Coleção pessoal de Circus

61 - 80 do total de 101 pensamentos na coleção de Circus

E, enorme, nesta massa irregular
De prédios sepulcrais, com dimensões de montes,
A Dor humana busca os amplos horizontes,
E tem marés de fel como um sinistro mar!

Poema sobre a recusa

Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado
nem na polpa dos meus dedos
se ter formado o afago
sem termos sido a cidade
nem termos rasgado pedras
sem descobrirmos a cor
nem o interior da erva.

Como é possível perder-te
sem nunca te ter achado
minha raiva de ternura
meu ódio de conhecer-te
minha alegria profunda.

As luzes estão se apagando em toda Europa e não voltarão a se acender enquanto estivermos vivos.

A Dança/ Soneto XVII

Não te amo como se fosses rosa de sal, topázio
ou flecha de cravos que propagam o fogo:
amo-te como se amam certas coisas obscuras,
secretamente, entre a sombra e a alma.

Te amo como a planta que não floresce e leva
dentro de si, oculta a luz daquelas flores,
e graças a teu amor vive escuro em meu corpo
o apertado aroma que ascendeu da terra.

Te amo sem saber como, nem quando, nem onde,
te amo diretamente sem problemas nem orgulho:
assim te amo porque não sei amar de outra maneira,

senão assim deste modo em que não sou nem és
tão perto que tua mão sobre meu peito é minha
tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.

Com critérios contei nos dedos
tempo para minha risada de deboche
claro... estava eu de rosto pintado
emoções brotando em mim

Ria navegava na loucura da cena
teatro que me ligava ao nada
olhavam o rosto pintado
era apenas o palhaço-alo criançada!

Meus olhos se encontravam com os seus
sentado longe la na arquibancada
só tu sabias quem eu era
eu era apenas tua metade e tu eras eu

Passadas as horas
o circo retorna
aos vícios da mente
que movem em ciclo.

Arlequim e Colombina
giram o círculo:
mágica na ciranda.
Inimigos desafiam a guirlanda,
se imitam e depois se abraçam
ao final do samba...

Dor e prazer,
vilões parceiros de dança
no nostálgico palco dos corações.

Espetáculo sutil no espelho
na esperança no olhar de um velho
no oráculo das emoções:
o febril reflexo de uma lembrança...

Não chore Pierrot, o circo sempre retorna, criança!

No circo cheio de luz
Há tanto que ver!...

"Senhores!"
- Grita o palhaço da entrada,
Todo listrado de cores -
"Entrai, que não custa nada!
À saída é que se paga"

O palhaço entrou em cena,
Ri, cabriola, rebola,
Pega fogo à multidão.

Ri, palhaço!

Corpo de borracha e aço
Rebola como uma bola,
Tem dentro não sei que mola
Que pincha, emperra, uiva, guincha,
Zune, faz rir!

Voglio ballare per te amore
Per la vita voglio ballare
Con te, per te

I will never be anything again
I´m tired to give, I don´t wanna try
I´m afraid to live, I´m afraid to die
I just wanna fly, throw it all away

O tempo está passando muito mais rápido do que eu
E eu estou começando a me arrepender de não gastar
tudo isso com você

Quando se ouve boa música fica-se com saudade de algo que nunca se teve e nunca se terá.

Bem te vejo,
bem te digo,
bem te quero,
benfazejo,
sempre aqui.
Bendito ao fruto,
Deus te guarde
nas florestas
onde, entre réstias...
bem-te-vi.

E se um dia hei de ser pó, cinza e nada, que seja minha noite uma alvorada, que eu saiba me perder para me encontrar...

Meus êxtases, meus sonhos, meus cansaços...
São os teus braços dentro dos meus braços,
Via Láctea fechando o Infinito.

"Quem me dera encontrar o verso puro, O verso altivo e forte, estranho e duro, Que dissesse a chorar isto que sinto!"

Quem nos deu asas para andar de rastos?
Quem nos deu olhos para ver os astros
Sem nos dar braços para os alcançar?!

Sonho que sou Alguém cá neste mundo...
Aquela de saber vasto e profundo,
Aos pés de quem a Terra anda curvada!

(…)
Quero voltar! Não sei por onde vim…
Ah! Não ser mais que a sombra duma sombra
Por entre tanta sombra igual a mim!

Lágrimas Ocultas

Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi outras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...

E a minha triste boca dolorida
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!

E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...

E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!

Desejos vãos

Eu queria ser o Mar de altivo porte
Que ri e canta, a vastidão imensa!
Eu queria ser a Pedra que não pensa,
A pedra do caminho, rude e forte!

Eu queria ser o Sol, a luz intensa,
O bem do que é humilde e não tem sorte!
Eu queria ser a árvore tosca e densa
Que ri do mundo vão e até da morte!

Mas o Mar também chora de tristeza…
As árvores também, como quem reza,
Abrem, aos Céus, os braços, como um crente!

E o Sol altivo e forte, ao fim de um dia,
Tem lágrimas de sangue na agonia!
E as Pedras… essas… pisa-as toda a gente!…