração envolto na ternura daquelas palavras, acreditava sem hesitar. Afinal, quando o afeto é reafirmado, torna-se difícil duvidar de sua autenticidade. Mas o amor, quando usado como ferramenta, pode ser apenas mais um fio invisível na trama da manipulação.
Aquele que se apega demais aos conselhos alheios jamais ouvirá as verdades que ecoam em seu próprio coração. E assim, nunca escreverá sua própria história, tornando-se apenas um coadjuvante nas narrativas de outros.
Os Ciclos da Vida e a Harmonia com a Natureza
O ciclo da vida se entrelaça com o ritmo da natureza, e a existência humana reflete os padrões dos elementos que sustentam o mundo. Assim como as quatro estações do ano, percorremos fases distintas que, se compreendidas e respeitadas, nos conduzem a uma vida equilibrada e plena. O segredo da longevidade e do bem-estar não está na resistência ao tempo, mas na aceitação dos fluxos naturais que nos guiam.
A primavera é o despertar. No seu esplendor, a natureza renova-se, as flores se abrem, os dias se tornam mais vibrantes. É o período da infância, onde tudo é descoberta e crescimento, uma fase marcada pela inocência e pela capacidade de viver sem peso. A luz do sol aquece os primeiros passos no mundo, iluminando o que está por vir, preparando o ser humano para os desafios futuros.
O verão é o auge. A natureza atinge seu ápice, os frutos amadurecem, e há vigor em cada folha e raiz. Como a adolescência, é uma fase de poder e exuberância, de testar os limites e enfrentar a vida com coragem e intensidade. Aqui, o ser humano sente-se invencível, como os campos que se alargam ao calor e à luz. É um momento de expansão, onde cada experiência contribui para o aprendizado e para a construção da identidade.
O outono é a transição. As folhas caem suavemente, preparando o solo para o descanso necessário. É o período da vida adulta, onde a responsabilidade pesa e as escolhas definem os caminhos a serem percorridos. Como a estação, o adulto se ajusta, percebe que o ritmo desacelera e, aos poucos, se prepara para o recolhimento do inverno. Este é o momento de sabedoria, onde se aprende a dar valor ao que realmente importa e a se desapegar do que já cumpriu seu papel.
O inverno é o descanso. A natureza se protege, recolhendo-se para o renascimento futuro. O ser humano envelhece, aprende a aceitar a fragilidade do corpo e, se viveu bem, entende que não há necessidade de lamentar o fim. O inverno não é o término, mas sim a preparação para um novo início, como as sementes que repousam sob a terra esperando a próxima primavera. É nesse momento que a vida se revela em sua essência: não como uma linha reta, mas como um círculo que nunca se fecha, apenas se transforma.
As fases da Lua também conduzem os ciclos naturais. No crescente, a força vital aumenta; na cheia, a plenitude se manifesta; na minguante, há recolhimento; na nova, o recomeço. A lua influencia mares e plantações, assim como afeta nossa biologia e emoções. Esse fluxo invisível, mas perceptível, demonstra que tudo no universo está interligado e que, ao compreendê-lo, podemos viver de maneira mais harmoniosa.
Tudo na natureza obedece a um ritmo perfeito, e nós, como parte desse sistema, devemos compreender e aceitar esses ciclos. Quem vive em conexão com essa harmonia não teme a morte e não se incomoda em olhar no espelho com gratidão, pois entende que a vida é feita de ciclos. Viver bem não é evitar o fim ou tentar reconstruir o corpo para manter a jovialidade, mas sim nutri-lo com os elementos essenciais dos quatro elementos: terra, água, ar e fogo. É respeitar o próprio funcionamento, observando o ciclo circadiano que rege nossas energias e garantindo que cada fase da vida seja vivida plenamente.
O caos e o sofrimento vêm da desconexão com esses ritmos. Quem compreende a ordem natural não se perde no drama da existência, nem alimenta padrões destrutivos movidos por impulsos emocionais. Em vez de passar a vida inteira cuidando da doença, deve-se buscar a excelência de viver com saúde e bem-estar. E assim, ao entender o que já está inscrito no universo, encontra-se a paz de simplesmente existir ,como uma semente que deixa se morrer na terra, para renascer em uma nova vida.
Metades Eternas: O Amor que Resiste ao Tempo
Eram juras ao vento, promessas sem chão, dois corações que, embora ardentes, se perderam na ilusão. Amores que nascem sem raízes desfolham-se na estação.
Criaram castelos sobre as ondas, beijos ardentes que se desfizeram, e no fim, nem mesmo lembranças restaram no que um dia foram.
Mas há amores forjados no fogo, metades que se encontram sem erro, como estrelas que nunca se apagam, dançando sob o mesmo enredo.
Pois o amor que desafia o tempo não se rompe, não cede, não mente. É raiz profunda na alma e no peito, e quando tudo se vai, ele ainda é para sempre.
O Quebra-Cabeça da Vida: Buscando a Peça Perdida
Em algum ponto entre o primeiro suspiro e o último olhar, nos tornamos viajantes de uma estrada que ninguém desenhou. Carregamos nomes, memórias e sonhos, sem nunca saber ao certo se somos aquilo que imaginamos ou apenas o reflexo do que nos disseram ser.
O tempo nos veste com a ilusão da permanência, mas tudo o que tocamos escapa entre os dedos, como água que nunca se prende. Corremos atrás de certezas, sem perceber que a vida é feita de perguntas. Construímos histórias e as chamamos de vida, sem questionar se, talvez, tudo seja apenas um teatro onde representamos no palco da existência.
Somos um instante dentro do infinito, uma faísca breve na vastidão da existência. E, ainda assim, acreditamos que somos o centro, que somos unidade. Mas talvez sejamos apenas peças de um quebra-cabeça, tentando montar uma peça única para voltar ao universo que nos observa e nos espera, sem pressa.
Do infinito surgiu o princípio. A luz e a sombra dançavam sem forma, enquanto o tempo começava a traçar seu caminho. O homem e a mulher nasceram sem saber de onde vieram, sem compreender o propósito da existência. Tudo era passagem, transformação, mas ninguém se dava conta.
As estrelas brilhavam no céu, cumprindo silenciosamente seu papel. A lua observava, testemunha dos ciclos que nunca se interrompem. O vento sussurrava verdades esquecidas, enquanto o mar, imenso e profundo, guardava mistérios que ninguém ousava decifrar.
Pensaram que sabiam. Construíram certezas onde só havia dúvidas, repetiram ensinamentos que nunca foram completos. O que terminava, na verdade, não acabava, e o fim era apenas uma ilusão. Tudo se movia em uma dança que poucos percebiam. Mas agora, algo muda.
A fase racional chega, como um novo horizonte que se abre para aqueles que desejam enxergar. O que antes era vazio se torna compreensão. O universo, antes desencantado, começa a revelar seu brilho real. As portas se abrem para quem busca, para quem entende que nada está perdido, apenas oculto, esperando ser revelado.
Agora é o momento. O chamado ecoa no tempo. É para já, é para agora. Aqueles que despertam sabem que não existem verdades absolutas, apenas caminhos, apenas pistas. E quem as segue, finalmente, começa a ver.
Para viver, é preciso morrer
Muitas vezes, nos deixamos seduzir pela ilusão da satisfação imediata, entregando-nos aos desejos da carne e nos agarrando àquilo que, por um instante, parece nos fazer felizes. Mas Romanos 8:12-13 nos revela uma verdade profunda e transformadora:
"Portanto, irmãos, estamos em dívida, não para com a carne, para vivermos segundo a carne. Pois, se vocês viverem de acordo com a carne, morrerão; mas, se pelo Espírito fizerem morrer os atos do corpo, viverão."
Para viver plenamente, é preciso morrer para tudo o que nos afasta de Deus. É necessário despir-se dos velhos hábitos, abandonar as correntes que nos prendem à ilusão da vida terrena e permitir que o Espírito Santo nos guie por um novo caminho, um caminho de luz e renascimento.
O desapego é a chave da gaiola que prende o espírito à terra. Somente ao soltarmos essas amarras podemos voar rumo à verdadeira vida, uma existência pautada na paz, no propósito e na eternidade.
O mundo nos cerca com promessas vãs, oferecendo felicidades passageiras que se dissipam como a brisa ao entardecer. No entanto, apenas ao renunciar às ilusões da carne e entregar-se, de alma e coração, à vontade divina, experimentamos a verdadeira vida, uma jornada de plenitude, repleta de significado e conexão com o eterno.
Que cada amanhecer seja uma nova oportunidade para morrer para o que é efêmero e viver pelo que é eterno.
Lições da Natureza e a Jornada de Volta para Casa
A natureza é perfeita, mesmo em sua aparente imperfeição. Tudo nela acontece com calma, seguindo o ritmo que deve ter. Tentar apressar o tempo para alcançar aquilo que se deseja é em vão; se não houver uma essência pacífica e serena, nada chegará até você, e aquilo que não for merecido jamais será conquistado.
Antes de buscar a beleza que agrada aos olhos, aprenda a enxergar a perfeição que existe em tudo o que a natureza nos oferece, mesmo naquilo que parece imperfeito. A perfeição não é ditada por você, nem por regras artificiais da sociedade que impõem padrões insanos de beleza e separação. Criam-se ilusões de dualidade, onde há julgamentos entre o bem e o mal. A humanidade insiste em definir papéis distintos entre homem e mulher, atribuindo força ao masculino e fragilidade ao feminino, mas a verdade está além dessas imposições. É preciso ampliar a visão, olhar com os olhos da alma e enxergar além da superfície.
Assim como cada flor exibe cores e perfumes distintos, cada erva carrega seu próprio sabor e propriedades medicinais, podendo curar ou matar. A natureza não foi criada para comparar, mas para equilibrar, como o veneno da cobra, que também guarda seu próprio antídoto. Frutas, verduras, legumes e raízes existem em abundância para nutrir os mais diversos corpos e paladares. O que alimenta um pode ser fatal para outro; aquilo que para alguns é um deleite pode ser indiferente para outros. A diversidade é a essência da vida, promovendo cura e bem-estar sem discriminação.
Não podemos compreender outro ser sem antes entender a nós mesmos. Se nossa alimentação seguir aquilo que a natureza nos oferece, na justa medida para nosso corpo, então basta nos conhecer, experimentar e refinar nosso paladar. Esse processo pode levar tempo, pois o homem, ao desejar se sobrepor à natureza, modificou tudo em busca do lucro. Com egoísmo, criou ilusões de prazer à custa da saúde, fazendo com que seu corpo não reconheça mais o que é verdadeiro, gerando doenças sem fim. E então, de que adianta clamar por Deus, que se manifesta na própria natureza, e pedir cura, se continuamos a buscar nosso alimento nas prateleiras do mercado? A natureza não fabrica embalagens.
A vida, assim como as fases da lua e as estações do ano, é feita de ciclos, onde cada mudança se revela necessária para nossa evolução. Se nos acomodamos, acreditando ter construído impérios indestrutíveis, a maré vem e nos ensina que nada é permanente. Os ventos sopram, as ondas se erguem e desfazem tudo, para que possamos recomeçar. A natureza nos lembra constantemente que não há fim: apenas novos começos. Tudo se abre e se fecha, assim como a própria existência.
Não existe certo ou errado, pecado ou pecador, nem castigo de Deus. Tudo é aprendizado, e a dor não vem para punir, mas para ensinar. Cada desafio, cada erro, cada obstáculo são apenas lições que nos guiam de volta à nossa essência. O universo não julga, apenas equilibra; não castiga, apenas ajusta. O que hoje parece sofrimento amanhã pode ser revelação, e o que ontem foi erro hoje pode ser compreensão. A chave está em perceber, aceitar e restabelecer a conexão com o fluxo natural da vida, deixando de lado a ilusão da separação.
Assim como o figo esconde suas flores no lado de dentro, nossa verdadeira beleza só florescerá quando buscarmos dentro de nós. Como a árvore mais frondosa que se sustenta sobre raízes profundas, aquele que mergulha no próprio ser encontra fortaleza na fé e uma visão além das aparências. Se colocarmos água de coco em uma embalagem de refrigerante, ela continuará sendo água pura. Mas se colocarmos refrigerante dentro de um coco, jamais voltará a ser água de coco. A essência não se engana.
Viver com saúde e bem-estar em um mundo capitalista é privilégio de quem compreendeu que entregar a vida nas mãos de Deus é aceitar os padrões de conduta e pensamento que o Criador estabeleceu. Quem abre os olhos para essa verdade reconhece o brilho genuíno de tudo o que é natural.
O Ser Divino que Mora em Mim
No silêncio da alma, um eco desperta, um sussurro que dança entre sonho e vento. Não é palavra, nem verso, nem canto, mas pulsa vivo, ardente, sedento.
Ecoa suave no peito trêmulo, como rio que abraça sua própria nascente. Não há templo, altar, ou promessa, apenas o instante, puro, presente.
Choro e riso são sua canção, a voz que vibra no coração. No amor, na dor, na brisa esquecida, Deus se revela na própria vida.
Quem ouve, sente; quem sente, vê: Deus não se esconde, Ele também mora em você.
Nós, médiuns, percebemos a intenção por trás das palavras suaves e dos rostos amigáveis. Mas, às vezes, é melhor deixar que acreditem que confiamos em sua bondade, para que fiquem satisfeitos e sigam seu caminho, evitando conflitos desnecessários e preservando a paz. Não podemos esperar que os outros compreendam aquilo para o que ainda não estão prontos.
Não há como sustentar um relacionamento apenas com base em interesses pessoais. Um relacionamento não pode ser apenas uma casa com regras; é preciso ser um lar, onde reinem a paz e a tranquilidade. Relacionamento é a arte de saber interpretar a linguagem do amor.
Nem todas as lições vêm embaladas em momentos tranquilos. Às vezes, a vida usa desencontros e situações inesperadas para abrir nossos olhos. O que parecia apenas um tropeço pode revelar a essência verdadeira das pessoas ao redor, mostrando quem realmente se importa e quem apenas estava de passagem. No fim, cada experiência, por mais difícil que pareça, nos ajuda a enxergar com mais clareza e a seguir em frente com mais leveza.
O Preço da Liberdade
Ela chegou como o vento que despenteia os cabelos e desarma certezas. Trouxe consigo o perfume do desconhecido e o peso da ausência. No instante em que a liberdade tocou minha pele, compreendi que não era um presente, mas uma travessia.
A liberdade pediu-me tudo, meus medos, meus desejos, minha história. Com mãos delicadas, ela despiu minha identidade, arrancando cada fio de apego que me vestia. No espelho, vi uma estranha, alguém sem nome, sem passado, apenas um sopro vagando entre o céu e a terra.
E no vazio, a verdade sussurrou: somente aquele que se desfaz de si encontra o infinito. A liberdade, tão gratuita, exigia o preço da entrega absoluta. O amor e a saudade, antes refúgios, tornaram-se rastros de um tempo que já não me pertencia.
Mas então, ao perder tudo, ganhei o universo. Tornei-me o pássaro sem gaiola, o mar sem margens, a chama que arde sem se consumir. A liberdade não me deu novas amarras; apenas me ensinou que nunca precisei delas.
E assim, sem nome e sem destino, dancei com o vento e abracei o vazio como quem reencontra o lar.