Coleção pessoal de cellesaracol

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Em luta, meu ser se parte em dois. Um que foge, outro que aceita. O que aceita diz: não. Eu não quero pensar no que virá: quero pensar no que é. Agora. No que está sendo. Pensar no que ainda não veio é fugir, buscar apoio em coisas externas a mim, de cuja consistência não posso duvidar porque não a conheço. Pensar no que está sendo, ou antes, não, não pensar, mas enfrentar e penetrar no que está sendo é coragem. Pensar é ainda fuga: aprender subjetivamente a realidade de maneira a não assustar. Entrar nela significa viver.

Num deserto de almas também desertas, uma alma especial reconhece de imediato a outra.

Então me vens e me chega e me invades e me tomas e me pedes e me perdes e te derramas sobre mim com teus olhos sempre fugitivos e abres a boca para libertar novas histórias e outra vez me completo assim, sem urgências, e me concentro inteiro nas coisas que me contas, e assim calado, e assim submisso, te mastigo dentro de mim enquanto me apunhalas com lenta delicadeza deixando claro em cada promessa que jamais será cumprida, que nada devo esperar além dessa máscara colorida, que me queres assim porque assim que és...

Eu me criei vazia e não soube preencher. Mas sinto que ainda necessitando de distância e tempo pra pensar sozinha, eu quero mesmo é alguém me faça mudar completamente de opinião. Que faça meu corpo querer companhia nos momentos em que minha mente insiste pela solidão. Que faça meu coração lutar contra minha razão que tanto toma conta de mim sem saber se é isso mesmo que eu quero.

Preciso de salsa, samba fossa já não me preenche mais.

Assuma a bagunça que eu sou sem tentar me arrumar, não serei sua, não serei séria, não estarei sóbria.

Se sua partida é mesmo inevitável, se seu sonho é mesmo indispensável, se sua vida é mesmo impenetrável, ao menos arrisque me carregar junto de você.

Se desistir dos outros já é difícil, imagine desistir do mundo e de você, de você no mundo. Desistir de tudo que é pela metade. Sorrisos pela metade, cumprimentos pela metade, vidas pela metade... Se não é inteiro, não me interessa. Acontece que a gente não pode deixar pra trás tudo que não teve tempo de se formar: uma hora isso me deixa pela metade, e eu não quero ser deixada também.

Algumas situações amarraram meus pés no chão, fazendo com que eu me agarrasse firmemente à realidade. Paixões platônicas, Lindo, são para crianças. Foi isso que eu repeti silenciosamente, até me convencer.

Falta alguma coisa além da música alta que agora preenche minha mente pelos fones de ouvido. Falta segurança. Falta amor preenchendo o que a música é incapaz de enganar.

Mas agora era diferente. Era saudade ao lado, falta ao vivo, era o medo da perda. Era a perda ao lado, ao vivo.

Deve ter explicação científica, meu medo. Deve ser patológico. Acho que minhas células pensam "Ah, ela tá ficando feliz. Adrenalina, dose 7. Pode ser tudo uma ilusão, guarda o sosrriso." Eu obedeço. Abaixo a cabeça e concordo. Por que alguém pensaria só em mim? As amigas dele já devem ter cansado dos pedidos de casamento bem humorados. Ele deve fazer isso sempre. Bobinha, você.

Tô com mais vontade de música. Tô com mais vontade de ficar acordada até tarde. Só porque não sou eu que busco assunto durantes as conversas. Você tem medo de me perder. Ninguém nunca teve medo de me perder. Eu sempre corria atrás de assunto, desesperada. E sempre desistiram de mim. Eu nunca deixo mesmo claro o que eu tô sentindo. E fica parecendo que eu não sinto. Mas é incrivelmente triste quando desistem do meu mistério.

O mundo me prefere com dois braços e duas pernas, mas não sei mais ser humana. Sorrir cansa. Chorar cansa. Mas o que mais cansa é procurar desesperadamanete um intermediário e esquecer que o mundo é mais que aparências.
Eu sou volúvel. Grande surpresa. Mas ser volúvel também cansa. Porque ninguém leva a sério alguém que passa a semana chorando pra ficar bem na semana seguinte. Como se fosse preciso ser feliz pra sempre ou triste pra sempre pra ser alguma coisa de verdade.
Não quero mais a realidade comum. Isso é o que mais cansa, pra ser bem sincera. Tenho até arrepios de pensar num futuro escrito e óbvio nas prateleiras de gente sem sal. Só de saber o que vai ser de mim, já quero ser outra coisa. Uma coisa nova e diferente, pra quebrar o que é certo.

eu nunca vi, eu nunca escolhi, eu nunca amei, nunca bebi, eu nunca viajei, nunca me envolvi,
eu nunca persisti, eu nunca vacilei, nunca cai, nem me levantei. eu não reclamo, eu não peço,
não choro, não discuto, não impeço, não vivo. eu nunca me perdi. e assim me encontro: Vazia de Mim.

Ela se arrisca num impulso mais alto, segura com força as correntes enferrujadas e fecha os olhos enquanto o vento gelado paralisa seu rosto.
Cada vez que consegue esvaziar seus pensamentos, ele volta, sorrindo. Era tudo o que ela não precisava, tudo o que ela se esforçava para esquecer.
Talvez se ela arrumasse uma distração mais potente do que a música no último volume, que funcionasse melhor que um banho quente; talvez ele sumisse de vez.
Ou talvez ele voltasse mais forte.

Bate uma insegurança...
No primeiro dia de aula
No primeiro encontro
No primeiro abraço
No primeiro "eu te amo"
No último Adeus.

Bate uma insegurança...
O sonho que me desperta
O chinelo virado pra baixo
Aquela discussão mal-resolvida
O tudo deixado para depois

Bate uma insegurança...
Pensar em quem a gente ama
Pensar naquela conversa séria
Pensar no que pode ser e no
que nunca será

Bate uma insegurança...
Não saber o amanhã
Não saber se é correspondido
Não saber se faz sentido
Não saber já acabou.

Inverti meu caminho
Pra não bater com a realidade
Antes estar sozinho
Que tirar sua liberdade

Antes eu pensava em você,
era tudo que eu sonhava
Essas coisas que vemos na tv
mas era só porque eu te amava.

Não queria achar nada que de mim tivesse memória. Mas há tanto a fazer antes de me esquecer que por tal desfeita me atirei sem volta. Como pode alguém com tantos pensamentos passar despercebida pela vida na Terra? Como posso me conformar em ser apenas eu? Tenho tanto a ser, tenho tanto a lembrar...

Era aquela garota que há pouco corria pros braços da mãe com o cotovelo esfolado e lágrimas nos olhos. Agora ela corria com o boletim nas mães, sorrindo por uma nota seis qualquer, sentindo-se totalmente despreparada para a vida. Queria juntar vestibular, título de eleitor, trabalho, responsabilidade, tudo no mesmo bolo de porcarias e jogar na primeira lixeira que encontrasse. Não era tão simples como um arranhão, mas ainda era a mesma menina.

Ninguém nunca espera que eu saia dos meus limites. Quem me conhece de verdade?
E quem sabe dos momentos que eu estou a ponto de explodir? As saudades são grandes,
o telefone mudo. Me identifico com livros e personagens e nem tenho uma história pra contar.
E se eu contar, quem vai se importar?