Coleção pessoal de alicecoragem

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⁠É SOBRE PROPÓSITO

⁠Eu vou fazer você me ouvir
Eu vou usar tudo que tenho em mim,
Todas as minhas ferramentas de comunicação,
Toda minha arte,
Só pra você me ouvir.
O meu propósito não é falar,
O meu propósito é você me ouvir:
Existe, para além dessa sua vida tacânea,
Uma perfeita poesia invisível
Responsável pela melodia do mundo
E pela dança da essência da alma.
Há neste meu propósito uma esperança tão grande,
De que a vida ainda vale a pena,
De que viver ainda é uma delícia,
Porque enquanto tivermos uma alma,
Deus poderá ser sentido.
E é isso que é vida!
Não esse monte de compromissos que você marca
Só para não ir pra casa se encarar,
E nem esses textos bíblicos que você posta
Mas não entendeu que fé é sobre descansar,
Tampouco essa culpa que você insiste em se punir
Por não ser perfeito ou apenas por errar.
Isso não é vida.
Vida é esse instante sagrado
Onde sua alma se encontra com Deus.
E o meu propósito é te fazer lembrar disso.
Volta pra casa.

⁠O TEXTO É A ALMA ou A ALMA É O TEXTO

Se olharmos a sociedade um pouco mais de longe,
Podemos ver que todos estamos vivendo atrás de uma só resposta:
'Como ser feliz?'.
Tudo que fazemos no decorrer de nossas vidas
É em prol de solucionar esta questão.
Gerações buscando nos lugares, nas relações, nas coisas.
Poucos de nós acha alguma coisa.
A maioria desiste de procurar assim que acha uma migalha.
Param porque acreditam que a migalha é tudo que merecem.
Acho que procuramos demais e nos perdemos.
Continuamos feito múmias atrás da resposta, mas esquecemos da pergunta.
E se não sabemos mais perguntar, não temos respostas de nada para correr atrás.
É aí que começamos a a correr atrás de nada.
Mas com um vazio enorme de resposta dentro de si.
Fadados ao fracasso de morrer antes de conseguirmos achar sentido na vida.
Mas a resposta está na pergunta.
Na verdade, a resposta é a pergunta.
A resposta de 'como ser feliz?' é exatamente 'se perguntar como é ser feliz'.
A felicidade consiste em você achar a resposta da sua pergunta,
Consiste em curar este vazio de si mesmo.
Felicidade mesmo é se sentir inteiro.
Completo.
E o único caminho para achar esta resposta, é se perguntando.
Se perguntando, se questionando, tentando se entender, refletindo a vida.
Sendo conscientes.
Presentes.
Despertos.
Porque, se nossos sentimentos são traduções do cérebro ao que o corpo está sentindo, é preciso estar consciente para saber traduzir corretamente quando o corpo sentir aquilo que buscamos como felicidade.
O fato de se manter consciente vai trazer você pra casa.
E vai ser tão bom te reencontrar que vai ter festa todo dia.
A alma vai vibrar com sua presença.
E então, seu corpo sentirá algo que seu cérebro não terá dúvidas na tradução:
É a completude da autenticidade.
É o preencher da alma com a resposta que você tanto buscou.
Agora não há dúvidas. Só afirmações.
O vazio virou Todo.
É Felicidade!

⁠Me Aliciando
(Uma carta para a Alice de 7 anos, escrita por mim mesma 30 anos depois)

Minha Alice, minha filha pequena,
Desejo que seus olhos verdes tão vivos
Vejam beleza de uma forma plena.
Começando este passeio por você mesma, caçula,
Que eles vejam como é belo teu sorriso em cena.
Que eles te vejam a cachear seus dourados cachos
Aceitando que cada curva é um charme seu,
Neste corpo que deve ser amado e aceito,
Como ele sempre mereceu.
Corpo que é (e sempre será) sua verdadeira casa
Corpo que tudo sente e sentindo extravasa
Corpo que se deforma quando é odiado,
Mas a ti acolhe, mesmo que tão rechaçado.
Desejo que tua dança encontre os mais belos ritmos,
Que gire sempre que precisar girar.
Que te conduza firme até que ache um bom parceiro,
Para que girem juntos, como um verdadeiro par.
Que aprenda que passos para trás são parte da coreografia
E que, de forma nenhuma você deve temê-los,
Só dá dois pra frente quem teve a coragem
De um pra trás ter ido sem medo.
Desejo que você entenda o quanto antes
Que passos servem para dançar.
Pois passos retos que não se balançam
Só se apressam para um final alcançar.
E a vida, caçula, é um caminho curto,
Cujo destino certo é a morte.
Viver é achar a beleza da dança
Viver girando, sem sul e sem norte.
Siga leve: dois pra frente, um pra trás e um giro.
Não pare nem por um instante.
Se se perder: use a dança como um retiro
Se se achar: dois pra frente um pra trás, só dance.
Sem passos pra trás ou sem giros,
Você caminha reto para a morte.
Sem leveza, sua dança, sem vida,
Sem criatividade, seu traço mais forte!
Passos pra trás são erros importantes
Que nos obrigam a sair do lugar.
Não podes querer dar os dois passos pra frente,
Sem antes aprenderes bem a errar.
Giros são recomeços que te fazem
Ver sua paisagem mudar.
Cuidado! Alguns podem te tirar do chão,
Já outros, te fazem o cabelo ventar.
Mas todos precisam de fé e coragem,
Até quando girando você precisar
De uma mão que te encerre a viagem
E sem com isso teu ritmo mudar.
Desejo que saibas ver na sua dança, a vida
E que na sua vida, vejas a arte
Que te percebas como uma exímia bailarina
E que ache música em toda parte.
Eu sei da dor que carrega os seus choros,
Te vi sair de mim repleta de adrenalina,
E por ser tão diferente de tudo e de todos
Me assustou por ser exageradamente assim: genuína.
Mas saiba que és amada, não importa o passo,
Que és livre para voar solta no próprio vento,
Mas sempre que quiser dançar num abraço,
Tens em mim, tua mãe, pertencimento.
Desejo que sejas competente para qualquer música dançar,
Mas que tenhas sensibilidade para a tua própria também criar.
Que tenha sempre em teus pés leveza
E quando dançares pelo ar, sutileza.
Confiança o bastante para quando forte ventar,
Sentar teus pés no chão, pousar.
Desejo que dance com tudo que sentir no coração,
Que dance com flor, letra, pena ou ilusão
Girando, girando com sua emoção
Ou pousando e parando calçando a razão.
Mas tem um acessório que não te desejo, pequena,
Um “presente” passado de geração a geração,
Que pesa e aperta, não nos deixa dançar,
Este acessório é a culpa, e esta, a ti eu me recuso a dar.
Te liberto da condenação que viemos todas vivendo
Remoendo culpas, isto é tudo que aprendemos.
Já muitas de nós perdemos a música e paramos de dançar...
Andando reto na vida, para tudo mais rápido passar.
Sinto muito não ter podido contigo ensaiar
Tua dança tão preciosa quando começaste a balançar
É que em mim já não tocava música para te mostrar
Como é que eu dançava antes da culpa me aleijar.
Me perdoa, pequena, por não ter conseguido te falar,
Que você é amada mesmo quando o que sentias era o meu rejeitar.
É que a vida, pouco a pouco, me deixou pesada,
E mesmo eu querendo contigo dançar,
Dei dois giros, fiquei tonta, e sem querer parei no ar.
Caí direto na armadilha da culpa,
Aquela que julga sem nunca bailar,
Te tirei do seu prumo, nunca te ensinando a ser amada...
Ou a si mesmo se amar...

⁠Você já se olhou?
Já se viu?
Não no espelho.
Não em fotos.
Não nas selfies.
Não com esse tanto de máscaras.
Você já olhou pra dentro de si e encarou suas entranhas?
Olhou?

Lá dentro não é tão minimalista
Quanto esses banheiros da moda.
Nem se preocupa com a luz amarela
Responsável por trazer conforto.
Lá dentro funciona 'à toque de caixa'
Tem que lidar com o que te aparece.

Uma meditação ou uma viagem
Ajudam a colocar cada coisa no seu lugar.
Mas basta três mensagens no grupo da família
Que lá dentro passa a funcionar
Como uma bolsa de valores.
Metade grita de alegria porque ganhou,
Outra metade grita de dor porque perdeu.
E com medo de perder mais do que ganha,
Você começa a se basear nas especulações do mercado.
E acaba deixando o mercado precificar seus valores.

Você não é dólar,
Mas é responsável por negociar o seu valor com o mundo.
Você sabe o quanto vale?
Qual seu real valor?
Qual a percepção que o mercado tem
Do seu valor versus sua entrega?
'Tá valendo a pena te comprar ou te vender?
Não recomendo que se exponha ao mercado
Sem ter essas informações
Como que tatuadas na sua alma,
De forma que, independente da alta
Ou da queda de alguém,
Você tenha sua referência de valor.

Você anda se negociando valendo mais ou valendo menos?
Porque quem se vende mais caro do que vale,
Gera frustração como retorno.
E quem se vende muito barato,
Depreda seu próprio patrimônio.

Aí talvez seja hora de fechar seu capital,
Reassumir o controle,
Analisar as fusões feitas
(Tem quem nos afunde, tem quem nos faz brilhar),
Rever seus balanços
(Ah, e como a gente se balança por coisa que não devia).
Nem sempre sair do mercado é prova de fracasso.
Pode ser apenas o passo necessário
Para se projetar melhor.
(E você só se projeta corretamente quando se vê corretamente)

Aliás, como estão te vendo?
Você é um produto ou uma experiência?
Você tem sido solução para quem te compra
Ou só um cacareco de enfeite?
Ou pior ainda, uma bugiganga barata mas inútil
Que devia cortar, mas é cega,
Devia encaixar, mas é frouxa,
Devia ajudar de alguma forma,
Mas sempre tem uma desculpa para não funcionar.
Você tem conseguido cumprir o que promete?
Ou pra se vender precisa criar falsas expectativas?
(Afinal, só consegue cumprir suas promessas quem sabe o que pode prometer. E só consegue se vender com uma promessa real, quem realmente tem valor).

Um erro comum é se valorizar a partir da demanda.
Não é a demanda que dita seu valor,
É o seu valor que dita a demanda.
As vezes, todo mundo só te compra
Porque você é barato.
As vezes, cobrar o valor correto te dá a liberdade
De se vender para poucos,
Tendo o mesmo lucro mas sem se desvalorizar.
Sem tentar conquistar um mercado que não é seu,
Extrapolando seu limite de produção,
Perdendo suas qualidades,
Abrindo mão dos seus acabamentos,
Entregando sem amor só para entregar mais quantidade.
Se tornando inútil para agradar um público
Que não vê nenhum valor em você.
(Até porque, neste ponto, você realmente não o tem mais).
A sua (des)valorização começa por você.

Alguém que não vale nada
Pode ser barato para quem compra.
Mas custa caro para a sociedade.
É um desperdício de matéria.
De esforço.
De logística.
É um ser feito com o mesmo material
Dos heróis da Bíblia,
Dos vencedores do Prêmio Nobel,
Dos grandes filósofos da humanidade,
E dos milhares de desconhecidos
Que acharam em si algo de muito valor.
(Mas é preciso parar de perder tempo se distribuindo gratuitamente e passar a investir tempo em buscar seu verdadeiro valor).

Talvez agora você esteja pensando em expandir.
Mas para isso, é preciso saber seu tamanho.
Você sabe seu tamanho?
Não o que você finge que tem.
Estou perguntando do seu tamanho real.
Calculado a partir de suas fronteiras,
De seus limites.
Você conhece seus limites?
Ou, mais importante,
Os outros conhecem seus limites?
Você provavelmente sabe
Ou quando está invadindo o limite de alguém,
Ou quando está sendo invadido.
Mas a força não está em invadir ou se defender,
A força está em se delimitar com clareza.
A função do limite não é criar guerras.
É criar paz.
(E a grande maioria das pessoas confunde isso.)

Se eu sei onde estão os seus limites,
Sei que este lugar pertence a você,
E eu só entro com sua permissão,
E com seu convite.
Porque não há nada que eu verdadeiramente precise
Que está além das minhas próprias fronteiras.
Então, eu não preciso te invadir
Porque tenho tudo que preciso em mim,
Mas eu posso aceitar o seu convite e te visitar
Porque gosto de estar perto.
O que me interessa no seu terreno, é você.
E invadir seus limites é uma ilusão estúpida
De que você, ou pelo menos um pedaço seu,
Podem me pertencer.

Você merece conhecer seus limites,
Porque só assim você pode vencê-los e expandir.
Ou outros também merecem conhecer os seus limites,
Só assim eles podem respeitá-los.
É normal termos dificuldades em mostrar nossos limites
Por medo de desagradar ou de afastar os outros,
Mas terrenos sem demarcação,
São terrenos abandonados.
Nem seu,
Nem dos outros.
Se você cuidar bem dele, alguém se apossa.
Se você não cuidar,
Acaba tendo que levar consigo
Dentro da fronteira onde mora,
Um pedaço estranho e sombrio
Que nem você sabe a quem pertence.

Somente quando você conseguir
Desenhar seu tamanho no mundo,
É que vai saber onde é seu terreno
Para cultivá-lo,
E onde é o terreno do outro
Para respeitá-lo.
Vai poder cuidar das suas fronteiras,
Ora progredindo, ora regredindo.
O importante mesmo é achar o tamanho certo,
Nem menor,
Nem maior.

Porque a vida é sobre saber o valor que se vale.
E o tamanho que se cabe.
O resto se reorganiza ao seu redor.
Você para de se perder (em especulações)
E passa a se achar.
Acha quem pague o valor que você cobra.
Acha quem sabe o quão raro é o que você entrega.
Acha o público certo que se fideliza.
Que sempre volta mesmo sem você fazer liquidação de si mesmo.
Acha quem respeite seus limites
Independente do tamanho do seu desenho de si.
Quem fica ansioso para te visitar,
Para saber notícias suas,
Mas espera seu convite.
Acha quem ama tanto poder entrar
Tão profundamente no seu espaço
Que, além de dar as chaves dos seus portões,
Você a convida para morar.

Mas antes disso,
A primeira pessoa que você precisa achar,
É você.


Todo dia você acorda com um sentimento de que está mais longe de ser quem deveria ser.
Todo dia você acorda com um pouco mais angústia do que ontem.
Todo dia você sente que está se traindo.
Todo santo dia você se sente mais atolado na areia movediça.
Todo dia uns centímetros a mais e amenos.
Todo dia você tenta achar algum caminho que faça isso parar,
Que se não for pra remover a corda, pelo menos que folgue o laço.
Mas nenhum caminho te traz alívio dessa dor.
Todo dia, só piora.

É o que o problema não pode mais ser mais ignorado.
Ele precisa ser enfrentado.
Enquanto você não se acolher, vai piorar.
A sua dor no amanhecer é porque você vive no passado.
E cada dia que passa, você fica mais longe daquele momento que você idealizou e não aconteceu.
Você ainda está lá no passado parado esperando aquilo acontecer.
Mas não aconteceu.
Talvez seja hora de aceitar que não aconteceu e deixar acontecer outras coisas.
Como o presente, talvez.
E talvez aí, você pare de sentir dor de viver.
Só podemos ser presentes em algo, quando escolhemos nos ausentar do restante.
Está na hora de ser presente no presente, sem culpa com o passado. Foi ele quem te trouxe, ele segue existindo em você.
Você boicota seu presente para que ele não seja tão bom como seu passado. Porque Deus te livre de ter mais um momento muito bom e ter que seguir vivendo com saudade de que passou.
Mas se você olhar pra direção certa, vai perceber que momentos bons não precisam ser raros porque quem olha pra frente constrói o extraordinário todo dia e vive não pensando no que passou, mas como vai ser melhor amanhã.
Para de viver o próprio luto.
Para de morrer de saudade de si mesmo.
Quem foi que te convenceu da sua morte?
Você tá vivo, só falta viver.
E confia em mim.
Viver não dói, você só precisa aprender a dançar .

⁠Deus criou o processo de gestação para que a humanidade pudesse sentir uma pequena fração do Seu amor ao nascer.
E Deus criou a poesia para o que homem, enfim, consiga expressar sua gratidão por aquela que o gerou.
Mas apenas aqueles que tiveram mãe foram escolhidos para sentir este cuidado.

E para a alma que me gestou em suas entranhas,
Eu ofereço minha poesia
Que não gerei, mas foi em mim gerada
Como forma de expressão da vida.

Mãe,
Eu viro poesia pra te tocar.
Eu viro alma pra entrar.
Eu viro graça pra sorrir.
Eu viro Luiza pra voar.
Eu viro filha pra amar.
Eu viro mulher pra te olhar.
Eu viro Alice pra curar.
Deus me deu pra você me criar.
E você me criou.
Somos então provas vivas de um Amor Maior.

⁠Toc toc toc
— Quem é?
— A soberba.
— Mas uma hora dessas nem cabe.
— É que eu vim com o Medo. E deixa a porta aberta que a Queda já anuncia sua chegada.

⁠Eu te vejo.
Eu escuto seus gritos através do seu olhar.
Por trás das suas palavras tão confiantes, beirando a arrogância,
Eu sinto o cheiro do medo que você exala.
Ouço você latir até quando o território não é seu.
Eu sei que, no fundo, você quer alguém que te ame ao ponto de te abraçar enquanto você morde seu braço.
E, apesar de saber que suas mordidas não me atingem mais,
Eu não quero te abraçar.
Eu não quero acolher sua dor,
Eu quero acolher você!

E, as vezes, acolher alguém
É ter coragem o bastante para lhe dizer a verdade.
Mesmo que doa.

Quantas vezes você vai desejar uma novidade na sua vida
Mas se fechar para qualquer porta que se abra?
Quantas vezes você vai reagir com arrogância à uma ideia boa
Só porque não foi você quem a teve?
O mundo te chama pra coisas incríveis,
Mas você segue com medo de não ser o melhor.
Mas é o medo que você tem em ser pequeno
Que tanto te diminui.
Porque você pode contribuir com uma boa ideia
Tornando ela ainda mais incrível.
Ou você pode teimar para manter sua velha visão de tudo
Só para não dar o braço a torcer.

Você se perdeu quando ficou com tanto medo
De não ser suficientemente bom,
Que parou de se esforçar para ser melhor.
Seu esforço é para que os outros pareçam piores.
Mas você não sai do lugar assim.
Pode até conseguir atrasar o progresso de alguém,
Mas você também não progrediu.
Você continua parado, no mesmo lugar,
Torcendo para que as pessoas não vejam o quão pequeno se tornou.

Afinal, até quando você vai conseguir ficar parado?
Até quando vai se sabotar só para manter um orgulho estúpido
Que só te leva pro fundo do poço?
Até quando vai falar pros outros o que você mesmo precisa ouvir?

O Universo continua tendo fé em você
Por isso continua te enviando oportunidades.
Você é o único que permanece apostando contra.
E esta aposta no seu fracasso é a única coisa que você acerta na vida.

Toc toc toc
— Quem é?
— A soberba.
— Mas uma hora dessas nem cabe.
— É que eu vim com o Medo. E deixa a porta aberta que a Queda já anuncia sua chegada.


Colega de Quarto

Era noite de terça-feira mas, para ela, os dias apenas passavam de forma consecutiva. Ela estava terminando de jantar algo que escolhera de forma bem consciente:
— Algo com valor desnutritivo que não me mantenha viva por muitas sequências de semanas.
A luz acabou.
Silêncio.
A TV desligou e interrompeu alguma coisa que ela estava olhando sem ver.
— Preciso me distrair de algum outro jeito.
Meio derretida pelo sofá, ela olhou em volta. Encarou aquela casa que parecia meticulosamente comprometida com o medíocre. Não que isso a incomodasse.
— Casa é só pra passar a noite.
Passou alguns minutos completamente inerte encarando a TV desligada até perceber na tela o reflexo de algo que deixava uma fresta de luz passar.
Ela não se lembrava mais que tinha uma janela naquela casa mas ao menos tinha conseguido esquecer da existência daquela cortininha terrível.
— Odeio essa cortininha terrível da antiga moradora.
Passou mais alguns minutos completamente inerte encarando a TV desligada, colocando numa balança imaginária o gasto energético para ir até a janela contra o peso do tédio que sentia.
Resolveu que valia a pena ir mas ainda tinha dúvidas.
Pesou as coisas em sua balança ainda mais duas ou três vezes e resolveu que valia a pena ir mas, ainda assim, hesitou.
Estava cansada.
— Estou cansada.
Ficou mais um tempo ali parada. Nem para respirar se mexia muito.
— Pequenos goles de fôlego já bastam para sobreviver.
Foi preciso a ameaça de uma reflexão vir à mente para ela, enfim, se levantar.
Ficou de pé e foi. Sentiu até orgulho de si.
— Quanta aventura para uma noite.
Com algum tipo de cuidado, puxou uma cordinha velha que fez subir a tal cortina encardida que estranhamente, era menor do que a janela.
Agora ela tinha acesso às duas folhas de vidro completamente embaçadas e que, ao invés de deslizarem suavemente iam quicando pelo trilho, fazendo um som alto e triste ao mesmo tempo.
— Parece o choro reprimido de uma dor profunda.
A janela, que nunca fora aberta por ela, parecia estar emocionalmente agarrada à sua própria moldura e disposta à frustrar qualquer esforço para abri-la ou fechá-la.
Ela pensou em desistir várias vezes mas já tinha aberto uma brecha.
— Vai dar mais trabalho fechar do que abrir.
Arrependida e, à esta altura, já com uma certa raiva, deu um forte solavanco que escancarou a janela.
Sentiu um vento frio entrar, desses que parece de alma penada.
Mas antes que a raiva a fizesse amaldiçoar a ideia, ela olhou.
Não só olhou, ela viu.
Uma imensidão de céu exageradamente estrelado, iluminado por uma lua que parecia estar se exibindo num tapete vermelho. Chegava a ser cafona de tão bela.
— Como pode o céu existir a tantas milhares de semanas e nunca estar cansado? Como pode ter tanta vida em algo rotineiro?
Foi exatamente ali que algo mudou dentro dela.
E enquanto seu cérebro finalmente voltava a fazer conexões neurais ao som de uma agitada sinfonia de Beethoven, sentiu um vulto passando por ela e percorrendo aquela casa toda apagada, iluminada só pela lua.
Ela viu a sombra se movendo, mas sabia que não havia mais ninguém.
Ela sorriu bem baixinho e voltou a olhar o céu.
Ela entendeu que a luz tinha voltado e finalmente o passado tinha ido morar em outro lugar cujo céu não iluminasse.

⁠Quantas vezes você vai desejar uma novidade na sua vida
Mas se fechar para qualquer porta que universo te abra?
Quantas vezes você vai reagir com arrogância à uma ideia boa
Só porque não foi você quem a teve?
O mundo te chama pra coisas incríveis,
Mas você segue com medo de não ser o melhor.
Mas é o medo que você tem em ser pequeno
Que te diminui.
Porque você pode contribuir com uma boa ideia
Tornando ela ainda mais incrível.
Ou você pode teimar para manter sua velha visão de tudo
Só para não dar o braço a torcer.

Afinal, até quando você vai conseguir ficar parado rosnando?
Até quando vai se sabotar só para manter um orgulho estúpido
Que te leva pro fundo do poço?
Até quando vai falar pros outros o que você mesmo precisa ouvir?

O universo continua tendo fé em você
Por isso continua te enviando oportunidades.
Você é o único que permanece apostando contra.

Toc toc toc
— Quem é?
— A soberba.
— Mas uma hora dessas nem cabe.
— É que eu vim com o Medo.... e deixa a porta aberta que a Queda também já deve estar chegando.

⁠ Quebra-cabeça

Eu sempre tentei me encaixar.
Desde quando me entendo por gente
tenho lembrança de tentar parecer igual.
E sempre que parecia que eu tinha achado um lugar,
percebia que eu estava só fingindo.
Fingi ser, fingi gostar, fingi calar, fingi pertencer.
E rebolando aqui e ali,
fui dando meu jeito de ir indo.
E fui indo até não ir mais.

O cansaço de fingir encaixe foi dificultando as coisas
e o desencaixe foi me machucando.
Eu não cabia naquele molde,
eu já não respirava direito,
as quinas dos outros me causavam ferimentos profundos.
Na minha cabeça as pessoas não faziam o menor sentido,
e sei que elas não achavam sentido na minha cabeça.
Ninguém sabia da minha dor,
parecia que eu estava ali, encaixadinha.
Mas eu estava ali, sangrando.


Tentei pintar mas minhas cores simplesmente
não combinavam.
Tentei o teatro mas as falas eram dos personagens,
não minhas.
Tentei ignorar mas a vida de quem se ignora
parece morte.
Eu tentei de tudo até concluir que
o mundo não era pra mim.
Me retirei.

Voltei pra casa e me tranquei
tentando um jeito de melhor de me encaixar.
Fechei as janelas e as cortinas,
não queria nem que a luz do lado de fora entrasse.
Me enfiei debaixo da cama
mas eu não estava lá.
Me acolhi, me mimei, fiz o que pude,
mas não me achei.
Queria tanto me achar que cheguei a tentar me perder.
Baguncei a casa toda,
troquei tudo de lugar,
joguei muita coisa fora,
adquiri coisas novas,
decorei,
redecorei...
Nada!
Parecia que em mim só tinha um silêncio.
Mas não silêncio de paz e de pausa,
silêncio que grita,
como quem engoliu as palavras
e ficou entalado.
Desesperada,
procurei cura mas só achei feridas,
procurei coragem mas só vi medo.
Procurei Deus mas não vi o propósito.

Aí desisti de tentar, de procurar, de me encaixar.
E pela primeira vez,
fui só eu.
Eu sendo eu.

E tive o privilégio de me conhecer
porque eu finalmente me achei em mim.
E eu achei sentido,
em mim e nos outros,
por dentro e por fora.
Entendi que a resposta estava na pergunta
e só chega na resposta
quem teve ousadia de perguntar.
Só tem cura quem acha suas feridas.
Só tem coragem quem acha seus medos.
Só acha propósito, quem procurou à Deus.

Abri as janelas e as cortinas,
a luz agora pode entrar.
Minha casa pode ser iluminada
porque eu estou aqui morando,
não mais me escondendo.
Meu silêncio virou expressão,
virou escrita,
virou prosa e poesia.

Me conhecer não mudou quem eu realmente era,
pelo contrário, fortaleceu minhas diferenças.
Sigo uma peça sem encaixe,
mas depois de tanto quebrar a cabeça,
vejo que a vida não é sobre se encaixar,
não é sobre caber,
não é sobre ser mais uma peça.
A vida é sobre se conectar,
é sobre crescer,
é sobre ser único.

Assim como você.

⁠Casa

As vezes você passa por momentos
que quer sair de casa mas hesita...
A luz incomoda, os barulhos pertubam,
os cheiros confundem
e as pessoas existem.
Nessas horas tá tudo bem você dar meia volta,
e voltar.
Voltar pro escurinho do seu canto,
onde tudo é seguro
e você pode finalmente conversar com seu silêncio,
sentir seu cheiro ao se abraçar.
Volta pra sua casa, criança,
coloca a música que mais gosta,
dança na sala descalça.
Rodopeia, vai.
Gasta um tempo lembrando quem você é.
Passeia devagar nos teus cômodos.
Limpa. Arruma. Habita.
Leva o tempo que precisar,
porque mais importante que sair
é saber onde se quer chegar.

Mas meu bem, tenha em mente uma coisa,
por mais confortável que sua casa seja,
e por mais assustador que o mundo esteja,
um só existe por causa do outro,
e o outro existe só por causa do um.
Decidir morar e não mais sair
fará da sua casa
o seu mundo.
E aí, minha lagarta,
você perderá toda a beleza que há no mundo,
e, não bastando, perderá também
o lugar aonde você volta
quando seu mundo não te convém.
Ficar em casa é confortável e seguro,
mas não te leva a lugar nenhum.

Fica, mas não se demora.
Vai, mas não esquece de onde mora.

Ps. não se afoba,quando você se acha, você voa.

Mãe,

Um dia você me disse que houve o tempo
Que você não sabia lidar comigo.
E que, sendo eu tão diferente de você,
Me podou o quanto pôde.

Hoje eu sei que fui aprisionada
Pela sua atenciosa proteção: o medo.
Nós não somos diferentes,
Somos partes uma da outra,
E somos parte do Inteiro.
Escrevo palavras para me libertar,
Para curar o que, tanto de mim quanto de você,
Um dia foi arrancado.
E você, ao ler, acredita
Que minhas palavras parecem sair de seus dedos.
E eu te respondo:
E será que não são?
Ser responsável pelo bem se chama orgulho,
E pelo mal, se chama culpa.
Se eu falho, você se sente responsável
Se eu venço, não é justo se sentir também?
Porque é que na balança das mães,
Vocês precisam sempre perder?
Se eu sou de ti um pedaço,
Eu reflito em mim, você.
Sou sua vitória,
Suas asas,
E isso te obriga a, quando a mim profundamente amares,
Vais amor amor próprio em ti encontrar.
Se você me ama, se ama
Mas se você se culpa, me culpa.

Qual caminho vamos seguir, mãe?
E você amorosamente me responde:
- Voar.

Te amo.

⁠Desilusão

Eu fui silêncio.
Fui também a segurança
Que você se agarrou.
Eu te conheci por inteira,
Ouvi seus pecados mais íntimos.
Te defendi de todo mundo que te rodeava.
Eu fui fiel.
Te ensinei a confiar,
Te fiz ver além do que as pessoas falavam.
Te mostrei o que te escondiam,
O que te enganavam.

Se errei, foi tentando te proteger.
Se te limitei, foi por saber onde eras incapaz.
Se te poupei, foi por não querer te ver humilhada.

Agora que tens outros amigos,
Me questiona.
Ouve outras Vozes, acredita em outras Coisas.
Antes, era só eu e você
Contra o mundo.
Agora você duvida de mim,
E se junta à eles.

E você sabe como me superar,
Aprendeu meus pontos fracos e,
Finalmente, pode me ver derrotado.
Você aprendeu a me enfrentar.
Ou será que aprendeu a se enfrentar?
Eu sou o medo
Sendo quebrado pela alma,
Sumindo pouco a pouco,
Te entregando, enfim, à sua verdadeira essência.

Voa.

⁠Como vai você?

Eu?
Eu estou.
Me perdendo e me achando.
Mas estou.
Sobrevivendo e resistindo.
...
Talvez este seja o problema:
Resistir.
Melhor seria eu me render.
...
Hein?
Quando foi que nos ensinaram a resistir?
Você lembra?
Quando que entendemos isso como uma qualidade?
...
"Seja resistente na vida" diz o resto do mundo.
Mas, por definição, resistência
'refere-se à capacidade de oposição à algo, de ser firme, de suportar as dificuldades e,'
Atenção:
'refere-se à recusa em ceder'.
...
Que lição estranha recebemos.
Pois ter a 'qualidade' de ser resistente na vida
Significa ter a capacidade de ser oposição à ela,
De não deixar que ela nos atinja.
De não deixar que ela nos toque.
...
Eu não quero ser firme.
Eu quero ser fluida.
Quero que, ao ser tocada pela vida,
Eu me molde.
Quero ser senhor das formas,
Não escrava delas.
...
Já as dificuldades não servem para serem suportadas.
Servem para serem superadas.
Suportar é passar por elas e sair ilesa.
Superar é passar por elas até sair mais forte.
Suportar é aguentar.
Superar é vencer.
...
E a recusa em ceder, da última parte?
Deus me livre não ceder.
Deus me livre ficar lutando com o coração endurecido,
E não me render ao aprendizado,
Ao crescimento.
...
A vida não foi feita para ser resistida.
Ela foi feita para ser experimentada, experienciada.
Não gaste vida sendo resistência ao que te toca.
Quem resiste, sobrevive.
Quem se rende, flui no voo da vida.
E se resistência é ser oposição à vida,
Resistência, na verdade, é morte.

Posso ser Poeta
Ou o Poema em si,
A diferença está mais nos meios
Do que nos fins.
Sou Alma presente,
Chamada poesia,
Sou do poeta, o dente
E do poema, melancolia.

Alice Hott⁠

⁠A vida é sobre refletir.
E refletir é sobre se ver.
Sobre olhar seu reflexo e refletir de volta refletindo sobre sua reflexão.
Quem largar esse ciclo primeiro, morre.
E morte em vida é a pior que há, mas o morto não sabe disso.

Ele não reflete.

Porque não somos números
E também não somos o resultado.
Resultado é o valor final,
Calculado quando a equação já morreu.

Enquanto vivos, somos equação.

Somos o processo.

Um tributo à Terapia
(Em homenagem à todos os meus preciosos traumas )

Não é difícil explicar o que somos.
Podemos nos entender tão exatamente como a matemática fundamental,
Talvez, um tanto menos racional.
Nós podemos nos ver como números.

Sim, números: algarismos primitivos da matemática.
E variados, cada indivíduo com seu número e valor.
Mas somos dinâmicos, não nascemos e morremos sendo o mesmo número.
E é aqui que a sociedade se perde.

Para aumentar seu número, algumas pessoas tentam comprar valores,
Maquiar seus sinais, mudar seus zeros de lugar,
Andar com suas vírgulas ou, nos casos mais desesperados,
Tentam te convencer que aquele ‘menos’ é ‘mais’.
Isso tudo é uma grande ilusão.

Não podemos mudar quem somos deste jeito.
Faz isso quem não se conhece, ou seja, quem não sabe se contar.
Quem aprende a contar, descobre que, apesar de vermos números,
Nós não somos os números.
Por trás do que vemos, cada um de nós, na verdade, é uma equação.
Os números são os fatos da vida.

Números em definição, são entidades matemáticas, ou seja, estão fora de nosso controle.
Não podemos escolher os números que a vida vai nos apresentar.
Eles aparecem e ponto.

Negativos, positivos, altos e baixos.
Vivemos numa tentativa válida (e saudável) de evitar alguns números,
Mas sabemos que, de forma geral, não podemos controlá-los.

Sim, somos vulneráveis AOS números.
Pois é importante lembrá-lo: nós não somos números,
Nós somos equações.
E, equações que somos, nosso controle está na livre escolha sobre a operação.
Podemos dividir, subtrair, somar ou multiplicar os números que a vida nos dá.
É aí que está o poder.

E aprender a contar inclui, além de saber fazer as operações
Ser apto a fazer a melhor escolha para sua equação,
Afinal, um parêntese no lugar certo pode ser salvar seu resultado.

Porque além de números também não somos o resultado.
Resultado é o valor final, calculado quando a equação já morreu.
Enquanto vivos, somos equação.
Somos o processo.

Somos uma conta inacabada de números que ainda nos estão sendo dados.
Se fôssemos palavras, seríamos verbos sendo conjugados no gerúndio,
Mas em matemática, conjugamos o valor assumindo ser o que ainda não se é.
Porque somos um “X”, indefinido e variável, calculado em função {do que nos acontece}.
Não existe conta certa ou errada porque, de novo, nós não somos resultados.
O número que vemos é apenas uma parcial da equação que somos.
Não nos define em nada.
Pelo menos não deveria.
É ilusório.
A conta ainda não foi concluída.

Não importa o número que alguém apresente hoje,
Se amanhã a vida lhe der um zero é possível esperar que nada mude
Ou que isso simplesmente zere toda sua equação.
Um enorme zero.
Mas, momentâneo.
Porque a conta ainda está sendo feita.
E, nós não somos resultados, lembra? Somos a conta.

Até porquê, números, por si só, não representam nada.
São algarismos.
É preciso um contexto para interpretá-los.
Um 10 pode ser bom, sendo a nota com máximo de 10,
Mas pode ser 1 desastre sendo o máximo de 100.
Sem contexto, não podemos saber o real valor dos números.
Nem o dos nossos, nem os dos outros.

Porque o valor dos números está na conta.
E só saberemos nosso valor real, nosso número final,
Quando interpretarem nossa equação.
Sendo assim = aprenda a (se) contar.

Alice Hott