Coleção pessoal de danielliokamura

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Aquário da vida

O dia amanheceu branco
mais gelado que meu próprio coração
sem nenhuma canção
sem nenhum pranto
o dia permaneceu branco
sem o teu encanto!

E se eu fosse a moça tecelã
deixaria o corpo que padece
me envolveria com sol e a neve
entre as linhas da minha face
teceria o calor e o frio
nos caprichos do dia e da noite
para ter contigo o amanhã!

Doçura de viver

Entregai os sabores das cores
nas brincadeiras das poesias
aos vossos desejos reprimidos
das loucuras interditas
pelos laços dos vossos lábios.

Vigiai os olhares dos mares
nas valentias das vossas ausências
aos vossos pecados cometidos
das ternuras alvuras
pelos dias e noites das vossas mãos.

Almejai os odores dos amores
nas aquarelas das vidas
aos vossos corpos entremeados
das capelas adoradas
pelos apelos dos vossos pensamentos!

Stella

Radiante nell' oscurità
Brilla, brilla, brilla
In questa notte lugubre
Regna in me
Indomabile sentimento.

Si avvicina
Sorriso della vita
Gentilezza del domani
Tessendo i miei occhi
Rompe il mio oceano.

In un istante
La completezza del mio essere
Mi travolge
Desideri, sogni
La stella in me.

Ariano Suassuna

Os homens de barro
Singela improvisação
Com o arco desolado
O sagrado e o profano
Cantam as harpas de Sião.

O pasto incendiado
E lá se vai um homem vestido de Sol!
De cerne Armorial!
Ao Auto da Compadecida
A pena e a lei.

O nosso rebento nordestino
No caminho da caatinga
Sem caneta, sem papel
Nas torturas de um coração
Um adeus ao deserto do sertão!

Pintada por Deus

Dentre nuvens e ventos
O amanhecer da poesia
Pintando o verde das montanhas
Com os raios de sol.

A neblina enigmática pelo Aeroporto
E o mar enaltecendo o Porto
Sob o singelo toque das mãos de Deus
Um doce Pão de açúcar.

Do encontro aos céus
A vista do paraíso
O coração na alma
Sem palavras diante de Cristo.

Na travessia pelo Aterro de encontros
O povo de Bota Fogo
Entre clubes e um bom futebol
A paixão nacional.

Perdida entre árvores e flores
Do gentil encanto da natureza
Um momento único da prosa e da poesia
Caminhando juntas pelo Jardim Botânico.

Sento-me de mão dadas
Reflito sobre o sentimento do mundo
Ao lado do maior poeta de Itabira
Na maravilhosa Praia de Copacabana.

Percorro pela linda Ipanema
Cheia de graça e de inspiração
Ao som do mar e dos ventos
Deixo o meu coração.

Bandeira

Belo, belo, belo
Surge no horizonte da estrela da manhã
E se perde na estrela da tarde
Em busca de uma alma única
Uma luta pela vida inteira.

Chega o poeta do lirismo
Da vida cotidiana
Do sentimento universal
Aquele que engoliu os sapos
Num garboso manifesto da poesia.

Ao bater da cinza das horas
Uma mágoa, uma melancolia
Um ressentimento de perseguição
A morbidez: Pneumotórax
A vida um poema-piada.

Foge de um satânico carnaval
Indo embora pra Pasárgada
Em um ritmo dissoluto
Vivendo na libertinagem das palavras
Na labuta da lira dos cinquent’anos
Um legado de brincadeiras com formas e inspiração.

João Cabral de Melo Neto

Meu caro João,
Dono do cão sem plumas
Dos retirantes surrealistas
Um belo engenheiro da poesia
Amado poeta do sertão,
Da luz balão!

Enterra os ossos com a lâmina da faca
Germina a poesia popular
Na educação pela pedra
Nada de tradicionalismos
Nada de convencionalismos
Retira o relógio da gaiola
Esquece o regimento
Come os versos, as estrofes
Lança assovios e flores
De um arquiteto da luz livre
Toma umas aspirinas
Abusa das rimas
Das vidas divinas toantes.

Do fazer poético
No catar feijão
Tecendo a manhã
Com a Morte e vida Severina
Semeando a poesia no sertão
Deixou seu coração
E a esperança do amanhã.

À Lady Lazarus

Entre palavras a doçura do silêncio
uma escrita autêntica de fênix
das pinceladas de sangue
decorando um coração seco
dando êxtase aos pensamentos vazios
ao caminho das águas profundas e eternas de Ariel.

No auge flutua a balzaquiana
aos raios de sol de seu espelho mágico
buscando a amálgama com o luar
na triste contusão da vida
eleva-se como um anjo
aos vômitos de vermes e sapos
e se perde num amor inexistente.

Vinicius de Moraes

Dá-lhe poetinha
não temendo essa vidinha
cheio de amores
sem problemas com pudores
sem arrependimentos
uma viagem de casamentos.

Sedutor da palavra
Escritor que lavra
Apreciador de lirismos
Vida sem modismos
Conquistador de sentimentos
Encantador de pensamentos.

Amante da arte
Diplomata aparte
Dramaturgo e jornalista
Compositor e poeta,
Boêmio de sonetos
Fumante de intentos.

Vivendo sob a paixão
Tudo com muita emoção
Toma uísque de flores
Aprende com as dores
Eterno em todos momentos
Efêmero nos sofrimentos.

Realiza uma doce mistura
De teatro, cinema, música e literatura
De nada afeta
Caminha entre o mistério, a paixão e a morte
Ele sim foi poeta,
Sonhou e amou na sua vida apaixonante!

Terra prometida

Lentamente gotas caem...
Caminho incerto.
Chuva???
Sofrimento.

Ó lágrimas! Lágrimas solitárias!
Deserto infinito.
Fuga!
Labirinto.

Ó sal! Sal dos mórbidos!
Lábios...
Há tempo selados.
Mortos.

Ó lágrimas salgadas!
Corpo oco.
Lugar sem vidas.
Martírio.

Ó coração seco!
Que não temes mais a seca.
Da chuva não se escuta o eco.
Alimenta-se da busca pela terra: esperança.

Mario Quintana

Desde a infância
conheceu a dor e a solidão:
a perda de seus pais.

As primeiras produções literárias
no âmbito de um colégio militar
trabalhando para editoras
e na farmácia de seu pai.

Sem casamento, sem filhos
solitário
vivendo em hotéis.

Poeta das coisas simples
dono de uma bela ironia
com profundidade e perfeição técnica
apresenta poemas e frases brilhantes.

Jornalista em quase toda sua vida
tradutor de diversos clássicos de literatura universal
faz sucesso já no primeiro livro.

Das suas poesias os prêmios
as participações em antologias
e em diversos livros escolares
mas em vão tenta entrar na academia.

Saudado pelos poetas,
critica a política na academia
rapidamente os ponteiros passam
então dorme com sapatos.

Patativa do Assaré

Dentre o cultivo de terras
surge o poeta do Ceará
de seus envolventes repentes
o maravilhoso desafio do improviso
o casamento da poesia e da música
o delicioso canto de criação de versos.

Ó ave Patativa
que beleza de canto, de poesia
de fineza, de melodia
de uma oralidade marcante
cheia de significações e sensações.

Entre a voz e a entonação
as pausas
entre o ritmo e o pigarro
a expressão
com perfeição sua ironia, veemência e hesitação.

De sonetos clássicos
à décima e a sextilha nordestina
ora linguagem culta
ora linguagem do dia a dia
emerge a poesia matuta.

Antônio Gonçalves da Silva
agricultor, improvisador
compositor, cantor
poeta popular
nossa ave brasileira.

Cecília Meireles

Mortes, perdas, tristezas
Uma vida de incertezas
Com o efêmero e com o eterno.

Do silêncio e da solidão a infância
O mundo fantástico dos livros
A fuga, a busca, a imaginação.

Do encontro dos dois mundos
Cria a consciência e a sensibilidade
Da real transitoriedade de toda a compreensão da vida e da humanidade.

Aprende a maturidade e a individualidade
Com muita distinção e louvor foi professora, pedagoga, jornalista e pintora
Entre línguas, literaturas, músicas, folclores e teorias de educação.

Na literatura a sua infância, suas viagens e situações circunstanciais
Eleva-se na poesia primitiva
Que poesias! Puras, belas e verdadeiras.

Pungente de lirismo transfigurador
E terno de lirismo espontâneo
Simples sonetos de complexos simbolismos
Impregnados das pessoas, dos costumes e dos idiomas.

Uma poesia atemporal
A procura pela musicalidade
Deixa o doce encanto
Do mistério do canto das poesias
A vaga existência e a razão do ser humano.

O trem

Pensei nisso hoje
mas bem lembro
ter pensado isso antes
bem antes
bem depois
de ver o trem
o trem passando
divagando
respirando
a ida
a vida
das nuvens
dos ares
das aves
abaixo
o trem
vem
rosnando
detonando
os ventos
queridos
deixados
achados
vem
outrem
no trem
no ruído
doído
da minha alma
a minha calma
nos olhos
fechados
o trem
vem!

Cora Coralina

Minha doce Ana
humildade que encanta
das suas mãos
a doce profissão.

Transformou a doçura em palavras
e palavras em poesia
e poesia em sentimentos
e sentimentos em pessoas.

Sem se importar com gramáticas
com escolas literárias
priorizou a mensagem
para a forma virar simplicidade.

Dos becos históricos de Goiás
o cotidiano da nossa gente
canônica eternamente
doceira das palavras.

Leva o Prêmio Juca Pato
com o carinho da sua gente
Ana, Aninha
nossa doce Cora Coralina.

Patinho

Patinho anda
De repente pára aqui
Porque cai um cáqui

Luz

No caminho seduz
Brilha a luz das luzes
No céu se reluz.

Cotia

Corre cotia corre
Pega a cotia corre
Cotia pega.

Tempestade

Renascendo nuvem
Vento pra lá e pra cá
Chuva esperada.

Pingo

Água pinga pingo
Pingo da água cristalina
Pingo cristalino.