Coleção pessoal de dahouse

21 - 40 do total de 45 pensamentos na coleção de dahouse

Para muitos, um livro é como uma chave para câmaras desconhecidas num castelo dentro deles mesmos.

Durante um tempo não consegui entender por que não recebia resposta à minha pergunta, e hoje não consigo compreender como pude estar tão enganado a ponto de perguntar. Mas não é que eu estivesse enganado; eu apenas perguntava.

[Carta a Pollak]
Acho que só devemos ler a espécie de livros que nos ferem e trespassam. Se o livro que estamos lendo não nos acorda com uma pancada na cabeça, por que o estamos lendo? Porque nos faz felizes, como você escreve? Bom Deus, seríamos felizes precisamente se não tivéssemos livros e a espécie de livros que nos torna felizes é a espécie de livros que escreveríamos se a isso fôssemos obrigados.

Mas nós precisamos de livros que nos afetam como um desastre, que nos magoam profundamente, como a morte de alguém a quem amávamos mais do que a nós mesmos, como ser banido para uma floresta longe de todos. Um livro tem que ser como um machado para quebrar o mar de gelo que há dentro de nós. É nisso que eu creio.

Nenhum de nós tem que seguir a direção do vento, por isso existem as velas nos barcos.
É a forma como nós posicionamos a vela que faz com que o mesmo vento nos leve a lugares diferentes. Por isso o Homem criou a vela, para que os desbravadores possam seguir em direção contraria do vento.

Quando acreditamos apaixonadamente em algo que ainda não existe, nós o criamos. O inexistente é o que não desejamos o suficiente.

Em épocas de paz não se costuma chegar a lugar algum.

Tem muito medo de morrer porque ainda não viveu.

Porque escrever significa revelar-se em excesso, a máxima revelação e entrega de si mesmo, na qual um ser humano, ao estar envolvido com outros, sentiria estar perdendo-se de si, e da qual, assim, ele sempre irá recuar enquanto estiver em seu juízo perfeito. É por isso que nunca se está sozinho o suficiente quando se escreve, nunca haverá silêncio o suficiente quando se escreve, nem a noite é noite o bastante.

Crer significa libertar em si mesmo o indestrutível. Ou melhor: significa libertar-se. Ou melhor: significa ser indestrutível. Ou melhor ainda: significa ser.

A partir de certo ponto não há retorno. Esse é o ponto que é preciso alcançar.

Viver é nos desviarmos incessantemente. E nos desviamos de tal maneira que a confusão nos impede de saber do que estamos nos desviando.

Quando você se impõe uma responsabilidade grande demais, você se destrói a si mesmo.

O vazio que a genialidade produz a nossa volta é um bom lugar para acendermos nossa pequena luz.

Não posso levar o mundo nos ombros se mal suporto o peso do meu casaco de inverno.

A verdade é sempre um abismo.

Bem, este círculo pertence-nos de facto, mas só nos pertence enquanto nos mantivermos nele; se nos afastarmos para o lado uma vez que seja, por distracção, por esquecimento, por susto, por espanto, por cansaço, eis que já o perdemos no espaço; até agora tínhamos tido o nariz metido na corrente do tempo, agora retrocedemos, ex-nadadores, caminhantes actuais, e estamos perdidos.

A verdade é tudo aquilo que o homem precisa para viver, não pode ganhar nem comprar dos outros. Todo homem deve produzí-la sempre no seu íntimo, se não ele se arruína. Viver sem a verdade é impossível, mas não exagere o culto da verdade. Não há um único homem no mundo, que não tenha mentido muitas vezes e com razão.

Deixem dormir o futuro como merece. Se o acordarem antes do tempo, teremos um presente sonolento.

De alguma forma eu lutava contra sensações que continham pura abstração e nenhum gesto dirigido ao mundo atual.

Um livro deve ser o machado que partirá os mares congelados dentro de nossa alma.