Coleção pessoal de diogo_silverio_pereira
Nota em papel sujo
Te perdi.
Ou você me perdeu primeiro.
Não importa.
Resta a cama vazia,
o cheiro podre da tua ausência
grudado na parede.
Não volto.
Você não volta.
Mas ainda ouço teu nome no escuro.
Fragmentos para um amor morto
Teu nome
ainda arranha
meu sono.
No prato vazio,
mastigo tua ausência
como pão duro.
Minha boca chama —
mas só responde
o silêncio.
Um lençol,
um cheiro,
uma falta.
Teu corpo foi,
mas tua sombra
não desaprende.
Grito teu nome
e ele volta
sem carne.
A noite me veste
com tua ausência:
lã fria,
sangue lento.
Segunda Feira
A chuva risca a janela com uma calma cruel. Lá fora tudo molha, mas aqui dentro sou eu que escorro. Ando pela casa como quem esqueceu o porquê dos móveis, dos cantos, dos passos. Segunda-feira tem gosto de café morno, meio amargo, esquecido na borda da xícara — como certas lembranças. Tem cheiro de abraço que virou eco, de vozes que sumiram sem fazer barulho.
O mundo lá fora se arrasta em passos que não reconheço. Gente com pressa de viver o que eu nem sei mais nomear. Aqui, o tempo não passa — ele assenta, pesa, gruda. Nem acendo a luz. Pra quê? A manhã não traz nada além desse espelho embaçado que insiste em me devolver um rosto que já não me responde.