Coleção pessoal de apatiatropical

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Por maior que seja a tarefa, o que a desempenha deve mostrar uma grandeza ainda maior.

Às vezes, o próprio sol se esconde por trás de uma nuvem, de modo que ninguém o veja se por, deixando-nos em dúvida se já se pôs ou não.

É possível avaliar a grandeza do talento de alguém por suas aspirações. Só algo grande pode satisfazer um grande talento. Bocados grandes são para palatos grandes, assuntos elevados, para caracteres elevados.

O que muito vale muito exige. O mesmo se verifica com os metais: o mais precioso deles demora mais para ser fundido, e pesa mais.

A profunda compreensão alcança verdades imortais.

Só a perfeição é notada, e só o acerto perdura.

A natureza providente engenhosamente uniu a doçura do mel ao ferrão da abelha. No corpo há tantos nervos quanto ossos: não permita ao espirito ser só brandura.

Mostra-se ter um grande coração quando se tem profundas reservas de paciência. Nunca se apresse e nunca dê vazão às emoções. Domine-se e dominará os outros.

Melhor ser louco entre muitos do que sábio sozinho. 101
Não ter espírito e contradição 102
Ir direto ao assunto 103
O sábio se basta a si mesmo 104
A arte de deixar as coisas como estão 105
Conhecer os dias de má sorte 106
Descobrir o bom de cada coisa 107
Não escutar a si mesmo 108
Não seguir nunca, por obstinação, o pior partido 109
Não ser inacessível 110
Pensar adiante 111
Não acreditar nem amar facilmente 112
Arte ao se apaixonar 113
Não se enganar sobre a condição das pessoas 114
Saber tirar proveio das amizades 115
Falar com prudência 116
Vencer a inveja e a maldade 117
Jogar limpo 118
Distinguir o homem de palavras do homem de ações 119
Saber se ajudar 120
É mais importante não errar nem uma vez do que acertar cem vezes 121
Ter reserva em todas as circunstâncias 122
Não competir com quem não tem nada a perder 123
Não viver com pressa 124
Saber escutar quem sabe 125
Acreditar no coração principalmente se ele é forte 126
Sem mentir, não dizer a verdade 127
Um pouco de audácia é uma forma importante de prudência 128
Não ser teimoso 129
Conhecer os defeitos 130
Fazer você mesmo tudo aquilo que é favorável, e por intermédio de terceiros o que é odioso 131
Elogiar os ausentes 132
Encontrar consolação em tudo 133
O homem pacífico tem vida longa 134
Ter uma idéia exata de si mesmo e de suas possibilidades 135
Saber avaliar 136
Conhecer sua boa estrela 137
Ter sempre alguma coisa para desejar 138
Deve-se começar o fácil como se fosse difícil e o difícil como se fosse fácil 139
Saber usar a verdade 140
No céu tudo é alegria, no inferno tudo é pesar 141
Ser claro 142
Nem amar nem odiar para sempre 143
Não podendo se cobrir com pele de leão, cubra-se com a pele de raposa 144
Conhecer seu pior defeito 145
Não se deixar levar pela primeira impressão 146
Ser um pouco negociante 147
Transformar em prêmios as dividas de gratidão 148
Saber a qualidade que falta 149
Perseguir a vitória 150
Na ser somente dócil 151
Saber um pouco mas e viver um pouco menos 152
Não começar a vida por onde se deve terminar 153
Usar os meios humanos como se os divinos não existissem, e os divinos, como se não existissem os humanos 154
Não explicar as idéias com demasiada clareza 155
Saber esquecer 156
Não se descuidar nunca 157
Tirar partido da novidade 158
Não ser o único a criticar o que agrada a muitos 159
Se souber pouco na sua profissão, atenha-se ao mais seguro 160
Compreender o temperamento das pessoas com quem se lida 161
O fracasso está em unir apreço e afeto 162
Moderação no julgar 163
Não fingir, mas agir 164
Pessoas de grandes e majestosas qualidades 165
Três coisas fazem um prodígio 166
Deixar os outros com fome 167
Em uma palavra: ser um santo 168

Índice
Caráter e inteligência 19
Criar expectativas 20
O saber e o valor contribuem em conjunto par a grandeza 21
Tornar-se indispensável 22
Estar no auge da perfeição 23
Evitar as vitórias sobre o chefe 24
Sorte e fama 25
Relacione-se com quem tenha o que lhe ensinar 26
Natureza e arte, matéria e elaboração 27
Agir com intenção, com primeira e segunda intenções 28
Cercar-se de pessoas inteligentes 29
A sabedoria e a honestidade 30
Variar o modo de agir 31
O esforço e a capacidade 32
Não começar com muita expectativa 33
O homem em seu tempo 34
A arte da sorte 35
Ser pessoa de conversa agradável e saborosa 36
Não ter defeitos 37
Encontrar o ponto fraco de cada um 38
E melhor intenso que extenso 39
Não ser vulgar em nada 40
Ser íntegro 41
Conhecer os felizardos para acolhê-los, e os azarados para evitá-los 42
Conhecer sua melhor qualidade 43
Dar às coisas seu devido valor 44
Saber se retirar quando se está ganhando 45
Nunca exagerar 46
Sentir e expressar-se 47
Cuidado com a antipatia 48
Fugir dos assuntos difíceis e perigosos 49
O homem de valores profundos 50
Ser sensato e observador 51
Nunca perder o respeito por si mesmo 52
Nunca perder a compostura 53
Ser diligente e inteligente 54
Saber esperar 55
Saber improvisar 56
Refletir é mais seguro 57
Saber retirar-se 58
Saber evitar os desgostos 59
Cuidado para que as coisas saiam bem 60
Nunca se entregar ao mau humor 61
Saber negar 62
Ser equilibrado por inclinação natural ou por gosto 63
Ser decidido 64
Não ser inacessível 65
Escolher um modelo elevado 66
Não ficar de brincadeiras 67
Saber adaptar-se 68
Começar com cuidado 69
Temperamento jovial 70
Ter cautela ao informar 71
Renovar o brilho 72
Nunca exagerar o mal nem o bem 73
Permitir-se pequenos deslizes 74
Saber usar os inimigos 75
Previnir os boatos 76
Cultura e refinamento 77
A arte de viver muito 78
Agir somente se não houver duvidas 79
Homem universal 80
Capacidade inescrutável 81
Saber manter a expectativa 82
Metade do mundo ri da outra metade, e ambas são tolas 83
Ter ações dignas de rei 84
Conhecer a natureza dos empregos 85
Não ser cansativo 86
Não demonstrar satisfação consigo mesmo 87
Não esperar o sol se pôr 88
Conquistar a boa vontade dos outros 89
Preparar-se para os tempos de crise 90
Nunca competir 91
Tratar sempre com pessoas de princípios 92
Ganhar fama de cortês 93
Ser prático na vida 94
Ser elegante no falar e no agir 95
Viver sem afetação 96
Não ser registro dos erros alheios 97
Tolo não é aquele que comete uma tolice, mas o que não sabe disfarçá-la 98
Condição elegante 99
Pensar duas vezes 100

Em vias vazias, quando a noite vira dia, memórias tão livres derramam-se sobre meu corpo como quem não se quer envolver. Lembranças que são taciturnas partem-me à força em minhas meras infortunas noturnas, dilacerando em pedaços o último espaço que me restava na sala de espera dos sonhos. Embalam-me em uma dança alucinante, e o ritmo dançante do pecado da vida se retira de nós e me mata à fria covardia, apunhalando dúvidas diurnas em minhas certezas noturnais.
Vejo o tempo à espera do raiar solar, e me vejo de mãos abertas a clamar, pelo último que seja, o mais puro ou o mais sujo, apenas mais um gole de luar. Bebo-me e me engulo, viro lua, viro a noite, as confusões que antes pairavam sobre minhas asas de cera, hoje fazem-me voar.
Sinto minha vida passar ao longe, e como a verdade que se esconde, hoje sou aquela que não se vê levitar sobre os campos floridos da honesta existência de minha dor, que apesar de tudo, ainda há de se sanar.

⁠Este chão não me é chão
É da solidão, um labirinto
De uma louca em aflito
Que se aflige em perdição

Clamo então, por redenção
Por um viver distinto
Em outro plano, outro recinto
Que me permita a aliteração

Como me falta a esperança!
Como me abusa a ânsia!
Nesta maldita terra de intemperança

Na mazela-circunstância
Deito e durmo na lembrança
De ser feliz, mas à distância

⁠Há um caos em minha mente fatigada, um caos regado pelo ignóbil sangue de minhas letíficas batalhas, um sangue que me arde a consciência e me entorpece as falhas, consequência direta da sepultura armada das memórias de uma guerra desalmada. Sou a combatente exaurida de meu próprio exército e a guerreira valente de meu exército inimigo, me sacrifico como sacrifica-se a pólvora dos canhões marcados de miséria pelo levantar torpe da bandeira alva machada pelo líquido rubro das vísceras de minha esperança, sou a espada que corta em dois a sanidade já rompida por dores passadas; contra-ataco a mim mesma, me atiro em minha guerra e faço de meu peito um campo minado.
Nesta terra forasteira não há ser que ouse declamar possuir o título de ser mais funesto que eu, pois sou eu a morte encarnada em corpo de fracassos, sou o perder e o penar de meu próprio sepultar, sou aquela que chora e clama religiosamente antes do sol raiar, pelo corte lesivo da morte levar.
Não me quero mais e não me querem mais a mim, sou a abusiva combustão dos raios de verão que esqueceu-se de se auto dilacerar, sou o fim explosivo da pacífica convivência, sou a guerreira apocalíptica que insiste em marchar contra si, para enfim, ousar descansar.

⁠Sou sobrinha-neta da Ilusão, tenho marcada em meu sangue a marca amarga da ferradura agalopada do solene marchar da carruagem de meus sonhos, ébrios de tentação. Sou a cria amarga do roubo esperançoso de minhas racionalidades fatais, que enganam, deturpam e profanam a doçura antes presente em meus sonhos. Sou o devaneio solto pelas ruas, a loucura a planar sobre os campos férteis da solidão, sou o resultado infame da mistura sórdida de meus antepassados de terra e vão.
Sou tantas e de tantos, sou tato e pranto, sou cólera e acalanto, não sou nada, nada, mas ainda assim, canto. Canto as lamúrias através de pena e cetim, debruço-me sobre meu viver torpe e vomito palavras pobres em versos e prosas em carmim.
Não domino a poesia, mas a poesia domina-me a mim, quebro meus pudores em mil pedaços de taco, ligo meus temores um a um em mil laços, reconstruo minhas convicções em mais mil espaços e ao final, sobrando-me apenas a dor e o cansaço, enfim me desfaço.

Adoro flores
adoraria ter a casa toda nadando em rosas
meu Deus do céu
não tem nada no mundo como a natureza
as montanhas selvagens
depois o mar as ondas em tropel
e depois a beleza do campo as plantações de aveia e trigo
os animais pra cá pra lá tão bonitos
deve fazer bem à alma isso
ver os rios os lagos e as flores
e formas de todos os jeitos e cheiros
e cores saltando de tudo até do fosso
primaveras e violetas
é a natureza
e esses que dizem que Deus não existe
não dou nada pela ciência deles
porque não vão e criam alguma coisa
já perguntei pra ele tantas vezes
ateus ou sei lá como se chamam
primeiro que tratem de lavar sua sujeira
depois mandam chamar o padre aos berros
quando vão morrer
e por quê
por quê
porque tem pavor do inferno por causa da consciência pesada
ah sim
conheço bem esses
quem foi a primeira pessoa do universo
antes que existisse qualquer outra
quem fez tudo isso
quem
ah isso eles não sabem
e nem eu sei
pois é
eles podiam proibir o sol de nascer amanhã de manhã
o sol brilha é por tua causa
ele me disse no dia em que deitamos sobre os rododendros
no promontório de Howth
com se terno cinza e chapéu de palha
no dia em que fiz ele falar de casamento
foi
antes lhe passei com a boca um pedaço de bolo cheiroso
foi um ano bissexto também
há 16 anos meu Deus
depois daquele beijo que não acaba nunca
que quase me deixou sufocada
sim
ele me disse que eu era uma flor da montanha
sim
é isso mesmo
somos flores completamente
o corpo todo da mulher
sim
tai uma verdade que ele disse na vida
hoje o sol brilha por tua causa
sim
foi por isso que eu gostei dele
porque vi que ele entendia
ou sentia o que é uma mulher
e eu sabia que podia fazer dele o que eu quisesse
e fui dando a ele todo prazer que eu podia
para obrigá-lo a me pedir pra dizer sim
e eu não queria dizer logo
e fiquei só olhando para o mar e o céu
e pensando muitas coisas de que ele não sabia
em Mulvey e Mr. Stanhope e Hester
no pai
no velho Capitão Groves
nos marinheiros que brincavam de carniça e lava prato
assim diziam lá no cais
e no sentinela na frente da casa do governador
com aquela coisa em volta do capacete branco
pobre diabo meio assado
e as moças espanholas rindo com seus xales seus pentes altos
e os leilões de manhã
os gregos os judeus os árabes
e o diabo sabe lá quem mais
de todos os cantos da Europa
e Duke Street
e a feira de aves cacarejando defronte Larby Sharon
os burrinhos coitados que tropeçavam morrendo de sono
e uns sujeitos vagos com seus mantos dormindo nos degraus
na sombra
e as rodas enormes dos carros de touros
e o castelo de milhares de anos
sim
e aqueles mouros lindos de branco e turbante
como reis
pedindo a gente pra sentar em suas lojinhas de nada
e Ronda com as velhas janelas das posadas
olhos faiscando atrás da rótula
para o namorado beijar a treliça
e as tabernas meio abertas durante a noite
e as castanholas
e a noite em que perdemos o navio para Algeciras
o vigia que fazia a ronda sereno com sua lanterna
e oh essa horrível corrente lá no fundo
oh
e o mar
o mar às vezes escarlate como fogo
e o por-do -sol maravilhoso
as figueiras nos jardins da Alameda
sim
e todas aquelas ruazinhas engraçadas
as casas cor de rosa azul amarelas
e os jasmins os gerânios os cactos
e Gibraltar quando eu era mocinha
uma Flor da montanha
sim
quando pus a rosa como faziam as andaluzas
sim vou usar um vestido vermelho
e como ele me beijou debaixo da muralha mourisca
e eu pensei afinal tanto faz ele como qualquer outro
e então eu pedi a ele com os olhos pra pedir outra vez
sim
e então ele me perguntou se eu queria
sim
dizer sim
minha flor da montanha
e primeiro eu passei o braço
sim
e puxei ele pra mim para que sentisse meus seios perfumadíssimos
sim
e o coração dele batia feito louco
e sim
eu disse sim
eu quero muito
Sim

Eu irei lhe dizer o que eu irei fazer e o que eu não irei fazer. Eu não servirei aqueles no qual não acredito mais, mesmo que se entitulem minha casa, minha cidade natal ou minha igreja: e eu tentarei me expressar [viver] de uma forma mais livre e completa possível [através da arte], usando em minha defesa as únicas armas que eu me permito usar - silêncio, exílio e habilidade.

Fizeste que eu confessasse os pavores que tenho. Mas vou te dizer também o que não me apavora. Não tenho medo de estar sozinho, de ser desdenhado por quem quer que seja, nem de deixar seja lá o que for que eu tenha que deixar. E não tenho medo, tampouco, de cometer um erro, um erro que dure toda a vida e talvez tanto quanto a própria eternidade mesma.

O amor ama amar o amor.

Deus fez o alimento, o diabo acrescentou o tempero.

Vença-me. Seduza-me. Fique comigo. Ah, faça- me sofrer!