Coleção pessoal de EvertonArieiro

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Às vezes me perguntam se parei de fazer o que fazia. Então lembro dos construtores, que concluem uma obra; depois ficam ocupados por muito tempo nos alicerces de uma nova obra.
Na vida, há um número elevado de obras. Quando termino uma, alicerço uma nova. Não dá para ser visível quando trabalho nesta parte.

A saudade dos mortos pode ser uma perda de tempo, visto que a dor, ou sentimentos de culpa, juntos ou separadamente, não trazem ninguém de volta;
Mas a saudade dos vivos, se for verdadeira, faz sair de casa, a pé, de ônibus, carroça, de qualquer forma, importando apenas com o encontro, para rir do tempo que fez desencontrar.

Reclama-se do bem quando o tem;
A na hora da tragédia, sobreviver, ter um "resto", tudo é visto como bem;
Não se deve esperar a tragédia para enxergar que o que tem, é o grande bem.

Não se pode gostar de ser prisioneiro da infelicidade. Os dias ruins passam, à mesma maneira que os bons, e a felicidade não pode condicionar-se ao tipo de dia, e sim ao tipo de ser que a recebe ou a deixa partir.

Quando as pessoas usam termos do tipo "enfrentar, lutar, guerrear" ou semelhantes, tenho a impressão de que se referem à vida como um sacrifício, ou algo que se faz por não ter nada melhor a fazer.
O melhor da vida é viver. Não há luta, não há guerra, e concluir o dia, o mês, ou o ano não é vencer um gigante; é ter vivido.

Dona felicidade e irmã Gratidão resolveram morar na mesma casa.
Assim, a infelicidade e a ingratidão se darão muito bem juntas, mas em outro ambiente.

Se é infeliz no ano todo;
Será também infeliz no novo;
Ser feliz é uma decisão interna;
Passa pela satisfação e aceitação acerca do que é;
Do que tem;
Do que faz.

O medo de viver;
O medo de ser;
O medo de ter que fazer;
O medo do que vão pensar;
E assim, a pessoa passa pela vida sem ser notada.

Dispenso sentir saudade;
Prefiro o amor perto;
Quero andar na cidade;
E ver teu sorriso aberto.

O calor da estação;
Anuncia que virão flores;
Ainda antes do verão;
Florescerão os amores.

Estações

De todos os dias;
Escolho sempre o olhar;
Achava eu que ias;
Encontrar-me e amar.

O tempo não é meu;
Ruim é a despedida;
Foi passando e amanheceu;
Pode durar uma vida.

É normal ser feliz;
É normal ter um amor;
É bom ser aprendiz;
Nostalgia é ser escritor.

Dispenso sentir saudade;
Prefiro o amor perto;
Quero andar na cidade;
E ver teu sorriso aberto.

O calor da estação;
Anuncia que virão flores;
Ainda antes do verão;
Florescerão os amores.

Pode estragar o penteado;
Pode borrar o rosto;
Só após ter te beijado;
Deixarei todo o desgosto.

Multiplicar

Há um abraço guardado
Um rico sempre o tem
Há um amor multiplicado
E um riso sempre vem.

Vem como o sol cedo
Despontando de algum lugar
Vem desvendando segredo
Conversas até se cansar.

Há um amor desconhecido
Há uma vida que nasceu
Na vida novo sentido
É semente que floresceu.

Sempre há na mesa lugar
Cabe os que sentem fome
Tem a chance para amar
Pode sempre chamar pelo nome.

Há um amor que não vai
Há solidão que não vem
Diz para a vida "não sai"
Lugar para rotina não tem .

Há um amor guardado
Um rico sempre o tem
E o amor é multiplicado
Quando se divide com alguém.

Há um amor que não vai
Há solidão que não vem
Diz para a vida "não sai"
Lugar para rotina não tem .

Há um amor guardado
Um rico sempre o tem
E o amor é multiplicado
Quando se divide com alguém.

...
Em algum lugar do caminho, há alguém esperando, e o ônibus há de parar, apesar de alguns precisarem ir mais longe, chegará a hora em que aquele ônibus não é mais necessário, e será necessário descer dele. Por vários motivos descemos. Pode ser que agora esteja perto do destino e dê pra fazer o restante do percurso a pé; pode ser que a rota que ele faz não seja mais a desejada, e compense descer para fazer o trajeto à própria maneira; pode ser que o ônibus já tenha oferecido tudo o que tinha a oferecer, esteja velho, e agora, já seja possível pagar um táxi e desfrutar de seu conforto, afinal, o ônibus foi apenas um meio para chegar, mas apesar de estar nele, era por falta de opção, esperando por algo melhor.

Por que dizemos que na vida tudo é passageiro?
Será que o fazemos apenas quando falamos de problemas?
Será que a alusão é restrita aos bons tempos?
Será que está ligados às amizades?
Sempre fico pensando, e dou asas à imaginação.
Lembro da infância, e vejo que foi passageira. Alguns amigos cujos vínculos pareciam não terminar nunca, alguma coisa de força, vitalidade que parecia infinita, até os dias pareciam maiores, não entendia o sentido do que é passageiro.
Descobri que a melhor forma de ver um passageiro na vida, é comparar as coisas e as pessoas a um ônibus.
Em algum lugar do caminho, há alguém esperando, e o ônibus há de parar, apesar de alguns precisarem ir mais longe, chegará a hora em que aquele ônibus não é mais necessário, e será necessário descer dele. Por vários motivos descemos. Pode ser que agora esteja perto do destino e dê pra fazer o restante do percurso a pé; pode ser que a rota que ele faz não seja mais a desejada, e compense descer para fazer o trajeto à própria maneira; pode ser que o ônibus já tenha oferecido tudo o que tinha a oferecer, esteja velho, e agora, já seja possível pagar um táxi e desfrutar de seu conforto, afinal, o ônibus foi apenas um meio para chegar, mas apesar de estar nele, era por falta de opção, esperando por algo melhor.
Descobri que assim é a vida, cheia de passageiros. Quando o ônibus não serve mais, quando já chegou no limite das forças, ou surgiu a possibilidade de ser mais feliz, a tendência é que as pessoas desçam desse ônibus, esqueçam o nome, a marca, as características, e sintam-se livres para um voo, alto, distante, cada vez mais distante, fazendo jus ao nome: passageiro.
Chegou, entrou por uma porta e saiu por outra, há casos em que a saída é pela mesma porta de entrada. Mas o que há pra se notar é que estaremos sempre cercados, e às vezes nós mesmos somos, mesmo não admitindo, mesmo dizendo, afirmando a plenos pulmões, que não somos. Sempre que alguém entrar no ônibus, sabemos que em algum momento descerá. Sempre que alguém descer do ônibus, sabemos que já era uma tendência.

Hoje estou pensando no que vou estar fazendo quando estiver ganhando dinheiro. Estive trabalhando, tentei estar ajuntando dinheiro, mas não consegui estar comprando a moto do jeito que eu estava querendo.
Ainda estou esperando, no final do ano quero estar prestando vestibular, e assim vou estar entrando na faculdade. Depois vou estar formando, comprando, investindo, usufruindo, esnobando, andando, correndo, fazendo tantas coisas, inclusive, escrevendo.

O gerúndio

Inevitavelmente eu ouço gerúndio, antigamente o confundia com Gerônimo, e pensava que gerúndio fosse nome de pessoa. Com o tempo, não gostei do Gerônimo, parecia boa pessoa, mas não desgrudava do gerúndio. Fiquei acesso aos dois. Ao gerúndio porque nunca terminava o que começava, e ao Gerônimo porque andava com o gerúndio em todas as suas respostas.
A professora perguntou: - Posso apagar?
O Gerônimo respondeu: - Estou começando! Estou copiando! Estou terminando.
E assim ele ia, estava começando, estava quase terminando. Sempre estava falando. Quando saía, que era chamado, dizia que estava voltando. É pra variar, quando alguém ia falar dele, falava que estava incomodando. Todas as suas ações eram do momento, eu não lembro de um dia em que ele tenha usado um verbo no futuro do presente, ou então no pretérito perfeito. Tudo tinha o vício do gerúndio.
Algumas horas na escola, e o que mais ele dizia era que estava esperando a hora de estar indo embora, porque após ter estado toda a tarde estudando, a noite ele estaria jogando futebol, e ele estava acreditando que seu time estaria ganhando o jogo, e ele estaria sendo o jogador que estaria fazendo os gols do time, e, caso fosse necessário, ele estaria indo para o gol, e estaria defendendo todas as bolas que os jogadores do time adversário estariam chutando àquele gol.
Agora, acho que já gosto do gerúndio, embora não goste do Gerônimo. Foram três anos estudando juntos. Fizemos alguns trabalhos juntos, em dupla, fomos aprovados, mas tive problema com gerúndio por causa dele.
Hoje estou pensando no que vou estar fazendo quando estiver ganhando dinheiro. Estive trabalhando, tentei estar ajuntando dinheiro, mas não consegui estar comprando a moto do jeito que eu estava querendo.
Ainda estou esperando, no final do ano quero estar prestando vestibular, e assim vou estar entrando na faculdade. Depois vou estar formando, comprando, investindo, usufruindo, esnobando, andando, correndo, fazendo tantas coisas, inclusive, escrevendo.
Só não quero estar reencontrando o Gerônimo, nunca gostei da forma dele de usar sempre os verbos na mesma forma de conjugação.
Se eu o vir, vou estar atravessando a rua, e vou estar andando na outra calçada. Quando muito, vou estar dizendo um bom dia, boa tarde, ou boa noite. Mas nem vou estar apertando sua mão. Vou estar evitando.

...
Entediado resolve sair de casa, a chuva está fina, está pensando em fazer algo que ainda não fez. Anestesiado, encontra-se com um amigo que o abraça e diz:
-Sinto muito pelo ocorrido. Vamos ao cemitério, lá em frente tem um pessoal vendendo flores para nós colocarmos sobre o túmulo dela.
Seus olhos lacrimejam, e ele descobre que finalmente chegou o dia de dar-lhe flores.

Quem és tu jurando amor?
E quais são tuas promessas?
Quem és tu espalhando dor?
Quem és tu vivendo às pressas?

Escreva tudo em teu livro;
Imite os sons da natureza;
Procure alguém que esteja vivo;
Mesmo cheio de incertezas.

Na velhice

Já são anos escrevendo;
As histórias de uma face;
Já são dias escurecendo;
Desejando que me abrace.

São os dias de beleza;
Os que vens a encontrar;
E me vejo sem destreza;
E só falta te amar.

Um amor que é diferente;
Um que veio do infinito;
Um amor que faz contente;
Um do rosto mais bonito.

É uma bela que é fera;
É um rosto que se rende;
É uma força que é mera;
É uma força que a mim prende.

O abraço que não solta;
O beijo que não desfaz;
O caminho que não volta;
O amor que satisfaz.

Já são anos escrevendo;
Sobre o amor que nasceu;
E me vou envelhecendo;
E esse amor ainda é meu.

Cuida do coração

Sorria. Sorria, menina
Esperançosa no amor
Brilha. Fixa a retina
Espera ganhar flor .

Sozinha, pensa no porquê
O porquê de amar assim.
Pensativa, ganha o buquê
Está propensa dizer sim.

O sim dito à paixão
Não há tempo para pensar
Se domina o coração
Diz que é tempo de amar.

O amor não tem medida
Ele não conta a idade
Só quer viver a vida
Quer fugir da vaidade.

Vaidade é algo que passa
Não se diz isso do amor
Às roupas vêm as traças
E assim é o desamor.

Ao fim não se espera
Ninguém quer decepção
Vale muito quem esmera
E cuida do coração.