Coleção pessoal de CostaJordan

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acreditar que tudo vai dar certo é um sentimento infantil
corrompido estou por uma vontade vil
na vida sou único e solitário
mesmo que fosse mil
viveria

pra ver
tudo o que fiz perecer
cair no esquecimento do diário
como diz o dicionário, as palavras ficam
porém eu sozinho em fim de vida jamais serei lembrado

tão pequeno
e tão insignificante
chora como um derrotado
fala como um idiota
a minha doença
minha tempestade e meu fim
junto comigo
tudo de ruim que fiz
até em minha respiração
não tenho mais nada na mente
assim como não tenho mais coração

Peste

vendi meu coração ao ladrão
coloquei tudo que tinha dentro no prego
matei as pestes que moravam dentro de mim
de fome
nada pra comer
nada pra infestar
só restou o vácuo
vazio

na madrugada ainda escuto-os
se revirando e roendo o último pedaço de alma
que sobrou
ratos
baratas
gafanhotos
a carne se desmancha
o osso se corrói
a vida se cansa de te carregar
e então você vira pó

suas balas tem meu nome
suas falas tem o rancor
mas meu povo é de aço
nunca tivemos a cabeça pra baixo
você ainda vai pagar por toda dor
e você vai se surpreender
quando ver que o super homem
não é da sua cor.

O tempo e o espaço

O tempo já namorava o espaço antes do mundo existir
antes do primeiro nascer do sol
o espaço já olhava para o tempo com um brilho diferente
e caminhavam pelo infinito de mãos dadas
olhando as estrelas explodirem e as galáxias nascendo
até que em um planeta minúsculo e azul
nasceu uma criatura medonha e bizarra
que em nada parecia com as estrelas com que estavam acostumados
o tempo generoso decidiu ajudar então a pobre criatura
o espaço sempre rancoroso não gostou nem um pouco
e com a ajuda do tempo e do espaço
essa criatura cresceu e se multiplicou
nessa altura o tempo e o espaço tiveram uma filha
o amor
o amor adorava brincar entre essas criaturas
fazendo uma querer a outra loucamente
o tempo já apegado não conseguia largar mais as tais criaturas
e todo o rancor do espaço só fez aumentar
os dois já tristes não conviviam bem
eles tiveram mais duas filhas gêmeas antes de se separarem
saudade e solidão
ao se separarem cada uma levou uma consigo
enquanto o amor já crescida decidiu viver entre as criaturas
o espaço levou a saudade
o tempo levou a solidão
e até hoje nunca mais se viram

O pecado não mora ao lado
ele mora dentro.

ut omnes

não vivo o presente
porque sou iluminado
do futuro eu tenho medo
e vergonha do passado

Dormindo com o inimigo

A criatura que eu vejo no espelho
me olha e ri
demente, impotente
infeliz do corpo e da mente
a escassez de beleza
causa gargalhadas histéricas
na figura que tinha o meu rosto
e quem melhor do que eu
para me odiar
já pedi divorcio do meu corpo
mas esta massa disforme
se recusa a me deixar ir

Café quente

O sorriso das outras pessoas me irrita
a felicidade alheia me incomoda
o amor está no ar
eu prendo a respiração
não desejo atrair ninguém
não tenho nada pra oferecer
além de um bocado de dor
e um café quente

seda pra fazer roupa

A vida é uma costureira muito boa
fez meu coração de porta agulha
usando minha esperança pra fazer roupa

Fim de festa

rimos
brincamos
amamos
e quando no final da festa
fiz rateio
juntei tudo que tinha
pra comprar mais amor
mas já estava fechado
voltei de mãos mãos abanando
e você se foi
enquanto de amor
eu continuo embriagado

Um amor de poeta

Somos como poesia
palavras distintas
se encontrando num parágrafo qualquer
formando uma harmonia de sentidos
uma coesão de sentimentos
dando coerência ao amor

eu sou um idiota
não por não saber das coisas
mas por saber de tudo
e fazer tão pouco
ter uma mente acorrentada
uma alma atormentada
uma memória apagada
desejo algum dia
não ser mais tão idiota
pra que não seja eu na praia
me afogando em água salgada

Bolero dos gatos malhados

miau
miou o gato dizendo tchau
miau
miou a gata dizendo não
miau
lambeu a pata o gato preto
miau
a gata manhosa ouriçou o pelo
miau
cantou o gato em um apelo
miau
miou a gata com os olhos em chamas
miau
mostrou as garras o gato já preparado
miau
a gata mostrou as costas pedindo carinho
miau
entre miados e arranhões os dois ganharam a noite
miau
em cada miado uma jura de amor diferente
miau...
miau...
miau...

vingança trivial

a mão que balança o berço
é a mesma que reza o terço
e que ama o mesmo
que se vê jogada a esmo
e agora com a faca e o queijo
ela destila veneno pelos dedos
enquanto faz o café fervendo
derrubando-o em cima do pobre marrento
queimando-lhe a alma e os pensamentos
agora ele vai aprendendo
não se mata o amor
sem dar à luz ao sofrimento

Prato cheio

a beleza da pele cor de noite
descansa nos olhos de quem vê
não é facil
ver tanta cor e sabor
no prato dos outros
enquanto eles comem arroz, salada e frango
nossa carne é suculenta
nossa feijoada é incorpada
é de comer e lamber os beiços
de encher a boca d'agua
mas não é pra qualquer um
nem pra qualquer dia
arriscada é a azia
porque a carne é salgada
o feijão é quente
e a bebida sempre fria

Inveja primaveril

uma estação atrás da outra
e ainda morrem de inveja as flores
cheirando seu perfume dia após dia
vendo seus quadris balançar como música
e como sol ,seu sorriso iluminar o campo
e ao final da estação mortas de inveja
caem e murcham ao chão
enquanto assistem suas curvas darem tom
a mais uma primavera

Olhar muito para o espelho
te faz esquecer
quem é o reflexo

Tão pequena
e tão importante
ri como menina
grita como gigante
a minha cura
minha chuva e meu sol
atrelado a mim
os meus problemas
minha falta de noção
ela não lida com a mente
ela cuida do meu coração

Pecado

Que todo o nosso pecado
se transponha da sala pro quarto
porque meu peito de aço
não tem mais espaço
pra levar bala

Só peço ao seu juiz
que a minha sentença seja de morte
e que você não tenha a mesma sorte

porque todo pecado tem julgamento
mas o fundo poço não
nada sobrevive à própria vida que leva.