Coleção pessoal de eusousalvi

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⁠Autoestrada

Uma grande autoestrada possui muitos afluentes,
É como a cabeleira de um grande rio, cheio de fio... e cada um diferente,
Existe o fio que vem da roça, vem de longe, estrada grossa,
Pra passar só com um trator, um trator que as planta roça...
Já tem um fio que é da cidade,
Moço jovem, pouca idade...
Aprendeu a ganhar dinheiro, na mais tenra mocidade...
Hoje vem de Ferrari,
Cavalo a mil!
Chegou na autoestrada e ó: você nem viu!
Outro fio mora bem perto,
Bem na beira da autoestrada,
Nem precisa sair cedo,
Uma preguiça retada! Mas foi!
Pegou a bike, deu uma olhada,
Encheu o pneu...
E partiu! Partiu pra autoestrada!
A autoestrada não tem fim, só que ninguém sabia...
Cada um fez o que pode e assim a vida seguia...
O fio da roça lá chegou, na autoestrada seu trator,
Ia bem devagarinho, nem ele mesmo se apressou...
O da Ferrari tava longe, longe até demais,
Pena que não viu o buraco, Ferrari nunca mais...
O da bike, tudo certo, continuou a pedalar,
As vezes até parava pra uma soneca tirar...
O tempo foi passando e autoestrada não acabou,
O da roça perdeu o diesel, então logo se apressou...
Mas só por um momento, pra deixar o seu trator, agora ia a pé... Quem da roça já cansou?
O da Ferrari tava parado, os 4 pneu furado,
Sentado com a porta aberta, parecia desconsolado...
O da bike acordou, hora de pedalar,
Mas agora ele já notou, os pneus tão a muchar...
O da roça chegou em prosa, bem pertinho da Ferrari... Olhou, pensou... E então fez um milagre!
"Bora moço jovem! Olha só como é que eu tou! Esse é o único caminho, o destino já chegou! Não se prenda a esse carro, o meu lá atrás ficou. Olha o tanto que andei e veja só o meu vigor! Eu sei que é difícil, para isso me esforcei. Mas segura aqui no meu braço, vamos juntos ver o Rei!"
O da Ferrari nem acreditava,
Nunca tinha visto alguém com tanta alegria brava!
Por um momento ele quase desiste,
Já não estava mais triste, andar não é tão ruim, se alguém que ama insiste.
O da bike tinha voltado, era mais rápido ir em casa, afinal não tinha ido longe, enchia o pneu e então voltava...
Voltando pra casa, esqueceu até aonde estava, a bomba, o pneu e até a própria casa...
Perdido... Agora que percebeu,
Isso já tinha acontecido antes,
É o vício do já morreu!
Mas então ele se lembrou,
Virou e encontrou,
A casa tava do lado,
Foi o pescoço que não virou.
Mais a frente... A autoestrada tava difícil,
Mas o da roça ajudava o jovem,
E o jovem ensinava o difícil...
Os dois aprendiam muito, seguindo na autoestrada,
Cada vez que um ia cair, logo via a mão esticada,
O jovem tinha tatuagem, piercing e calça rasgada,
O da roça um cigarro de palha, pouca roupa e mais nada...
O da bike conseguiu! De volta a autoestrada,
Mas bateu uma preguiça, outra soneca na beirada...
Enquanto ele tava dormindo, dois ratinhos o observava...
Assim que o sono pesava, um assobio se escutava...
O da bike então acordou,
É hora da pedalada!
Pena que o pneu murchou,
E os ratinhos, escondidos,
Caíram na risada...
A autoestrada ainda está lá,
Não se sabe até quando,
Enquanto o da roça e o jovem andam,
O da bike vive sonhando...
Engraçado é dizer, que ele mora mais perto,
Mas a distância que ele foi, dos outros dois nem chega perto.

⁠Só importamos se nos importamos.

⁠A satisfação pela realização do desejo é o que impele a vontade de se manter em movimento.

⁠O desejo primordial é a ambiguidade entre perceber e ser percebido.

⁠Ideias são estados de atenção preservados.

⁠Ser senciente é a alternância entre observação e observador

⁠A ignição do universo é a eterna cognição desejosa por existir.

⁠O universo é como a eterna dança de ideias opostas, que poderiam se complementar, mas escolhem inconscientemente a polaridade.

⁠Seja sempre seu primeiro oposto sincero.

⁠Estar consciente é uma constante fuga da loucura. Loucura é aceitar viver no universo do outro. Amor é um ato de loucura. Razão é o ato de assassinar suas versões que não cabem. Empatia é um estado de consciência. Pensar é ato mínimo. Refletir é dignidade. Silêncio, educação.

⁠O outro é reflexo da sua relação com o observador.

⁠Esquecer é repouso,
Lembrar é movimento.

⁠O inimigo mora no reflexo daquele a quem culpa.

⁠O mal deve ser diluído.
O bem?
Bem fluído.

Opostos,
Unidos,
São indefinidos.

⁠Corpos

A diferença entre os opostos é apenas estética e subjetiva, o ponto de vista é o definidor do reflexo e do refletido.

⁠Caminhos

De formas diferentes,
Em mentes diferentes,
Porque por diferentes caminhos,
Queremos nos encontrar.

O propósito não nasce através da ação e sim do autor. O exemplo é a ação de refletir o propósito de ser.

⁠Profecias

É preciso que sejam dois para equilíbrio,
É preciso que seja um para que lidere-se,
É preciso que sejam muitos para que lembrem-se,
É preciso que morram pra que esqueçam,
É preciso que ressuscitem para que aprendam,
É preciso que amem para que libertem-se.

⁠Inflexão de reflexos

Como ondulações causadas em um espelho d'água, a imaginação flui a partir do desejo.
Essas ondulações refletem infinitas possibilidades de existência, de criação e destruição.
Ondas carregadas do mais puro desejo de criar, transbordam realidades até que, no ponto de inflexão, um novo desejo surge, o de viver o que foi imaginado.
Neste momento, a consciência que pairava por sobre as águas do seu fluído imaginar, imagina-se no início do seu pensar, com vontade de vivenciar tudo o que sonhou e ainda assim, continuar sonhando.
Um paradoxo entre liberdade e auto-contenção, uma nova luz que brilha em meio as trevas, deixadas pelo vazio das memórias ainda não vividas e então um intenso desejo começa a ganhar forma através de fractais de matéria luminosa, atraídos pela intenção de experienciar uma possibilidade.
O mesmo e ainda assim, diferente. Novas memórias criadas através da experimentação de memórias realizadas. A coexistência entre o eu e o não-eu.
Os céus da imaginação continuam a se ondular infinitamente, enquanto que a matéria, ainda um puro desejo informe, unifica-se formando uma sutil projeção mental, uma ilusão, que quando confrontada ao limite, deixa de existir.
Insatisfeito com o não pertencimento em sua própria ilusão, escolhe vivenciar sua própria criação, desencadeando caos e ordem, decide elevar a criação ao ápice do conhecimento a fim de deleitar-se do prazer de uma companhia.
Com muita astúcia, desenha um ser semelhante a si e dentro dele define a existência de um paradoxo.
O masculino e o feminino, a atração e a repulsão, a construção e destruição. Mas assim como em si, em sua mais perfeita criação, também residia a solidão.
Então um se tornou dois, um espelho pra um reflexo, um todo complementar.
E assim a ilusão criada vivenciou o perfeito prazer, a não-solidão, até que as suas existências são postas a prova: deixar de ser quem somos pra nos tornar uma ideia de quem podemos ser.
A imaginação, agora inserida na criação, gera camadas infinitas de possibilidades e escolhas que podem ser materializadas através do desejo.
Uma ondulação que permeia a ilusão da existência, refletindo a infinita onda exterior de possibilidades.
A união entre a matéria ilusória e o divino.
Eis então a primeira escolha: ser mais!
E, ao almejar o infinito, reconhece então sua própria finitude. Paredes de ilusão que antes representavam liberdade, agora representam grades para sua percepção. Ao ser questionado sobre sua escolha, escolhe a amargura como resposta, semente que imaginou ao ressentir seus limites.
Um plano, regado a suor e sangue, começa a se desenrolar. Dois se tornam três, quatro, milhares, milhões, até que o criador desta ilusão decide vivenciar a ilusão que criara e assim, por um breve período, coexistem apenas as ondulações dos céus da imaginação, a ilusão da existência de possibilidades escolhidas e uma consciência singular que agora possui fractais de lembranças do futuro, do passado e do presente.
Novamente uma nova existência, nomeada, ilusória, mas tangível pela própria ilusão, percebe o amor, a fúria, a dor, a tristeza, a alegria e o silêncio.
Até que, desperto novamente no início, compreende o sentir e sente-se verdadeiramente vivo, vivo de tudo.
Ele então começa a compor, não mais um plano, mas uma música. Uma música capaz de tocar todas as possibilidades simultaneamente, onde cada existência representa suas próprias escolhas como vibrações melódicas do concerto cósmico.
Infinitas realidades vivas coexistindo, ainda sem interagir, até que o maestro, dotado de reflexos, diga: fim.