Coleção pessoal de angelicabenigno

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O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece. Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.

Hoje despertei enferma. Disse que era gripe — a desculpa habitual, uma justificativa pronta para quem pergunta apenas por educação. Mas, entre nós, foi mais que isso. A doença física era só a casca, o sintoma mais visível de algo que me envenena mais fundo. Não entrei em detalhes, é claro. Porque, no fundo, não há criatura viva que realmente deseje saber como estou. Eles escutam, mas não ouvem; dizem que se importam, mas é o silêncio que realmente diz a verdade. Quem ama de verdade adoece junto. Por isso calei-me — foi um gesto de amor-próprio. Ou de resignação.

Fiquei deitada de barriga para cima até as dez da manhã, imóvel, como um cadáver temporário, tossindo tanto que a própria garganta parecia se desfazer em fiapos. Um rasgo interno, uma agonia que vinha de dentro para fora. Permaneci assim até reunir coragem para me arrastar até a pia: havia pratos a lavar. E então os sequei, como quem seca também a si mesma — tentando dar um mínimo de ordem ao caos que me habita.

No café da manhã, preparei uma papa de Mucilon. Um gesto infantil, quase um consolo. Foi bom. Mas também foi tudo que pude fazer. Retornei à cama — meu pequeno túmulo provisório — e apenas consegui erguer-me por breves instantes às duas da tarde. Comi, quase por obrigação, e engoli o ibuprofeno como quem engole o cansaço acumulado dos dias.

Já marcava quatro horas quando, num gesto quase heroico, reuni minhas últimas forças para me levantar outra vez. Enfim tomaria banho. Mas o inesperado me golpeou: não consegui fechar a porta. A chave, antes leve como uma pétala, agora era chumbo em meus dedos.

E então compreendi — não pela razão, mas por um suspiro da alma — que fazemos diariamente coisas que não notamos, e que talvez por isso mesmo nunca agradecemos. Trancar uma porta. Lavar um prato. Respirar. Tudo isso era fácil — até deixar de ser. E só quando a capacidade nos abandona, é que percebemos o quanto aquilo nos pertencia. Ou pensávamos que pertencia.

Agora, estou deitada novamente. Tossindo.
Como quem fala com Deus em código morse.
Como quem espera um milagre no silêncio.
Como quem compreende, tardiamente, que o corpo adoece quando a alma já está exausta.

⁠Eu detesto dar ordens. Eu não gosto quando as pessoas olham pra mim esperando que eu as diga o que fazer.

Minha ausência também fala — e às vezes, diz mais do que minha voz permitiria.

Eu me refaço com as mãos que rezam e os olhos que enxergam poesia no que outros chamam de fim.

A beleza que deixo no mundo não vem da minha presença, mas da forma como permaneço mesmo depois de ir.

Não sou silêncio por acaso; sou silêncio por escolha e intensidade.

Não tenho nenhum talento especial, só tenho paixão em minha curiosidade.

O passado é um prólogo.

O resto é silêncio.

Entra no teu peito: bate, e pergunta a teu coração o que sabe ele.

O amor não se vê com os olhos, mas com o coração.

Os covardes morrem várias vezes antes da sua morte, mas o homem corajoso experimenta a morte apenas uma vez.

Sabemos o que somos, mas não sabemos o que poderemos ser.

Os que muito falam, pouco fazem de bom.

Ter um filho ingrato é mais doloroso do que a mordida de uma serpente!

Mostre-me um homem que não seja escravo das suas paixões.

Nunca houve um filósofo que conseguisse suportar pacientemente uma dor de dentes.

Não julgueis; somos todos pecadores.

Chorar é diminuir a profundidade da dor.